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Concorrente do Nubank mira setor bilionário: os cartões de crédito de loja

Trigg, startup de cartões de crédito com cashback, anunciou na semana passada sua entrada no segmento de cartões private label

Trigg: startup nasceu no ano passado, com foco cartões pré-pagos com cashback a consumidores finais (Trigg/Divulgação)

Trigg: startup nasceu no ano passado, com foco cartões pré-pagos com cashback a consumidores finais (Trigg/Divulgação)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 18 de junho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 18 de junho de 2018 às 10h44.

São Paulo - A Trigg, criada no ano passado, ficou famosa por “pagar” quem usa seu cartão de crédito pelo mecanismo de cashback e por se colocar como potencial concorrente ao unicórnio Nubank. Agora, porém, a fintech está apostando também em um setor longe dos holofotes - mas bilionário.

A Trigg anunciou na semana passada não só o marco de um milhão de cartões emitidos, mas sua entrada no setor de private label - cartões que possuem a cara de marcas como lojas de departamento e de roupas. Alguns deles exigem uma renda mensal de apenas 300 reais e muitas vezes podem ser obtidos dentro do próprio estabelecimento, depois de breves perguntas sobre o perfil do consumidor.

A startup afirma que a entrada no B2B (serviços oferecidos de empresa para empresa) tem como principal foco os varejos regionais, sem porte para desenvolver um sistema próprio de private label e criar práticas de fidelização online de seus consumidores. Com o novo serviço, a expectativa é atingir 1 bilhão de reais em vendas neste ano.

Private label: estado do mercado

A startup entrou para o segmento após a aquisição de dois players do setor: a Biz e a UZE, cada uma com mais de 20 anos no setor de cartões para lojas. Enquanto a UZE é forte no Centro-Oeste, Nordeste e Norte, a Biz marca presença no Sudeste e Sul do país. Ajudou na aquisição a financeira Omni, sócia da Trigg.

Segundo Marcela Miranda, fundadora da startup, o movimento surgiu a partir de uma análise em geral do mercado de cartões - e a percepção de que os cartões de loja não acompanhavam a inovação presente em todo o mercado de pagamento e principalmente nos cartões pré-pagos, caso do Nubank e da Trigg.

Marcela Miranda, da Trigg

Marcela Miranda, fundadora da Trigg (Rafael Roncato/Trigg)

É um segmento que já mais de 20 anos de idade, segundo Miranda. Os cartões de lojas foram muito fortes no começo dos anos 2000; antes da massificação dos cartões de crédito comum, representavam o respiro no fim do mês. Com o tempo, o private label cedeu lugar aos cartões de lojas co-branded, que permitem realizar compras em qualquer estabelecimento credenciado à bandeira do cartão (Mastercard ou Visa, por exemplo).

“Mesmo assim, acredito que continua muito forte em cidades menores, com lojas que conquistaram a confiança de seus clientes”, afirma a fundadora, que não descarta oferecer cartões bandeirados aos clientes no futuro.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os cartões de private label e co-branded devem atingir a marca de 293 bilhões de reais até 2022. Em 2014, o número era de 60 bilhões de reais. O segmento representa 12% do faturamento total da indústria de cartões, que teve em 2016 um volume transacionado com cartões de crédito, débito e pré-pago de 1,144 trilhão de reais, para a mesma entidade.

Como funciona?

A proposta da Trigg é incluir o private label no século XXI, dominado por dados. A startup quer usar os dados já coletados pelos varejistas (como os CPFs presentes em notas fiscais) para melhorar a experiência dos consumidores com as marcas.

“Iremos criar um aplicativo baseado na plataforma já existente da Trigg com a melhor experiência para os clientes, com promoções especializadas e acúmulo de pontos para serem trocados por produtos, por exemplo”, afirma Miranda.

A empreendedora afirma ter analisado tanto líderes do mercado de private label, como DMCard e Tricard, quanto aplicativos de fidelização do cliente, como o da rede Pão de Açúcar.

“Queremos unir esses serviços em uma plataforma integrada, com foco nas lojas de menor estrutura em cidades com até três milhões de habitantes. Os varejos não possuem a tecnologia como núcleo de sua atividade, mas possuem conhecimento do cliente. Nós queremos entrar como uma ferramenta.”

Em troca do serviço, a Trigg cobra hoje uma anuidade de 190 reais dos consumidores finais - além de eventuais juros e multas no caso de pagamentos atrasados. Não há a cobrança das taxas de transação, comuns apenas aos cartões bandeirados.

O varejista não paga pelos plásticos e nem pelo app personalizado de fidelização. Mas a Trigg pode cobrar as lojas por serviços financeiros acessórios - possibilidade de saques antecipados, por exemplo.

A Trigg incorporou 300 redes em seu serviço de private label, com 1.200 lojas que antes eram atendidas pela Biz e pela UZE. A startup está visitando os clientes e apresentando a solução reformulada. Alguns exemplos de varejos regionais atendidos são a Camisaria Colombo e a CrediConstrução. A expectativa é que todas as marcas estejam com seus novos cartões de loja até o fim de 2018.

“Já temos prontos o layout dos cartões e um aplicativo com o histórico das faturas. Com a parte técnica pronta, começaremos a análise de dados”, diz Miranda.

Com as aquisições, a Trigg também recebeu mais 160 funcionários para seu time. O número é maior do que os 130 funcionários atuais da empresa, focados nos conhecidos cartões pré-pagos - e marca uma virada de chave para a startup, ainda que Miranda mantenha que o B2C continua e cresce a cada dia.

A empreendedora tem grandes ambições: tornar a Trigg o principal parceiro do varejo regional em até quatro anos. Sonhar alto faz parte de toda startup - resta saber se a novata irá se destacar entre os vários bilhões que os cartões de loja já transacionam.

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