Loes, da Kairós: emprego volta ao nível pré-pandemia só no fim de 2021
A alta mortalidade de pequenas e médias empresas deve prejudicar a recuperação do mercado de trabalho nos próximos meses, diz economista ex-diretor do FGC
Leo Branco
Publicado em 8 de agosto de 2020 às 09h32.
Última atualização em 29 de agosto de 2020 às 12h17.
A pandemia elevou a níveis “muitos altos” a morte de empresas de pequeno e médio porte no Brasil. Como elas são as grandes empregadoras no país, o resultado será uma recuperação muito lenta do mercado de trabalho no país. A avaliação é do economista André Loes, diretor executivo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) até o ano passado e, antes disso, foi economista-chefe de instituições financeiras como HSBC e Bozano, Simonsen. Atualmente, Loes é sócio da gestora multimercado Kairós Capital. Na entrevista a seguir, Loes explica porque a taxa de desemprego só deve voltar ao nível pré-pandemia no fim de 2021.
As PMEs foram mais afetadas pela crise?
Certamente. As pequenas e médias empresas têm uma capitalização limitada. O governo federal foi na direção correta ao liberar linhas de crédito específicas, como a para pagar a folha de pagamento. Mas a percepção dos bancos para os empréstimos a essas empresas infelizmente aumentou na crise, o que deve resultar em problemas de caixa mais acentuados nas PMEs neste ano.
Qual o impacto da escassez de crédito para os empreendedores?
A mortalidade das empresas pequenas e médias deve aumentar muito. Na ponta, isso pode comprometer a retomada da economia em 2021, uma vez que elas são geradoras de muitos empregos. Neste ano, até junho foram 715.000 empresas fechadas, segundo pesquisa Pulso Empresa, do IBGE. É o equivalente a tudo o que fechou no ano passado. Por isso, mesmo que o PIB cresça no ano que vem, porque a base de comparação será baixa, o nível de desemprego continuará muito alto. Minha hipótese é de que o emprego dificilmente vai voltar ao nível pré-pandemia antes do fim de 2021.
Até onde pode ir a taxa de desemprego?
A nossa projeção do desemprego é um pico de 15,9% da população economicamente ativa em outubro deste ano. Olhar para o pico, no entanto, é perigoso porque o pior efeito é a continuidade de taxas de desemprego muito acima do patamar neutro da economia brasileira, que é abaixo de 10%. Até a pandemia, esse patamar estava caindo, numa recuperação lenta da crise fiscal iniciada em 2014. A pandemia desviou essa trajetória.
O que pode ser feito para minimizar o problema?
O governo deve seguir com os programas de expansão do crédito com recursos do Tesouro Nacional. É importante o governo compartilhar com bancos o risco de emprestar às empresas, sobretudo as menores. Para o banco a coisa mais importante é fazer uma análise de risco correta. Por isso, é normal que estejam cautelosos neste momento.