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Por que esta forma de empresas conseguirem dinheiro mais que triplicou

Maiores plataformas de equity crowdfunding no Brasil saltaram valores captados para startups. Há três grandes motivos por trás do crescimento

Captação de fundos: plataformas de equity crowdfunding querem repetir neste ano a proporção de crescimento vista em 2018 (Foto/Thinkstock)

Captação de fundos: plataformas de equity crowdfunding querem repetir neste ano a proporção de crescimento vista em 2018 (Foto/Thinkstock)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 12 de março de 2019 às 06h00.

Última atualização em 12 de março de 2019 às 06h00.

Se você possui o próprio negócio, provavelmente pensa em grandes bancos como primeiras fontes de dinheiro. Mas, para quem sabe vender seu peixe e está disposto a compartilhar uma parcela de sua startup, plataformas online de captação de investimentos em troca de participação são uma forma de unir o poder do relacionamento à arrecadação de fundos. Para cada vez mais empreendedores, o equity crowdfunding tem valido a pena.

As plataformas Eqseed e Kria, as brasileiras mais conhecidas no setor, apresentaram respectivamente um crescimento anual de 4,1 e 3,4 vezes no valor total de captações em 2018.

A Eqseed captou 12,8 milhões de reais no último ano para 11 startups, enquanto a Kria/Basement arrecadou 9,1 milhões de reais de forma pública para 16 startups e afirma ter registrado outros quase 4 milhões de reais de forma privada para mais sete empresas, totalizando 13 milhões de reais.

Para este ano, as duas plataformas querem aumentar os valores totais captados, o dinheiro pedido em cada rodada e o número de negócios inovadores que escolhe essa forma de captar investimentos.

Por que o equity crowdfunding só cresce

Pelo equity crowdfunding, empresas com receita anual de até 10 milhões de reais realizam ofertas de financiamento coletivo na internet, em troca de uma participação no negócio para cada investidor. Essas rodadas podem ser de até cinco milhões de reais.

Tais definições foram dadas pela Comissão de Valores Mobiliários no dia 13 de julho e, com isso, deram segurança e trouxeram rapidez ao processo de fazer uma oferta de equity crowdfunding. Propostas que obedecerem às condições acima e forem feitas em plataformas que passaram pelo processo de autorização junto à CVM terão dispensa automática de registro de oferta e de emissor na autarquia.

Tanto para a Eqseed quanto para a Kria/Basement, a regulamentação do equity crowdfunding é a primeira razão para o crescimento dessa modalidade de investimento. Contribuiu também a queda da taxa básica de juros (Selic), que motivou a busca por investimentos tão rentáveis quanto era anteriormente a renda fixa. Por fim, há o aumento do interesse no mercado de startups -- incluindo o nascimento das primeiros negócios inovadores avaliados em um bilhão de dólares ou mais, ou unicórnios.

“Muitos se perguntaram o que aconteceria se tivessem investido nessas startups há cinco anos. Eles buscam formas de entrar nesse mercado e o equity crowdfunding se apresenta como a modalidade de aporte que exige menos capital inicial do investidor”, diz Brian Begnoche, sócio-fundador da Eqseed.

O investimento do equity crowdfunding é visto geralmente como um capital semente, substituindo desde um investimento anjo até um fundo de investimento em estágio inicial. O maior valor captado pela Eqseed foi uma rodada para a própria plataforma, de 2,5 milhões de reais. O valor foi obtido em 27 horas, enquanto a demora por receber um investimento anjo parte de três meses.

A agilidade e a possibilidade de fazer ofertas com a avaliação de mercado que o empreendedor julgar correta, e não a imposta pelos investidores, são supostos trunfos do equity crowdfunding. Frederico Rizzo, CEO da Kria, destaca também o efeito de rede que vem de uma rodada de equity crowdfunding. Com mais investidores e divulgação na internet, há um impacto positivo na prospecção de clientes e na recomendação de talentos para a startup.

“É um smart money que gera um valor imenso ao negócio. Há empresas que captam assim durante toda a vida, pelo compartilhamento ser um valor de negócio. É o caso da startup de podcasts Gimlet [comprada pela gigante de streaming Spotify].”

Mais startups, mais dinheiro

O amadurecimento do mercado se vê não só no aumento do volume total captado, mas no aumento do tíquete médio das rodadas e o início de vendas dessas startups, ou exits. Os investidores estão cada vez mais acreditando nas startups como forma de investimento e elas conseguem mais fundos para impulsionarem seu crescimento e, depois, uma possível venda do negócio.

Na Kria, que é uma desenvolvedora de plataformas digitais de investimento associada à Basement, instituição financeira autorizada pela CVM para distribuir ofertas públicas de investimento em PMEs, a maior captação individual foi de 1,5 milhões de reais, na cervejaria Leuven. A cervejaria realizou mais rodadas e captou ao todo 4,5 milhões de reais pela Kria/Basement, a partir de 300 investidores.

Neste ano, a Eqseed quer ter suas primeiras rodadas de 5 milhões de reais, o limite máximo permitido pela CVM. O tíquete médio das rodadas passou de 283,3 mil reais (2016) para 1,6 milhão de reais (projeção para 2019) na plataforma.

Quanto às saídas, a Kria/Basement afirma ter três startups que venderam totalmente seu negócio a outras empresas. O caso mais emblemático foi o da Cheftime. A startup de kits gastronômicos assinou em novembro do ano passado uma parceria com o Grupo Pão de Açúcar que permite a compra do capital social do pequeno negócio em até 18 meses pelo GPA.

Próximos passos para as brasileiras

Para 2019, Eqseed e Kria/Basement planejam triplicar seus números. A Eqseed projeta gerar captações de 36 milhões de reais em 30 rodadas. Já a Kria/Basement estima alcançar 30 milhões de reais para 45 startups.

A principal inspiração vem do Reino Unido, referência quando se fala em equity crowdfunding. Segundo Begnoche, o equity crowdfunding existe por lá há cerca de oito anos e o valor total captado foi de 466 milhões de libras esterlinas em 2018, o equivalente a 2,3 bilhões de reais. As plataformas Seedrs e Crowdcube captaram, respetivamente, 195 milhões de libras (954 milhões de reais) e 224 milhões de libras (1,1 bilhão de dólares) para startups em suas plataformas.

Irá demorar para o Brasil chegar a esse patamar, se chegar. Mas as taxas de crescimento não mentem quanto à adoção crescente do financiamento coletivo na internet em troca de participação. “Imaginamos que fazer um equity crowdfunding será rotina para as melhores startups nos próximos dois anos”, projeta o sócio-fundador da Eqseed.

Veremos se a conveniência dessa modalidade de investimento as conquistará.

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