Revista Exame

“A ameaça da falta de energia não existe”, afirma Christof Rühl

Tão longe quanto se possa enxergar, diz o economista-chefe da BP, há fontes de energia suficientes para bancar o desenvolvimento econômico global

Christof Rühl, economista-chefe da BP: “Em 20 anos, 80% do consumo de energia do mundo ainda virá de fontes fósseis”

Christof Rühl, economista-chefe da BP: “Em 20 anos, 80% do consumo de energia do mundo ainda virá de fontes fósseis”

DR

Da Redação

Publicado em 27 de janeiro de 2012 às 05h00.

São Paulo - O brasil parece mesmo abençoado — bem, pelo menos quando o assunto é energia. Quem diz isso, o alemão Christof Rühl, é uma das mais respeitadas autoridades mundiais no tema.

Economista-chefe e vice-presidente da British Petroleum — que em 2010 protagonizou um dos maiores acidentes ambientais da história, no golfo do México —, ele é responsável por uma das principais publicações sobre o setor. Segundo Rühl, a vantagem brasileira em termos de fontes renováveis será cada vez mais importante nas próximas décadas.

1) EXAME - Sua expectativa é que a demanda por energia aumente 40% em 20 anos. O crescimento econômico mundial pode ser ameaçado pela falta dela? 

Christof Rühl - Não é a primeira vez que partes do mundo se industrializam rapidamente. Nesse trajeto, os países se movem da agricultura para a indústria, que exige mais energia, e depois para o setor de serviços, que consome menos. Não faltarão recursos para suprir a demanda, embora a exploração possa ser dificultada por razões políticas e climáticas.

2) EXAME - E o Brasil, corre riscos?

Christof Rühl - Ao contrário. É difícil pensar em outro lugar tão abençoado em recursos naturais. O perfil energético do Brasil é diferente de qualquer grande país em desenvolvimento. Uma enorme porção de sua geração de eletricidade vem de usinas hidrelétricas. É o único país onde os biocombustíveis são baratos e economicamente competitivos. E sobre o petróleo do pré-sal, bem, nem preciso comentar.

3) EXAME - Mas o Brasil saberá aproveitar esse potencial?

Christof Rühl - O Brasil não está apenas bem servido de recursos a ponto de não enfrentar qualquer problema para sustentar seu desenvolvimento econômico. Também é capaz de fazer isso de forma muito mais limpa que os outros. Quanto mais a mudança climática se torna uma preocupação global, mais essa vantagem se traduzirá em vantagens comerciais.

4) EXAME - Que fontes serão as mais importantes no mundo?

Christof Rühl - Entre os combustíveis fósseis, o consumo de gás natural crescerá mais, e o de petróleo, menos. Mas o uso de energia renovável, que abrange desde a eólica até os biocombustíveis, é o que mais vai aumentar. Ainda assim, em 20 anos, viveremos em um mundo que 80% do consumo global de energia virá dos combustíveis fósseis e só 20% dos não fósseis.

5) EXAME - De que países se espera maior demanda? 

Christof Rühl - Quase todo o crescimento virá das economias emergentes, como Índia, Rússia, Brasil e a China em especial. 

6) EXAME - Das grandes economias, a China será a mais vulnerável em termos de energia no futuro? 

Christof Rühl - Sim. A China até se beneficiará da tendência histórica, que levará a participação do setor industrial na economia a diminuir. Mas as altas taxas de crescimento ainda demandarão muita energia. A necessidade de importação de petróleo deverá atingir 80%, coisa que nunca se viu nem nos Estados Unidos, onde metade do petróleo é importada.

7) EXAME - Quais foram os erros da BP no vazamento de óleo no golfo do México, em 2010? 

Christof Rühl - Há um consenso, pelo que foi investigado até agora, de que aquele foi um acidente de várias partes e várias causas. A reação da BP, de assumir sua parte da responsabilidade imediatamente, é algo de que me orgulho e que deve se tornar um modelo de como lidar com esse tipo de desastre.

Acompanhe tudo sobre:BPEdição 1008EmpresasEmpresas inglesasEntrevistasIndústria do petróleo

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda