Sorvete Rocha, do litoral norte de SP, chega à capital
Estratégia da tradicional marca de sorvete do litoral norte do estado é praticamente oposta à da concorrente, comprada da família e com escala industrial
Marília Almeida
Publicado em 11 de fevereiro de 2017 às 08h00.
Última atualização em 22 de fevereiro de 2017 às 12h50.
São Paulo - Ao completar 70 anos, a tradicional marca do litoral Norte de São Paulo Sorvetes Rocha chega à capital para enfrentar uma grande concorrência, incluindo a marca Rochinha, negócio que foi comprado da família na década de 80.
A estratégia inicial será distribuir 15 sabores de picolés, com nova identidade visual, em pontos de venda pela cidade. O objetivo é ter 120 parcerias comerciais até maio. A empresa não abre o faturamento.
Apesar de ter diversas sorveterias na cidade de São Sebastião, é apenas uma delas que decidiu subir a serra: a de Rodrigo Rocha, 38 anos, e seu pai, Roberto Rocha, inaugurada em 2003 e localizada no centro histórico de São Sebastião . Isso porque cada sorveteria é independente, apesar de pertencerem à mesma família.
Os primeiros sorvetes da marca foram feitos em 1947 por Zeca Rocha, irmão do avô de Rodrigo, que posteriormente começou a fazer sorvetes também. Ao longo do tempo os cinco filhos do seu avô também passaram a cuidar do negócio até que resolveram buscar independência financeira. Cada um abriu então uma sorveteria Rocha em diversos pontos do litoral, seguindo a mesma receita de Zeca.
Rodrigo e suas duas irmãs foram os únicos membros da nova geração da família a expandirem o negócio. “Nenhum primo meu teve a ideia nas sorveterias dos meus tios, hoje com idade entre 60 e 70 anos”.
Conflito de família?
Rodrigo diz que a história das duas marcas, Rocha e Rochinha, sempre foi “muito mal contada”.
Na própria região de São Sebastião o que se escuta é que houve uma briga entre os filhos do velho Rocha. Mas Rodrigo esclarece toda a história.
Assim como todos os cinco filhos do seu avô, um dos seus tios montou uma sorveteria da marca no litoral após trabalhar um tempo com o pai. Ao invés de dar o nome à sorveteria de Rocha, resolveu criar a marca Rochinha.
Depois de trabalhar na sorveteria por um tempo, seu tio decidiu mudar para o Mato Grosso do Sul e passou o negócio para um primo, que patenteou a marca Rochinha e posteriormente vendeu o negócio para o construtor José Lopes, um investidor que não tem nenhuma relação com a família.
Foi José Lopes que expandiu a marca para São Paulo até vende-la no ano passado para o grupo H&M Participações. O grupo pretende agora expandir a distribuição da marca para todo o país. Em 2016 a Rochinha também anunciou o lançamento de microfranquias e, recentemente, uma parceria com a Ambev para lançar um sorvete da marca Guaraná.
Diferencial artesanal
Apesar de destacar que existe espaço para todos na capital, Rodrigo associa, na página nova da marca no Facebook, as características “verdadeiro e original” aos seus sorvetes.
Questionado, ele diz que se atém a fatos. “Buscamos manter a receita original da família, enquanto o concorrente, assim como várias empresas, tem um produto mais industrializado, com corante. Se alguém olhar na nossa embalagem como são feitos os nossos sorvetes, usamos poucos ingredientes: basicamente fruta, água, açúcar e leite”.
Rodrigo dá como exemplo o picolé de milho verde da marca. “Nosso picolé não é amarelo, mas branco. Priorizamos o sabor, não a cor”. A exceção é o sorvete Creme do Céu, que foi criado para crianças e tem um forte tom de azul. “Nesse colocamos corante”.
Procurada, a Rochinha afirma que nenhuma das receitas foi mudada ao longo de sua trajetória. “A essência da Sorvetes Rochinha sempre foi a fruta. Mesmo com a expansão o produto continua sendo o mesmo da fundação, em 1981. As receitas ainda são secretas e, inclusive, o gerente industrial responsável por elas continua sendo o mesmo há 25 anos. Até hoje, o processo de produção continua o mesmo, com portfólio e receitas próprias”.
Objetivos opostos
Diferente do concorrente, as ambições da nova geração do Rocha são bem mais conservadoras. “Queremos dar um passo de cada vez, sem querer dominar o mundo. Não é nossa intenção crescer muito e industrializar. Dessa forma se perde toda a essência de um trabalho de 70 anos feito pela família”, diz Rodrigo.
O administrador não pensa em criar franquias ou lojas na cidade. “As sorveterias que existem hoje não têm um padrão. Tem sorveterias dos meus tios que vendem sabores que não são encontrados nas outras. Cada um também trabalha com fornecedores diferentes.”
A distribuição de picolés na cidade foi um modo encontrado pela família para compensar a baixa temporada. ”Vimos chegar muitos concorrentes aqui nos últimos anos. Só na avenida principal aqui de São Sebastião tem cinco sorveterias. Também acompanhamos o crescimento das paletas, mas agora a moda passou um pouco. Por tudo isso decidimos fazer o caminho inverso agora.”
A preparação para esse passo começou há três anos. Rodrigo e seu pai, que tinham apenas a sorveteria e carrinhos que vendiam picolés nas praias, passaram a distribuir picolés na região, em cidades como São José dos Campos. O movimento deu resultado.
A família então viu que precisava de uma estrutura maior para atender a capital. “Melhoramos e adequamos o processo de produção e compramos uma câmera fria e um caminhão refrigerado. Buscamos ter um produto mais durável, mas sem interferir no sabor, que é nosso diferencial.”
Discreto e avesso a fotos, Rodrigo conta que a família já foi assediada para se mudar para São Paulo e abrir sorveterias. “Mas não queremos sair de São Sebastião. Não abro mão de passar tempo com minha família e filhos pequenos. Tenho mais qualidade de vida aqui”.