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O que é o capital de giro - e por que é tão importante ter um

O capital de giro são os recursos que mantêm a atividade da empresa em movimento, sem deixar o caixa entrar no vermelho

Gestão financeira: entenda o que é e para que serve o capital de giro (damircudic/Getty Images)

Gestão financeira: entenda o que é e para que serve o capital de giro (damircudic/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de junho de 2021 às 12h00.

Última atualização em 3 de junho de 2021 às 12h10.

Por Paula Bazzo, planejadora financeira

Na lista de ferramentas de gestão para pequenas empresas, um item não pode ser deixado de lado: o capital de giro. Esse recurso nada mais é do que o montante financeiro que mantém a atividade da empresa em movimento, sem deixar o caixa entrar no vermelho. É o equilíbrio entre o que a empresa possui em caixa, em estoque, os recebíveis, e o que ela tem a pagar.

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Exemplo prático

Júlia decidiu abrir um Pet Shop no interior de Minas. Então ela se pôs a planejar: onde alugaria o estabelecimento, como seria a reforma de adaptação aos requisitos do negócio, que mobiliário e maquinário eram indispensáveis para sua estrutura. Detalhou na sua planilha os insumos necessários para banho e tosa, o quanto custaria a compra dos produtos a serem comercializados na loja (estoque), os valores para criação da marca, confecção de uniformes, evento de inauguração.

Lembrou de incluir no planejamento um treinamento de funcionários, as taxas de abertura de empresa, o alvará de funcionamento, a compra de computador, a contratação de um software para cuidar de agendamentos e pagamentos. Durante três meses cuidou de (quase) tudo, com carinho, procurando sempre colocar o que havia de melhor dentro do orçamento que dispunha. Aliás, os recursos para tudo eram provenientes dos investimentos que acumulara nos últimos 7 anos e da rescisão do emprego de onde saiu para começar a empreender. As contas fechariam justinhas, mas ainda teria uma folga para imprevistos que sempre acontecem em reformas. Ajusta de lá, ajusta de cá e ela finalmente abriu as portas.

Toda vez que um cliente vinha fazer uma compra de produtos e que fosse acima de um determinado valor, ela facilitava a condição de pagamento, permitindo parcelamento. Além disso, para fidelizar os clientes de banho e tosa, ela montou um “clubinho”: ao invés de pagar pelo banho por semana, clientes com 4 banhos mensais ou mais poderiam pagar em uma única vez, ao final do mês.

Os primeiros dias foram uma maravilha. Todo mundo passou pelo “PetJu” para conhecer o novo negócio e dar uma força para Júlia. Ela vendeu muito bem e se viu precisando repor estoque! Conquistou os primeiros clientes do clubinho e estava trabalhando muito motivada. E foi aí que ela começou a perceber um desconforto na gestão do seu negócio. Com o bom movimento do primeiro mês, ela precisou fazer novas compras de produtos, para reposição.

Contudo, muitos clientes parcelaram, os de clubinho pagariam no final do mês e ela tinha pouco dinheiro no caixa, já que todo o montante dos investimentos fora empregado na reforma e abertura do estabelecimento. Como tem jogo de cintura, Júlia logo negociou com os fornecedores um parcelamento das novas aquisições. Comprou até um pouco a mais, otimista com o resultado do primeiro mês.

No segundo mês a curiosidade local tinha arrefecido e as vendas sofreram uma pequena queda. Ela percebeu que as somas das despesas fixas e das compras que fez parceladas junto a fornecedores deixaria o caixa zerado, e só conseguiria pagar tudo caso não retirasse nada para remunerar a si mesma.

E foi assim que Júlia aprendeu que tem um aspecto do negócio que não é tão palpável como estrutura física, equipamentos e objetos o são. Quando fez o plano de negócios, ela não se atentou para um aspecto determinante da sustentabilidade financeira: o capital giro.

O que é o capital de giro

O capital de giro são os recursos que mantêm a atividade da empresa em movimento, sem deixar o caixa entrar no vermelho. É o equilíbrio entre o que a empresa possui e o que ela tem a pagar.

Diferente do que muitos pensam, ele não é um luxo ao qual o negócio pode se dar. Ele é uma ferramenta de gestão. Não é opcional, também não é o que “sobra” dos recursos que o empreendedor disponibilizou para construir o negócio. Assim como a reforma estava na planilha de planejamento, o capital de giro também deveria estar.

Não existe um número ou percentual mágico válido para todos os negócios. Depende do montante de vendas, das negociações de prazos de pagamentos e recebimentos e do quanto há necessidade de reposição de estoques. Uma pessoa que trabalha com prestação de serviços, como consultas e aconselhamentos, por exemplo, provavelmente precisará de um capital de giro pequeno.

Uma pessoa que comercializa produtos, financiando a venda ao cliente através de parcelamentos, mas que repõe mercadorias de imediato, precisará dispor de um capital maior. Há empreendimentos que a necessidade capital de giro pode ser, inclusive, superior ao investimento em imobilizados.

Se Júlia não fizesse nada para resolver, logo poderia cair num ciclo negativo.

O ciclo negativo dos negócios sem capital

  1. Dedicaria muito esforço ao negócio, abrindo mão de sua remuneração, e se sentiria desmotivada, depois de um tempo, com a frustração de trabalhar muito e ganhar pouco, ou nada;
  2. Apesar de não estar retirando uma remuneração para si, eventualmente usaria recursos da empresa para pagar alguma emergência da sua vida pessoal... essa atitude levaria ao péssimo hábito de misturar contas pessoais e empresariais, muito prejudiciais ao negócio;
  3. Correria um risco grande de entrar em dívidas para resolver o caixa do momento, aumentando seus gastos mensais com a nova parcela do endividamento contratado, comprometendo ainda mais a saúde do empreendimento;
  4.  Aquele pouco de lucro que poderia perceber na medida em que os recebíveis parcelados entrariam, acabariam por ser consumidos pela nova prestação, sendo que uma parte significativa iria remunerar os juros do banco, ao invés de ser lucro para a empresa.
  5.  Se esse ciclo perdurasse, possivelmente fecharia as portas antes de completar 5 anos, como acontece com a maior parte das empresas no Brasil.

Júlia foi perspicaz e logo percebeu seu deslize de gestão. Como não queria se envolver em dívidas, mas precisava conquistar uma quantidade de recurso para se transformar no capital de giro da loja, colocou em prática algumas estratégias, listadas abaixo:

  • Identificou o que poderia reduzir de despesas fixas, de forma a sobrar mais dinheiro no final do mês;
  • Optou por trocar seu carro por um modelo inferior e usar a parte do que ganhou na operação do veículo como um aporte de capital;
  • Criou uma estratégia de gerar um dinheiro diferente do tradicional para seu negócio naquele mês: montou uma gincana na cidade que envolvia as famílias e seus pets, negociou a premiação com fornecedores, que serviriam de patrocinadores, e usou o valor das inscrições para chegar no montante que precisava para ter a robustez financeira que almejava.

A iniciativa da gincana, diga-se de passagem, gerou uma conexão com as pessoas da cidade ainda maior, e contribuiu para a conquista de novos clientes e venda de produtos.

A história da nossa empreendedora fez com que ela pudesse continuar a oferecer vendas parceladas aos seus clientes sem prejudicar a saúde financeira do negócio. Possibilitou, nos meses seguintes, que ela fizesse negociações mais competitivas com fornecedores e, por fim, deixou-a confortável para investir quando identificasse alguma oportunidade de expansão do negócio e das vendas. Ah, claro! Ela conseguiu continuar remunerando seu próprio trabalho, fazendo com que suas vidas pessoal e profissional seguissem bem!

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