Diversidade: empresas contratam imigrantes para ampliar representatividade
Na rede American Cookies e na Localiza, imigrantes no time de funcionários são parte da estratégia por mais diversidade e inclusão
Maria Clara Dias
Publicado em 27 de junho de 2021 às 10h00.
A contratação de imigrantes passou a ocupar posição de relevância na agenda de empresas que priorizam a diversidade como um todo. Como uma extensão dos compromissos relacionados à inclusão, essas companhias também estendem suas políticas a grupos socialmente minorizados que vão além de mulheres, LGBTI+ e pessoas com deficiência. Com a pandemia e o alto nível de desemprego, isso se tornou ainda mais latente.
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Apenas na cidade de São Paulo, os imigrantes já são mais de 360.000, segundo a prefeitura municipal. Já em todo território nacional, 51.251 refugiados foram reconhecidos desde 2016, segundo a Acnur, agência das Nações Unidas para o tema. Do total, 90% são venezuelanos fugindo da deterioração da situação econômica no país.
Alguns gigantes já ocupam posição de destaque nesta frente de incursão de imigrantes no quadro geral. A Accenture, por exemplo, já contratou 30 refugiados em 2019 e 2020 por meio de seu projeto de capacitação. Já a varejista Renner contratou 86 imigrantes desde 2016. As duas empresas foram mencionadas no Guia EXAME de Diversidade como parte dos 30% de companhias brasileiras respondentes da pesquisa que possuem políticas internas de conscientização e diversidade especificamente sobre refugiados.
Em boa medida, o cenário passa a ser visto também nas empresas de pequeno e médio porte. É o caso da American Cookies, rede de lojas com mais de 20 unidades no país, sendo 10 unidades próprias e 12 unidades franqueadas.
Com a pandemia, a alta nos pedidos via delivery e a inauguração de uma unidade na cidade de São Paulo, a rede viu a necessidade de ampliar a mão de obra. Ao mesmo tempo, a marca já era procurada por imigrantes em busca de uma oportunidade de trabalho. Conversa vai, conversa vem e a American Cookies firmou uma parceria com a ONG Estou Refugiado, que foca na inserção de pessoas refugiadas no mercado de trabalho.
“Além do acolhimento e da diversidade, queremos mostrar para as empresas brasileiras todos os outros benefícios de inserir um refugiado ao seu time. Desde uma menor taxa de rotatividade na equipe até um maior engajamento e comprometimento dos funcionários”, diz Luciana Capobianco, diretora da Estou Refugiado.
Em parceria com a ONG, a American Cookies recebe venezuelanos para ocupar cargos nas unidades próprias. A decisão vem em tempo certo: de acordo com a Acnur, a pandemia agravou ainda mais a situação desses imigrantes por aqui, reduzindo para 64% as chances de contratação, quando comparadas às de um brasileiro com as mesmas qualificações.
Atualmente, a ONG conta com mais de 70 empresas parceiras e soma 2.000 refugiados contratados e em processos seletivos desde a sua criação, em 2015.
Já a American Cookies tem hoje 75 funcionários, e seis deles são imigrantes.
“A nossa decisão foi muito feliz”, conta Francielle Farias, sócia-fundadora e CEO da American Cookies. “Nossos níveis de rotatividade despencaram e a produtividade aumentou, só ao dar a abertura para outros perfis de funcionários, nacionalidades e realidades”.
O objetivo agora, segundo Francielle, é contratar outros 10 novos imigrantes até o final do ano, além de criar uma política de inclusão que possa atender também às unidades franqueadas. “A ideia já existe. Quem sabe não implementamos uma cota ou algo que possa de fato levar essa cultura adiante”, diz. Numa outra frente, a rede também pretende priorizar a contratação de outros grupos minoritários como idosos, por exemplo.
Um desses seis imigrantes é o venezuelano Luiz Rodrigues Ortega, um jovem cantor de ópera de apenas 21 anos, e que hoje é operador de loja e ajudante geral na American Cookies.
Há dois anos, Luiz desembarcou no Brasil vindo da Colômbia. Na divisa com o Brasil, Luiz foi assaltado e acabou ficando sem nenhum de seus pertences -- incluindo a câmera com a qual começaria o sonho de ter um blog pessoal. “O início foi muito difícil. Decidi escrever a minha própria história e ajudar a minha família, que passa por dificuldades na Venezuela. Mas não foi fácil abrir mão da vida que tinha”.
Há alguns meses, ele foi contratado para a nova operação da American Cookies em São Paulo. Para ele, a inclusão é uma oportunidade de crescimento, para todos os envolvidos. “Com a história que levamos, uma empresa só tem a aprender, mas também é um aprendizado para nós, desde a língua até os costumes”, diz. “Levar essa alegria contagiante e força de vontade e paixão por trabalhar é muito importante para as empresas. Já percebemos que é algo de cultura mesmo, nosso ânimo é sempre elogiado”, diz.
Luiz ainda mantém o sonho de cantar profissionalmente.
Imigrantes na liderança
Outra empresa a fomentar práticas de diversidade com a contratação de imigrantes é a Localiza, de aluguel de veículos. A companhia mantém um programa de diversidade e inclusão que também prevê a criação de grupos de afinidades, que visam orientar e capacitar funcionários de grupos socialmente minorizados. O programa institucional atua em cinco frentes prioritárias: equidade de gênero, LGBTI+, pessoas com deficiência, raça e migrantes e pessoas em refúgio.
Em 2016, 60 funcionários eram imigrantes. Hoje são 134, mais do que o dobro. Vindos de 22 países diferentes, a maioria deles (63%) é da República do Haiti. Eles ocupam as mais variadas funções, e a pluralidade de nacionalidades também chega à alta liderança: o próprio CEO, Bruno Lasansky, é argentino.
“Somos uma empresa brasileira e que tem a diversidade no DNA. Nas nossas lojas e escritório é possível encontrar sotaques de várias partes do país e do mundo. Esta diversidade nos estimula a construir um ambiente acolhedor e no qual cada um pode ser quem é”, diz o diretor executivo de Gente da Localiza, Daniel Linhares.
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