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Startup para compartilhar bagagens e ganhar dinheiro cresce no Brasil

Nascido no Vale do Silício, o Grabr se define como uma plataforma de compras e delivery peer to peer, aproveitando malas com espaço de sobra

Aeroporto: segundo o Grabr, produtos obtidos pela startups podem ser até 80% mais baratos (YakobchukOlena/Thinkstock)

Aeroporto: segundo o Grabr, produtos obtidos pela startups podem ser até 80% mais baratos (YakobchukOlena/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 20 de dezembro de 2018 às 06h00.

Última atualização em 20 de dezembro de 2018 às 06h00.

São Paulo - A economia compartilhada já o fez dividir apartamentos, carros e até o limite de seu cartão. Agora, dá para compartilhar o espaço sobrando na sua mala de viagem e ganhar dinheiro com isso.

O aplicativo Grabr, apesar de criado pelos russos Artem Fedyaev e Daria Rebenok, encontrou seu maior mercado em terras brasileiras. A startup possui 800 mil usuários atualmente, sendo que 300 mil são brasileiros em busca de produtos internacionais ou de uma renda extra ao comprar e levar tais itens na bagagem.

Com a promessa de produtos que podem chegar a custar 80% menos, o Grabr cresce 20% ao mês e ensaia sua expansão brasileira para além de São Paulo e Rio de Janeiro. Mais de 1,3 milhão de pedidos foram atendidos pela startup.

Como funciona?

O Grabr foi criado no Vale do Silício, nos Estados Unidos, pelos russos Artem Fedyaev e Daria Rebenok. Os empreendedores sentiam falta de produtos que existiam apenas na Espanha, onde haviam morado por algum tempo.

Inspirados em negócios como Airbnb e Uber, criaram uma plataforma que conecta viajantes com espaço sobrando na mala a consumidores de produtos internacionais. De um lado, o Grabr é uma startup de renda extra. Do outro, é uma startup de delivery de longa distância com descontos, ou de logística. A relação ocorre entre pessoas físicas, um modelo chamado de peer to peer.

Por meio do computador ou do smartphone (Android ou iOS), o usuário comprador se cadastra, coloca seu pedido e a cidade onde mora. Enquanto isso, o viajante visualiza todos os pedidos no trecho que irá percorrer e participa de uma espécie de leilão, colocando informações como dia de chegada, seu histórico de entregas e qual a recompensa pedida pelo serviço.

Quem viaja de São Paulo a Roma, por exemplo, pode ver pedidos por brinquedos italianos e lançar uma proposta com 20% de recompensa e data de entrega daqui a duas semanas.

Instruções para usar o Grabr, no site da plataforma

Instruções para usar o Grabr, no site da plataforma (Grabr/Divulgação)

A média de recompensa cobrada entre Brasil e Estados Unidos (o destino mais requisitado) é de 15%, mas pode chegar a valores como 100% dependendo da raridade do item, como um vinil exclusivo.

No valor também deve estar a taxa de monetização da Grabr, que é de 7%, e os impostos devem ser levados em consideração na hora de o viajante fazer sua oferta de preço. O viajante se responsabiliza por eventuais paradas na alfândega e a Grabr reforça o pagamento de tributos devidos, afirma Michele Chahin, porta-voz da startup no Brasil.

Mesmo com tantas taxas, a startup diz que a economia média para o comprador fica entre 30 e 40%, e pode chegar a 80% quando as viagens são feitas em épocas promocionais e os itens possuem grande diferença tributária - caso das bonecas da marca LOL durante a Black Friday. As categorias mais pedidas são eletrônicos; brinquedos e artigos infantis; fashion e beleza; produtos esportivos; e casa e cozinha.

Aplicativo do Grabr

Aplicativo do Grabr (Grabr/Divulgação)

Com a proposta aceita pelo usuário comprador, o dinheiro é debitado e fica em posse da Grabr. Em um esquema similar ao marketplace argentino Mercado Livre, o viajante só recebe o dinheiro quando o comprador receber seu produto e avaliar a entrega.

Tem quem leve vários produtos pequenos na mala, enquanto outros preferem trazer poucas encomendas maiores. Há viajantes que ganham 20 dólares, enquanto os mais viciados em economizar chegam a ganhar 1.000 dólares por viagem.

Destino: Brasil

O Grabr possui movimentação relevante em 65 países, mas sua maior presença de compradores está na América Latina, enquanto o destino mais frequente dos viajantes são os Estados Unidos.

Desde 2015 o Grabr recebe pedidos brasileiros, mas estabeleceu uma presença oficial no Brasil apenas no ano passado. O país detém 37,5% de participação de usuários dentro da startup. Em segundo lugar está a Argentina, com 27%. Outros países relevantes são Peru, Vietnã e a Rússia, terra-natal dos fundadores do serviço.

As razões para o crescimento da empresa em terras brasileiras são diversas, de acordo com Chahin. Já há o hábito de pedir para amigos e parentes trazerem produtos do exterior nas malas, seja pela falta de tais itens no país ou pelos altos impostos cobrados. As altas cobranças pelo excesso de bagagem também fazem com que os brasileiros comprem menos de uma vez só e, por isso, tenham de contratar o Grabr depois.

O Grabr possui sua maior presença nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, mas olhará no próximo ano para cidades com demanda crescente, como Belo Horizonte e Brasília. São 300 mil brasileiros usando o Grabr hoje, de um total de 800 mil usuários globalmente.

Em sua história, a empresa atendeu 1,3 milhão de pedidos, sendo que 850 mil deles foram feitos nos últimos 12 meses. O crescimento se deve principalmente a um aporte de oito milhões de dólares conquistado em março deste ano pela startup, liderado pelo fundo americano Foundation Capital. Desde 2015, o negócio conquistou 14,2 milhões de dólares em investimentos. No ano passado, o Grabr faturou sete milhões de dólares.

Para 2019, o Grabr quer continuar mantendo seu crescimento mensal de 20% visto em 2018. Com números cada vez maiores, manter essa taxa será um desafio. Mas, se depender da insistência dos brasileiros em pedir produtos internacionais, soluções como a do Grabr só tendem a crescer por aqui.

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