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Como as escolas particulares planejam a retomada das aulas presenciais

Rodízio de alunos e recreios alternados são algumas das estratégias pensadas pelos colégios para garantir a segurança na volta às aulas

Maple Bear, do Grupo SEB: rede trabalha com redução de alunos em sala e revezamento de turmas; unidades de Sinop e Sorriso já estão abertas (Maple Bear/Divulgação)

Maple Bear, do Grupo SEB: rede trabalha com redução de alunos em sala e revezamento de turmas; unidades de Sinop e Sorriso já estão abertas (Maple Bear/Divulgação)

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Carolina Ingizza

Publicado em 25 de junho de 2020 às 12h30.

Última atualização em 25 de junho de 2020 às 15h16.

O retorno dos estudantes aos colégios ainda é incerto. Mesmo com as atividades econômicas reabrindo em algumas regiões do Brasil, muitas autoridades não definiram exatamente quando e como os alunos devem voltar aos colégios. Considerando as diferenças de estágios da pandemia da covid-19 em cada região, é difícil ter um direcionamento único.

O governo de São Paulo foi um dos primeiros a definir uma data. Na última quarta-feira, 24, anunciou o retorno do ensino público estadual e municipal, de forma gradativa, a partir de setembro. O processo será faseado, começando com 35% dos alunos e respeitando o distanciamento mínimo de 1,5 metro. 

O Grupo SEB, que possui 45.000 alunos na rede própria e mais de 200.000 nas 260 escolas parceiras, informou à EXAME que “vai seguir todas as recomendações dos órgãos competentes” quando questionado se iria seguir o cronograma de reabertura do governo de São Paulo para as unidades que estão no estado.

O Poliedro, com cerca de 7.500 alunos em suas sete unidades, informou que possui um comitê para acompanhar as medidas adotadas por outros países e as recomendações da Secretaria Estadual da Educação. “Vamos cumprir todas as determinações das autoridades e avaliar se, em setembro, será possível retomar”, disse o grupo, em nota.

Mesmo antes do pronunciamento do governador, os grupos de educação básica estavam trabalhando em protocolos próprios de saúde e higiene para preparar o espaço físico para a eventual retomada das aulas. O objetivo é garantir a segurança dos estudantes, professores e funcionários enquanto ainda existir risco de transmissão do novo coronavírus. 

Veja as principais estratégias planejadas pelas escolas para a volta às aulas: 

Rodízio de alunos

Há um consenso no setor de educação de que ainda não é possível retomar as atividades presenciais com todas os alunos simultaneamente na escola. A saída encontrada é um esquema de rodízio, para não haja aglomeração de crianças e jovens nas salas de aula. 

Para isso, o ensino remoto tem que continuar. Os grupos educacionais planejam seguir com o modelo ativo pelo menos até o final do ano letivo. A ideia é que cerca de um terço dos estudantes esteja na sala de aula com o professor, enquanto o restante dos colegas acompanharia de casa o conteúdo — seja com transmissões ao vivo ou com vídeos gravados anteriormente. 

“Estamos nos preparando para receber as crianças com todo um plano de reorganização dos conteúdos e objetivos. Não vamos voltar para a realidade que deixamos em março, as escolas estão sendo preparadas para continuar atendendo remotamente, com alternância das turmas”, diz Viviane Flores, diretora educacional do Grupo Marista, que possui 42 unidades e mais de 35.000 alunos. 

Máscara, álcool gel e medidor de temperatura

Os alunos, professores e funcionários do colégio precisarão adotar também medidas de higiene. Na entrada, todos terão a temperatura medida com termômetros infravermelho. As máscaras de proteção facial serão itens obrigatórios na comunidade escolar. 

Os totens e dispensers de álcool gel também farão parte da paisagem dos colégios, que correm para instalá-los nas salas, corredores e pátios. Dentro da sala de aula, os alunos e os professores precisam ter acesso a álcool e lenços de papel, para que possam higienizar seus espaços de trabalho constantemente. 

“Estamos definindo qual é o procedimento que o professor deve ter para higienizar os microfones, apagadores. Estamos olhando todos os pontos de contato e tomando providências para garantir a segurança de todos nesse aspecto”, diz Rodrigo Fulgêncio, diretor de unidades escolares do Poliedro. 

Distanciamento na sala de aula

Outra grande preocupação para as escolas é encontrar formas de garantir que haja uma distância de pelo menos 1,5 metros entre cada pessoa. Com o rodízio de alunos, as salas de aula poderão ter menos carteiras, garantindo o distanciamento entre os estudantes e o professor. Algumas redes cogitam colocar divisórias de acrílico delimitando o espaço pessoal de cada aluno. 

Thamila Zaher, diretora executiva do grupo SEB, explica que cada uma das marcas do grupo encontrou uma forma distinta de garantir a separação. Nas unidades da escola bilíngue Maple Bear, por exemplo, que já tinham salas de aula grandes, garantir o distanciamento entre os alunos foi mais simples. “Houve uma reformulação da sala de aula, mas cada escola fez em um formato. Utilizamos acrílicos, baias, espaçamento físico, intercalando cadeiras”, afirma a diretora. 

Diferentes horários de entrada, saída e intervalos

As escolas também estão readequando os horários de entrada e saída dos estudantes, para que não haja aglomerações de pais, alunos e funcionários na porta do colégio. Para facilitar a entrada, algumas redes consideram desativar temporariamente as catracas. 

Nas 17 unidades do grupo Positivo, a ideia é ter catracas abertas aos alunos, mas proibir a entrada dos pais no ambiente escolar e colocar tapetes sanitizantes na entrada de todas as salas. As escolas também serão higienizadas completamente todos os dias. 

Nem mesmo o recreio ficou a salvo. Os horários de intervalo serão divididos, para que os alunos não se aglomerem nos espaços comuns. Durante o segundo semestre, a cantina ficará fechada, para minimizar os riscos de contaminação. “Pediremos que os alunos tragam a comida de casa”, diz Celso Hartmann, diretor-geral do Positivo.

Revisão de conteúdos 

Pedagogicamente, a retomada também é desafiadora. Depois de meses de aulas remotas, os colégios precisarão avaliar o quanto os alunos aprenderam no modelo de ensino à distância criado às pressas. Apesar dos grupos afirmarem que pais e alunos estão satisfeitos com o modelo criado durante a pandemia, não há garantias do quanto conteúdo os alunos estão conseguindo reter em meio ao cenário adverso.

Para Jackson Miguel, diretor geral do Elite Rede de Ensino, grupo com mais de 33.000 alunos, o grande desafio da retomada é “ligar as pontas” do aprendizado não presencial com o retorno às escolas. A rede planeja revisar com os alunos os principais temas do ano letivo. “Na retomada, é preciso haver um momento de diagnóstico, para mensurar como caminhou o processo de aprendizado no período de pandemia”, diz o diretor.

A saúde mental dos alunos também é uma preocupação na volta às aulas. A rede Saber, que conta com 52 unidades ao redor do Brasil e atende mais de 34 mil alunos, por exemplo, incluiu em seu plano de retomada estratégias de cuidado psicológico. “O Brasil é um dos países com mais registro de pessoas com transtornos de ansiedade e depressão. Por isso, junto com os protocolos sanitários e de aprendizado, o plano de retomada tem que olhar para a acolhida cuidadosa das pessoas”, diz a diretora pedagógica Juliana Diniz.

Ensino híbrido como legado

Mesmo com o retorno, o ensino remoto não será deixado de lado. Os colégios acreditam que mesmo quando o coronavírus estiver no passado, os aprendizados digitais da crise permanecerão. 

Alguns grupos acreditam que será possível seguir com um modelo híbrido de ensino, em que o aluno realiza parte das tarefas presencialmente na escola e, no contraturno, complementa o aprendizado com materiais digitais. O EAD também possibilita a oferta de novas aulas para os alunos — como empreendedorismo e educação financeira. 

“Quando implementarmos o ensino híbrido, as escolas poderão migrar rapidamente para a educação em tempo integral”, diz Renato Casagrande, especialista em educação do Instituto Casagrande.

Rommel Domingos, copresidente do grupo Bernoulli Educação, que possui cinco escolas próprias e um sistema de ensino que chega a mais de 550 colégios, concorda. Ele acredita que a crise abriu a possibilidade de se explorar o ensino à distância no Ensino Médio, como já previa a legislação brasileira. “Não precisamos ficar presos no mundo presencial e achar que tem que estar todo mundo junto para que tenha trabalho. Esse mundo já ficou para trás, a pandemia veio comprovar isso”, diz o executivo.

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