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Não dá para falsificar a nossa qualidade, diz Benoît Vuitton

Para o tataraneto da Louis Vuitton, são a qualidade e a tradição da marca os grandes responsáveis pelo sucesso da empresa

Louis Vuitton lança relógio no Brasil (--- [])
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.

Tataraneto de Louis Vuitton, o mestre francês fabricante de malas e baús fundador do império Louis Vuitton, principal grife do conglomerado líder mundial em artigos de luxo LVMH, o jovem executivo francês Benoît-Louis Vuitton, de 31 anos, trabalha como gerente de pedidos especiais de relógios da marca, e se divide entre o seu trabalho na sede da empresa, em Paris, e muitas viagens pelo mundo para divulgar os produtos da Louis Vuitton. Benoît-Louis Vuitton esteve no Brasil recentemente para o lançamento mundial do novo luxuoso modelo de relógio da grife, chamado Tambour Mystérieuse. Ele falou com exclusividade para a EXAME.

- A desaceleração econômica tem sido negativa para a maior parte das empresas, mas a Louis Vuitton parece imune à crise, como mostram os resultados financeiros mais recentes do LVMH (as vendas da divisão de moda e acessórios de couro, na qual está incluída a Louis Vuitton, cresceram 11% no primeiro trimestre de 2009). Qual o segredo?
Num momento de crise, as pessoas são mais cautelosas com o dinheiro, elas tomam mais cuidado com os produtos que compram, tornando-se mais seletivas e optando por produtos de qualidade, que sabem que vão durar muito. Esse é o caso dos produtos Vuitton.

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- Por causa da crise, a empresa paralisou os planos de investimento?
Não. Nós realmente acreditamos que, em se tratando de criatividade, nunca devemos parar de desenvolver novos produtos, isso é algo que mesmo com a crise nós não paralisamos, e é isso o que faz nossa diferença.

- A Louis Vuitton pertence ao grupo francês LVMH, mas a família continua na empresa. Como o senhor avalia a administração do atual presidente mundial da marca, Yves Carcelle, e do presidente do LVMH, Bernard Arnault?
Os dois fizeram um trabalho importante, de “acordar” a empresa. Ao mesmo tempo em que souberam respeitar a tradição, entendendo como a marca funciona, eles buscaram inovar com novos produtos. O mesmo ocorreu com a vinda do estilista Marc Jacobs. Ele primeiro aprendeu sobre nossas tradições, que entendemos melhor do que ninguém, para depois trabalhar para acordar a empresa, que estava dormindo um pouco.

- Em sua opinião, qual a fronteira entre uma pessoa que consome produtos de luxo e aquele consumo ostensivo e exagerado, que a atual crise econômica trouxe à tona?
Não existe esta fronteira quando se entra no universo Louis Vuitton. Em nossa empresa o que existe sempre é a qualidade, a tradição. Quando existe crise as pessoas buscam isso, a certeza de um produto durável, feito com conhecimento e que
vai valer o investimento.

- Como o senhor encara a falsificação dos produtos da empresa?
Levamos o assunto a sério. Temos um time grande de pessoas trabalhando para lidar com o problema. Uma das receitas para combater a falsificação dos nossos produtos é inovar, para estar sempre à frente. E nós fazemos isso há exatos 155 anos. Sim, as cópias são uma preocupação para a empresa, mas ao mesmo tempo não são, porque nossos produtos são superiores. Se você pega uma bolsa original e uma cópia, talvez fisicamente elas pareçam iguais. Mas, anos depois, se você olhar novamente as mesmas bolsas, a verdadeira ainda estará perfeita, enquanto a outra nem existirá. Não dá para falsificar a nossa qualidade. Também penso que é uma questão de cultura e educação. Quanto mais um país se desenvolve, menor é o impacto da falsificação.

- A venda de produtos do segmento de alto luxo em países em desenvolvimento como o Brasil traz que tipo de dificuldade adicional às empresas de luxo, para não serem vistas como uma forma simples de ostentação?
Não se pode nunca observar a Louis Vuitton como ostentação. São 155 anos de tradição, de um trabalho artesanal desenvolvido em nossos ateliês. Pessoas
são treinadas e educadas durante anos para entender e aprender o know-how e as tradições da empresa. Além da criação de empregos.

- Em sua opinião, os hábitos de consumo do brasileiro que consome luxo são diferentes dos hábitos do consumidor de outras partes do mundo?
Não acho que eles sejam tão diferentes. Mercados emergentes entendem bem o nosso espírito, o mix constante de tradição e inovação. Todos procuram a mesma coisa em nossa empresa. Eles são atraídos a comprar pela nossa qualidade e o trabalho
artesanal.

- É sua segunda visita ao Brasil. Quais as suas impressões?
Na primeira vez que vim, fiquei poucos dias, não pude conhecer muito. Agora estou conhecendo melhor, e posso dizer que adoro o país. Na França, o Brasil é um país dos sonhos.

- O senhor acredita no potencial do Brasil como mercado de luxo?
Sim, acreditamos que o país tem muito potencial. Temos muitos projetos para novas lojas. A próxima vai ser em Brasília, e será inaugurada em março do ano que vem, mas a Louis Vuitton já trabalha em dois outros projetos para o próximo ano. Nossa idéia é continuarmos sendo sempre os pioneiros no Brasil, como fomos quando chegamos aqui há 20 anos.

- Em sua opinião, o Brasil tem potencial para se tornar um grande exportador de luxo?
Para se tornar um nome importante nesse mercado, um país precisa respeitar a sua tradição, seu know-how, a sua história. Eu acho que o Brasil é um país atrativo, alegre e criativo, ele só precisa tomar cuidado para passar essa mensagem para o mundo de uma forma que não seja superficial. O Brasil é muito bem associado na Europa. Eventos para promover o Brasil em duas das maiores lojas de departamento da Europa, a Printemps, em Paris, e a Selfridges, em Londres, mostraram uma ótima imagem do Brasil e mostraram a boa imagem que o país tem lá.

- Por que a Louis Vuitton, conhecida por produtos como malas e bolsas, decidiu investir em relógios?
A empresa decidiu entrar nesse nicho há sete anos, em 2002, por ser já muito conhecida por seus produtos relacionados a viagens. E relógios, assim como sapatos, estão também relacionados com a experiência da viagem. E somos uma empresa de luxo, e não há nada mais luxuoso do que relógios.

- O senhor poderia nos contar pouco sobre o relógio que a empresa está lançando?
É um modelo completamente criado, desenvolvido e montado nas oficinas relojoeiras da Louis Vuitton, localizadas na Suíça. O cliente pode escolher entre a colocação de diamantes, rubis, safiras, ou nenhuma pedra, se quiser algo mais discreto. Ele será feito por encomenda, e a Louis Vuitton disponibiliza várias maneiras para o cliente tornar a peça absolutamente exclusiva. Custará 200 000 euros.

- Por que a empresa escolheu o Brasil para fazer o lançamento mundial desse produto?
Os brasileiros entendem nossa legitimidade no mercado de relógios e é por isso que queremos mostrar aqui primeiro, porque acreditamos que o país tem público para apreciá-lo.

- Lançar um relógio tão caro quanto esse em um momento de crise não seria um investimento arriscado?
Temos consciência de que a crise econômica está entre nós, mas as pessoas precisam gastar, e de forma inteligente. E hoje os produtos da empresa são um investimento seguro. É um relógio dos sonhos, que pode passar de geração para geração.

- Qual a sua definição para luxo?
Luxo é um mix de inovação e tradição. O luxo conecta-se com prazer, mas também com qualidade. É parte do futuro, com a inovação, mas parte do passado, com a tradição.

- Como o senhor se sente sendo parte de uma família tão importante para o mundo do luxo?
Bem, eu não poderia me sentir menos orgulhoso.

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