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Vale desiste de comprar a Xstrata agora

Fusão criaria a maior mineradora do mundo, mas proposta da Vale não foi aceita

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Após três meses de expectativas, a Vale do Rio Doce anunciou, nesta terça-feira (25/3), que desistiu de comprar 100% do capital da mineradora anglo-suíça Xstrata. Em um curto comunicado, a brasileira afirmou que "não foi alcançado acordo entre as partes, o que acarretou no encerramento das negociações". A intenção da Vale de comprar a empresa foi antecipada por EXAME em 18 de janeiro ( clique aqui para ler a reportagem). De acordo com a legislação britânica, a Vale terá de esperar seis meses para apresentar uma nova proposta a não ser que sua atual oferta seja aprovada pelo conselho de administração da Xstrata ou uma terceira empresa tente comprar a mineradora anglo-suíça.

Nas últimas semanas, aumentaram as divergências entre a Glencore, controladora da Xstrata, e a Vale sobre os termos do negócio. A discordância central era sobre os direitos de comercialização de minerais. A Glencore é uma das maiores tradings do setor, e temia perder sua principal fonte de receita - a intermediação da venda de minerais produzidos pela Xstrata. A Vale se recusou a abrir mão de vender, ela mesma, a produção, e o impasse foi criado.

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Outra fonte de desacordo era o preço da operação. Nos primeiros contatos, a Vale fez uma oferta informal de 40 libras esterlinas por ações, o equivalente a 76 bilhões de dólares. Os controladores da Xstrata teriam considerado o valor baixo e exigido cerca de 50 libras por papel. No final de fevereiro, a Vale elevou a oferta para 47 libras, o equivalente a 89,3 bilhões de dólares.

Se concretizada, esta seria a maior aquisição já realizada por uma companhia brasileira no exterior - transformando a Vale na maior mineradora do mundo. Os desafios, contudo, que se abririam para a companhia eram igualmente grandes. O primeiro deles era justamente armar uma estrutura financeira para a aquisição capaz de preservar uma de suas principais conquistas - o grau de investimento, que lhe garante acesso a capital barato de investidores internacionais.

Riscos

Para atenuar o risco de ver sua nota rebaixada pelas agências de risco, a Vale estava disposta a fazer uma oferta mista, envolvendo dinheiro e ações preferenciais. Esse também foi um ponto de resistência da Glencore, que não ficou muito satisfeita com a possibilidade de receber papéis que, na prática, têm pouco peso diante das ações ordinárias. Além disso, a desvalorização dos papéis da brasileira, na Bolsa de Nova York, também atrapalhou os planos. Entre o final de fevereiro e meados de março, as ações registraram uma queda de 15%, o que reduziria em cerca de 10 bilhões de dólares o valor da oferta, segundo cálculos do jornal americano The Wall Street Journal.

Enquanto negociava com os controladores da Xstrata, a Vale também buscou reunir um pool de bancos internacionais dispostos a financiar a operação. Para o mercado, a grande dúvida era se as instituições estariam dispostas a bancar uma aquisição deste porte, no momento em que muitas delas sofrem pesados prejuízos decorrentes da crise das hipotecas americanas. Analistas acreditavam que só haveria espaço para bancar uma operação do gênero neste momento - ou a compra da Xstrata pela Vale, ou a aquisição da Rio Tinto pela BHP.

A Vale chegou a reunir um grupo composto por pesos-pesados do mundo financeiro, como Citi, Credit Suisse, BNP Paribas, Lehman Brothers, HSBC e Santander. Mas a primeira fissura surgiu no início de fevereiro, quando o Merrill Lynch deixou o posto de assessor da Vale para a aquisição. Na ocasião, o banco de investimentos afirmou que a compra traria riscos tanto para seus acionistas, quanto para os da Vale, e recusou-se a participar do pool que ofereceria o crédito.

Para atenuar as expectativas, diante das dificuldades em concluir o acordo, a Vale afirmou algumas vezes que a compra da Xstrata não era uma prioridade, havendo outras alternativas para crescer. Na tarde desta terça-feira (25/3), o presidente da Vale, Roger Agnelli, repetiu a estratégia, ao declarar que esta não era a única oportunidade de compra para a Vale, e que as partes estavam "na mesma distância que sempre estiveram" de um acordo.

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