Revista Exame

A época de ouro do emprego no Brasil parece ter acabado

A época de ouro do emprego no Brasil parece ter chegado ao fim. O país gerou apenas 150 000 postos em 2014, o pior número em 12 anos


	 Retrato do passado: a presidente Dilma Rousseff não pode mais contar com a força da geração de empregos
 (Roberto Stuckert Filho/ PR/Fotos Públicas)

Retrato do passado: a presidente Dilma Rousseff não pode mais contar com a força da geração de empregos (Roberto Stuckert Filho/ PR/Fotos Públicas)

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Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2015 às 14h24.

São Paulo — Na memória dos brasileiros, a última década ficará marcada como uma era auspiciosa. Por anos seguidos, houve uma oferta de emprego crescente, de tal modo que muita gente transpôs a divisa do trabalho ilegal para o com carteira assinada. Os aumentos de salário se sucediam quase vertiginosamente.

A economia do país foi capaz de produzir um acréscimo de 13,4 milhões de vagas formais em dez anos; a taxa de desocupação ficou abaixo de 5% nas maiores regiões metropolitanas. O país flertava com o pleno emprego e chegou a um ponto em que a falta de profissionais parecia colocar em risco a expansão dos negócios.

Se ainda restasse alguma dúvida de quanto andamos para trás, ela desapareceu no dia 23 de janeiro. A divulgação do dado oficial de emprego mostrou que essa fase de ouro do mercado de trabalho ficou para trás, coerentemente com a arrastada situação da economia como um todo. De acordo com o Ministério do Trabalho, o ano de 2014 terminou com um saldo de cerca de 150 000 postos formais criados.

É o pior resultado registrado desde 2002. Esse número está bem abaixo do contingente de 800 000 jovens que engrossam o mercado de trabalho todo ano — em 2013, a economia brasileira havia acrescentado 730 000 postos. A expectativa para 2015, dadas as estimativas de uma recessão econômica, é de que a geração caia ainda mais — podendo até ficar no vermelho.

As notícias mais recentes sustentam o mau augúrio. Para ficar em um só setor, empresas como Volkswagen, Mercedes-Benz e Volvo estão dispensando funcionários e criando programas de demissão voluntária. A crise nas montadoras já resultou no corte de 19 000 empregos nas fabricantes de autopeças. Demissões dessa magnitude não ocorriam desde o fim dos anos 90.

A invertida no mercado de trabalho derruba o último baluarte da presidente Dilma Rousseff em defesa de seu governo: o argumento de que a economia brasileira até podia ter um desempenho medíocre, mas a geração de empregos protegia o país da “crise internacional”. E ainda estaria cumprindo a missão de tirar milhões de pessoas da pobreza e alçá-las à classe média.

Bem, infelizmente, não é mais assim — como mostramos na reportagem seguinte, na página 28, quase 32 milhões de brasileiros da classe média baixa estão hoje sob risco de retroceder à pobreza. Intrigava o fato de que, enquanto a atividade econômica emitia sinais de inanição, o desemprego se mantinha em queda. Mas esse fenômeno começa a ser mais bem compreendido.

O baixo índice de desem­prego esconde uma realidade distorcida. Nos últimos anos, muitas pessoas no país desistiram de garimpar trabalho. Se tivessem continuado à procura de ocupação, estima-se que a taxa de desemprego seria de 8% — algo bem distante do pleno emprego. As razões para o desinteresse pelo emprego são várias. Há aqueles que, elegíveis aos programas sociais, preferem viver de benefícios.

Mas há também uma turma que nota que suas habilidades não estão à altura da demanda dos empregadores. É aí que o que parece ser uma circunstância do país se conecta a um dos grandes debates globais da atualidade. O enfraquecimento do mercado de trabalho no Brasil ocorre num momento de profunda reflexão sobre a perspectiva do emprego no mundo.

Mais de 200 milhões de pessoas estão sem trabalho no momento. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, esse é o maior contingente de desempregados da história, e não há sinal de que o número diminuirá. O diagnóstico, no curto prazo, é que as economias não conseguem gerar empregos suficientes para a expansão da força de trabalho.

No médio prazo, economistas advertem que um componente poderá agravar a situação: a tecnologia. “O avanço tecnológico começa a transformar a situação medíocre do mercado de trabalho brasileiro em algo pior”, diz o economista José Márcio Camargo, da gestora de investimentos Opus. 

Se é verdade que o processo de digitalização tornou a vida muito mais dinâmica e produtiva, também é certo que a invasão de computadores, softwares e da internet nas empresas causou a destruição de muitos empregos. Nos anos 80, o setor bancário no Brasil empregava cerca de 800 000 pessoas.

Quase três décadas depois, o caixa eletrônico, o internet banking, os aplicativos de celulares e os softwares de gestão reduziram esse contingente à metade — isso tudo num período de forte expansão dos bancos. Variações dessa mesma história se repetiram nos principais setores econômicos não só do Brasil como de todos os países, sejam eles ricos ou emergentes.

Ganhos de produtividade funcionam como a mola propulsora de qualquer economia e, por isso mesmo, são sempre bem-vindos. Mas é justo perguntar sobre o que vem pela frente — e como seu trabalho e o de seus filhos poderão ser afetados pelos desdobramentos da revolução digital da qual somos, ao mesmo tempo, testemunhas e protagonistas.

Vitória dos robôs?

Pode parecer paradoxal — e é mesmo —, mas a melhor receita para tentar entender o futuro é olhar para trás. Nos séculos 19 e 20, ambos pródigos em avanços tecnológicos, o que se viu foi a introdução de novos instrumentos e máquinas no setor agrícola — o que até então mais empregava —, a absorção de mão de obra pela indústria e, à medida que as fábricas foram sendo automatizadas, uma gigantesca migração de trabalhadores para o setor de serviços.

Nos Estados Unidos, onde os postos na manufatura representavam cerca de 40% dos empregos nos anos 50, hoje equivalem a menos de 5%. “A tecnologia causou choques iniciais, mas, no longo prazo, o mercado de trabalho acabou sempre encontrando um ponto de equilíbrio”, diz Frank Levy, professor de economia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

O que agora coloca esse padrão em dúvida é o fato de a automação da economia estar ganhando uma força nunca vista no setor de serviços. A varejista online americana Amazon, empresa que representa bem a nova economia digital, já usa um exército de robôs, batizados de Kiva, para a coleta de produtos em seus armazéns.

Os robôs, que mais se parecem com uma enceradeira, são guiados por algoritmos até as estantes onde os produtos ficam estocados, acoplam-se embaixo delas e as levam para uma equipe de funcionários que finalizam as encomendas. Se até as vagas do setor de serviços estão em perigo, para onde poderão correr os trabalhadores que forem expelidos pela digitalização da economia?

Será que desta vez a história será diferente e o avanço tecnológico vai resultar em ­desemprego em massa? Das tarefas mais simples às mais complexas, há inúmeras pesquisas que estão tentando automatizar o trabalho humano. No começo de agosto, o hotel Aloft, na cidade de Cupertino, na Califórnia, onde fica a sede da Apple, começou a testar uma espécie de robô entregador, o Botlr.

A máquina, com pouco mais de 1 metro de altura e no estilo do robô R2-D2 dos filmes da série Guerra nas Estrelas, entrega toalhas, tubos de pasta de dentes e refeições nos 150 quartos do hotel. Equipado com câmeras e sensores, o robozinho se comunica com o elevador, fica fora do caminho dos hóspedes e retorna sozinho para o lobby do hotel, onde se conecta ao carregador de bateria.

Em julho, a montadora Daimler apresentou na Alemanha um protótipo de caminhão autônomo que poderá ser lançado comercialmente em 2025. O plano é que seja guiado da mesma forma que um avião. Um piloto automático dará conta do recado em boa parte da viagem. Na Califórnia, a empresa de tecnologia Peloton está testando caminhões automatizados para comboios.

Somente o primeiro caminhão continuaria a ser dirigido por um motorista. Os demais replicariam o comportamento do veículo que vai na frente: se o primeiro caminhão freia, os outros respondem em centésimos de segundo. “Nenhuma pessoa consegue ser tão rápida”, diz Josh Switkes, presidente da Peloton.

Nos Estados Unidos, há quase 3 milhões de caminhoneiros, uma das poucas profissões que envolvem força e habilidade manual que ainda pagam bem — o salário varia de 65 000 a 100 000 dólares anuais. Embora possam parecer futuristas, essas pesquisas são apenas a ponta de lança de um fenômeno que passou a ser corriqueiro no mundo do trabalho. São inovações que fazem profissões virar software.

No início dos anos 80, a função de analista de organização e métodos, conhecida como OEM, estava entre as mais requisitadas no Brasil. Eram profissionais especializados em criar formulários, fichas e roteiros para organizar o fluxo de trabalho. Hoje, se alguém ainda conhecer um OEM em atividade, é melhor não contar a ninguém, porque vai pegar mal para a empresa e para o profissional.

Em São Paulo, a multinacional americana GE estuda a adoção de um aplicativo que deve mudar radicalmente a forma como a empresa vende seus produtos e serviços. Um software fará na hora o orçamento que as equipes de projetos levam, às vezes, semanas para finalizar.

“Devemos multiplicar por 10 nossa capacidade de atender clientes e de fazer projetos com a nova ferramenta”, diz João Lencioni, vice-presidente de tecnologia da GE na América Latina. A companhia deverá adotar a ferramenta em várias unidades industriais ao longo de 2015 (no Brasil, a GE atua em iluminação, transporte, energia, petróleo e gás, aviação e equipamentos médicos).

Boa parte do time de técnicos de nível médio que hoje dão suporte à equipe comercial deverá ser realocada para novas posições na empresa, mas quem não se encaixar em outro posto deve ser dispensado.

O risco de se tornar obsoleto

O que pode acontecer com alguns funcionários da GE tem sido observado por economistas e especialistas em tecnologia em escala global. Eles tentam dimensionar o risco de uma função se tornar obsoleta.

Um estudo da Universidade de Oxford calculou no ano passado que, nos Estados Unidos, das 700 ocupações listadas no mercado de trabalho atualmente, quase metade corre grande risco de ser extinta nas próximas décadas em decorrência do poder da computação. Funções como contador, caixa de supermercado e uma série de atividades que são realizadas dentro dos escritórios parecem fadadas a desaparecer.

Na Europa, o instituto de pesquisas Bruegel, com sede em Bruxelas, na Bélgica, usou a mesma metodologia e contabilizou que o risco europeu é semelhante, mas em países como Itália e Romênia ele beira os 60%.

Em dezembro, o governo australiano divulgou um relatório com a estimativa de que 500 000 empregos no setor de serviços podem ser eliminados pelo avanço de robôs e de softwares inteligentes — o que equivaleria a sumir com 5% dos postos de trabalho no país. É a primeira vez que um país faz esse tipo de mensuração. “Essa não é uma visão futurista.

Os recentes desenvolvimentos tecnológicos deverão promover a automação de inúmeras funções em uma ou duas décadas”, diz Carl Benedict Frey, professor de economia da Universidade de Oxford e autor do estudo que mediu o impacto no mercado americano. No Brasil, os riscos não são muito diferentes.

Ainda que haja uma defasagem tecnológica em muitos segmentos da economia brasileira em comparação com competidores internacionais, cedo ou tarde essas novas ferramentas vão aportar por aqui. Se a automação no setor de serviços que é imaginada no exterior ocorrer com a mesma intensidade no Brasil, o estrago será grande.

Tomem-se como exemplo funções como secretária, assistente administrativo, contador e operador de telemarketing. Juntas, essas atividades empregam hoje quase 3 milhões de pessoas no Brasil. Lá fora, são essas ocupações as que mais estão à mercê do avanço das máquinas.

O mesmo Brasil que pode trocar secretárias por softwares ainda convive com situações que, com o auxílio da tecnologia, felizmente já foram extintas em outros lugares há décadas. No país, a função do cortador de cana vive seus últimos anos. O trabalho extenuante na colheita vem sendo substituído por máquinas que custam 800 000 reais. Cada colheitadeira faz o trabalho de 100 cortadores.

No estado de São Paulo, a adoção da tecnologia serve a um propósito ambiental. Em 2007, foi assinado um protocolo entre o setor sucroalcooleiro e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente que estabeleceu a meta de extinguir, em 2014, a queima da cana antes da colheita, prática que facilita o trabalho de corte, mas gera grande emissão de poluentes.

Com isso, ficou decretado que 180 000 cortadores perderiam o emprego. Desde então, as usinas paulistas vêm se preparando. A usina São Manoel comprou 20 colheitadeiras para substituir o trabalho de 2 400 cortadores. Parte desses trabalhadores foi treinada para exercer novas funções na usina. É o caso de Cícero Antonio dos Santos, de 34 anos. Filho de cortadores de cana, Santos trabalha no corte desde os 14.

De 2010 para cá, trocou o facão por ferramentas na oficina de manutenção das máquinas agrícolas da usina. “Agora ganho o dobro do que ganhava na lavoura.” Para ele, foi uma mudança com desfecho feliz.

Mas há lugar para todos se recolocarem? Especialmente em uma economia que fraqueja, essa é uma pergunta cuja resposta tende a ser negativa. E aí a evolução tecnológica, pelo menos no curto prazo, pode assumir um papel perverso.

É pior para quem está no meio

Quem perde ou troca de emprego por causa de uma nova tecnologia no setor de serviços ou no industrial amplia um fenômeno que vem ocorrendo em escala global: a polarização do mundo do trabalho. A remuneração e o número de vagas crescem num ritmo maior nos dois extremos do mercado laboral.

No topo, onde estão as funções que envolvem criatividade e capacidade de solucionar problemas, como engenheiro e cientista, as máquinas e os softwares não são capazes de competir. Na outra ponta, onde estão os trabalhadores manuais sem qualificação nenhuma, como os faxineiros, também não há ameaça imediata de automação.

Nesse caso, não porque a tecnologia seja incapaz de produzir alternativas, mas simplesmente por não valer a pena do ponto de vista econômico. Entre esses dois extremos, estão as profissões que mais têm sofrido com o avanço da tecnologia. São ocupações que costumam exigir formação apenas razoável, geralmente o ensino médio, e empregam a classe média baixa.

“Quem estava em atividades repetitivas na indústria e no setor de serviços acabou sendo mais afetado”, diz David Dorn, professor de economia na Universidade de Zurique e especialista em impacto tecnológico. Nos Estados Unidos, esse fenômeno é visível nas áreas administrativas das empresas. Nos últimos 13 anos, esse segmento perdeu 2 milhões de vagas.

Milhares de recepcionistas, telefonistas, arquivistas e analistas de contabilidade foram demitidos. No mesmo período, os empregos no setor de computação e matemática — que embalam a economia digital — cresceram quase 30%. No Reino Unido, a participação no mercado de trabalho dos que têm rendimento intermediário caiu 11% no período de 1993 a 2010.

Também foi registrada queda na Espanha, na Itália, na França e na Alemanha. Mesmo no Brasil, que viveu até recentemente um ciclo de pleno emprego, esse fenômeno é percebido. Enquanto os salários de analfabetos aumentaram mais de 70% e os de quem têm pós-graduação avançaram 30% de 1992 a 2013, os trabalhadores com ensino médio registraram perda salarial de 10%.

Essa turma do meio ocupa quase metade das vagas do mercado nacional — ante 18% dos que têm ensino superior. Essa polarização do mercado de trabalho evidencia uma fragilidade das estatísticas de desemprego, as quais nem sempre contam toda a história do que se passa na economia.

Muitas pessoas que perdem o emprego para a tecnologia acabam encontrando trabalho em funções com remuneração e status mais baixos. Outras simplesmente param de procurar uma vaga, algo que, como dissemos, vem ocorrendo com mais força no Brasil nos últimos meses.

Passam, então, a depender de programas sociais e desaparecem da estatística de desemprego — o índice de ocupação leva em conta somente quem diz estar em busca de trabalho. Esses “ex-trabalhadores” engrossam um fenômeno conhecido como desemprego estrutural, uma questão comum nos países ricos e que piorou com a crise de 2008, mas que já vinha crescendo nas últimas décadas.

Como se trata de algo intimamente ligado à capacitação das pessoas, o problema não irá embora mesmo com a eventual melhora da economia mundial. Recentemente, o economista Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, chamou a atenção para o fato de que, nos anos 50 e 60, um em cada 20 homens americanos de 25 a 54 anos não estava trabalhando.

Na próxima década, espera-se que um em cada seis americanos nessa faixa etária esteja fora do mercado. “Uma das causas desse desemprego de longo prazo em muitos países é a tecnologia.

As inovações têm avançado de forma mais rápida do que a capacidade de nossas economias se ajustarem”, diz o economista Ek­kehard Ernst, responsável pela área de tendências de emprego da Organização Internacional do Trabalho.

Como ser insubstituível

A preocupação dos governos das principais economias com essa questão ficou clara em agosto passado, no encontro anual de presidentes de bancos centrais em Jackson Hole, nos Estados Unidos. O tema central da conferência foi justamente a nova dinâmica do mercado de trabalho.

De todos os especialistas que apresentaram suas análises, o mais esperado foi David Autor, professor de economia no MIT e uma das maiores autoridades sobre o impacto da tecnologia no emprego. Autor começou sua palestra condenando a histeria com que alguns especialistas e a própria imprensa tratam a capacidade de as máquinas substituírem os homens.

Sim, a computação, a internet e os softwares permitiram avanços inquestionáveis na reprodução de tarefas repetitivas. Muito mais deverá vir pela frente. Mas devemos sempre lembrar, segundo Autor, que as tentativas de substituir o trabalho cognitivo, aquele que exige raciocínio e julgamento, produziram resultados muito tímidos até agora. E não há nenhuma evidência sugerindo que isso vá mudar tão cedo.

Para explicar como é difícil adestrar as máquinas nessas atividades mais complexas, Autor citou o Paradoxo de Polanyi, formulado pelo pensador húngaro Michael Polanyi, nos anos 60, que pode ser resumido na frase “nós sabemos mais do que conseguimos explicar”. Na palestra, Autor deu o exemplo de uma cadeira, algo que qualquer pessoa tem a capacidade de discernir, independentemente de seu design.

Computadores podem ser programados para identificar uma cadeira em suas múltiplas formas — quatro pernas, três pernas, com ou sem encosto, e por aí vai —, mas correm o perigo de achar que vasos sanitários também fazem parte da mesma categoria.

“Reconhecer um objeto exige fazer uma ponderação quanto a seu uso, e não somente ao que ele se assemelha, uma habilidade que os computadores ainda não possuem”, disse Autor à plateia de banqueiros. Mais do que uma substituição em massa de homens por robôs, Autor aposta numa forte complementariedade entre as habilidades dos seres humanos e a precisão das máquinas.

Até mesmo os badalados algoritmos de reconhecimento facial hoje acertam em apenas 30% dos casos. “Com o tempo, esses algoritmos ficarão melhores, mas a flexibilidade humana continuará a ser uma vantagem”, diz o economista Frank Levy, também do MIT.

Capacidade de se reinventar

Se a tese da complementariedade entre homens e máquinas estiver certa, a experiência atualmente em curso nos estaleiros do grupo coreano Daewoo é uma boa prévia do futuro. Funcionários estão testando exoesqueletos robóticos na construção de navios. Vestindo a armadura high-tech, eles são capazes de levantar peças de 30 quilos sem fazer o menor esforço.

Embora haja opiniões divergentes na formulação de cenários para o mercado de trabalho, em um ponto a maioria dos estudiosos no assunto concorda: os trabalhadores do século 21 terão de ser mais preparados para se tornar insubstituíveis.

Isso vale para quem almeja exercer profissões de alta especialização e também para os trabalhadores manuais de atividades mais arcaicas, como os operários de estaleiros (atividade, diga-se, que enfrenta muitos problemas atualmente no país).

De certa forma, terão de se lembrar do filósofo americano Elbert Hubbard, autor de uma frase que expressa a crença na capacidade do homem de se reinventar: “Uma máquina pode substituir 50 homens comuns. Mas nenhuma máquina substitui um homem extraordinário”. O dilema, especialmente para o Brasil quase parado de hoje: quantos, afinal, podem ser extraordinários?

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