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Visanet é maior e lucra mais que Redecard, mas IPO será mais arriscado

Incertezas sobre a maior regulação do setor de cartões e sobre a recuperação da economia mundial sugerem cautela ao investidor

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

A oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da Redecard foi uma das maiores da história do mercado de capitais brasileiro. A empresa de processamento de transações com cartões levantou mais de 4 bilhões de reais e gerou, no curto prazo, ganhos extraordinários aos investidores que participaram do IPO. Mesmo com a chegada da crise, a empresa continuou a apresentar índices robustos de crescimento e suas ações se encontram praticamente no mesmo patamar de 27 reais da estréia na bolsa.

Agora é a vez da maior concorrente da Redecard chegar à BM&FBovespa. A VisaNet anunciou oficialmente, nesta terça-feira (09/06), a tão esperada oferta pública de ações. A processadora de transações com cartões, que tem como acionistas o Bradesco, o BB Investimentos, o Grupo Santander e a Visa International, fará uma oferta inicial de 477.674.330 ações.

Cada ação da Visanet tem preço sugerido de R$ 12 a R$ 15. Considerando-se o valor médio do intervalo, de R$ 13,50, a operação totalizaria R$ 6,449 bilhões, sem considerar o exercício do lote suplementar ou a opção de ações adicionais.

A VisaNet informou que o período de reserva de ações da oferta secundária terá início na quarta-feira da semana que vem (dia 17) e se encerrará no dia 24 deste mês. No dia seguinte (25/6), a companhia encerrará o procedimento do livro de ofertas (bookbuilding) e fixará o preço por ação. O prospecto definitivo da operação deverá ser publicado em 26 de junho. O início da negociação dos papéis em Bolsa está previsto para o dia 29 de junho.
 

Cautela?

Mas será que a IPO da Visanet tem tudo para render lucros ainda mais polpudos do que o da Redecard? Em termos, dizem os analistas consultados pelo Portal EXAME. Apesar da maior participação de mercado e de mais barreiras de entrada a concorrentes, a Visanet estreará na bolsa em um momento ainda complicado para a economia mundial. Além disso, de acordo com a Fator Corretora, o governo deverá em breve aumentar a regulação do setor de cartões no Brasil de forma a aumentar a concorrência - o que poderá gerar perdas às empresas do setor e a seus acionistas.

Segundo reportagem publicada pelo jornal “Valor”, o governo não quer que a Visanet continue a ser a credenciadora exclusiva da bandeira Visa. Também não aceita mais que a Visanet e a Redecard mantenham a atual estrutura verticalizada, em que controlam também a prestação de serviços de rede (captura e processamento de transações e aluguel dos terminais utilizados para os pagamentos, conhecidos como POS) e as operações de compensação e liquidação dos pagamentos feitos com cartão. Para o governo, essa estrutura terá de ser desmontada para permitir a entrada de outras empresas no mercado ou então a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE) deverá denunciá-las por práticas monopolistas, ainda de acordo com o “Valor”.

Também já há no Congresso quatro projetos em tramitação que aumentam a regulação do setor de cartões. Basicamente todos são voltados para o interesse dos lojistas - descontentes com os custos e as comissões cobradas pelas empresas nas transações com cartões. Os projetos preveem mudanças como a permissão para que o lojista cobre um preço diferenciado do consumidor quando o pagamento for feito com cartão ou a concessão de poderes formais para o Banco Central regular o setor.

A Fator Corretora se reuniu recentemente com analistas da consultoria Arko Advice - especializada em Congresso - e concluiu que alguma dessas alterações deve ser votada em plenário em breve. Os analistas da Fator, entretanto, não apostam em uma mudança radical des regras que possa colocar em risco o crescimento das transações com cartão. O dinheiro movimentado pelos plásticos está dentro da economia formal e ajuda a “dedurar” eventuais sonegações de impostos por empresas e consumidores. Jayme Alves, analista de investimentos da corretora Spinelli, também diz que a Visanet e a Redecard teriam força para compensar os possíveis efeitos negativos das novas regras com o crescimento de receitas em outros serviços - dada a baixa penetração dos cartões no Brasil.

Pontos fortes

Independente do risco regulatório, os bons fundamentos da Visanet podem amenizar a desconfiança dos investidores e garantir o sucesso da oferta. A companhia é líder do setor de cartões de pagamento no mercado brasileiro. Sua participação é de 46,8% do volume de transações em um mercado que movimentou 375,4 bilhões de reais em 2008, segundo a Abecs (a associação do setor de cartões).

A empresa possui a maior abrangência no território nacional e conta com cerca de 1,4 milhão de estabelecimentos credenciados para aceitar pagamentos com cartões da Visa. De acordo com o prospecto enviado à CVM para a realização da oferta, a Visanet também registrou um crescimento robusto e contínuo nos últimos anos. Entre 2006 e 2008, a empresa teve uma expansão anual de 25,9% em volume financeiro de transações, atingindo o valor de 175,6 bilhões de reais ao fim do ano passado. Nos três primeiros meses de 2009, tal número chegou a 47,7 bilhões, um avanço de 22,4% frente ao valor apresentado no mesmo período de 2008.

Comparando o desempenho financeiro da Visanet e da Redecard, a primeira também leva vantagem. O lucro líquido da Visanet foi de 1,393 bilhão de reais no ano passado, um número 26% maior que o da concorrente. Já a receita líquida foi de 2,875 bilhões de reais, ou quase 300 milhões a mais que a Redecard. Apesar disso, em indicadores de rentabilidade, a Redecard leva vantagem. Em 2008, a companhia apresentou margem Ebitda de 69,4%, enquanto que a Visanet ficou nos 62,3%.

Resultados comparados de 2008
Em milhões de reaisRedecardVisanet
Receita Líquida2.588,802.875,50
Lucro Líquido1.103,401.393,80
Ebitda1.767,401.802,90
Margem ebitda69,4%62,3%
Estabelecimentos credenciados1,3 milhão1,4 milhão
Volume financeiro:
Cartões de Crédito82.941110.897
Cartões de Débito42.27364.655

Atrativos do setor
O setor de cartões tem apresentado excelentes taxas de crescimento no Brasil. Entre 2006 e 2008, o volume financeiro de transações teve uma taxa de avanço anual de 23,9% devido à expansão do consumo privado e ao aumento da penetração dos serviços financeiros e de meios eletrônicos de pagamento.
 

"A ação é atrativa porque a Visanet é uma empresa com uma margem muito alta em um setor de grande potencial, com crescimento acima de 20% ao ano", explica Patrick Corrêa, analista de renda variável da Máxima Asset Management.
 

Apesar do forte avanço nos últimos anos, os analistas acreditam que o setor de cartões de pagamento no Brasil ainda apresenta um grande potencial de crescimento se comparados os percentuais de sua utilização no Brasil e nos países desenvolvidos. Também pesa a favor o fato de que a crise financeira ter tido impactos limitados sobre as empresas do setor. O aumento do uso do cartão no consumo foi mais do que suficiente para que a Redecard compensasse os efeitos da crise. Além disso, muitas empresas passaram a usar o serviço de desconto de recebíveis da empresa com o encarecimento do crédito - sendo que quem fica com o risco dessas linhas não são as companhias de cartão, mas o banco emissor do plástico.

"É um setor de que gostamos bastante, em que há a possibilidade de explorar nichos ainda não explorados, permitindo um credenciamento maior de estabelecimentos", opina Luciana Pazos, analista de investimentos da Gradual. Segundo ela, o setor pode ser considerado uma opção bastante defensiva de investimento nos momentos de turbulências econômicas.
Se der certo, a oferta poderá reabrir o mercado de IPOs no Brasil. Desde a oferta pública da OGX, empresa de petróleo de Eike Batista que levantou 6,7 bilhões de reais na BM&FBovespa em junho do ano passado, nenhuma oferta inicial de ações foi realizada. "O mercado está vivendo uma fase de otimismo, com o investidor voltando à bolsa em busca de bons lucros. Esta emissão pode animar o mercado ainda mais", afirma Patrick Corrêa, da Máxima.

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