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Juventus pode ser primeiro clube do Brasil gerido por site

Inspirado em modelos europeus, site MTDF mobiliza torcedores para injetar dinheiro no clube paulista em troca de influência nas decisões

Rumo à série A: Juventus receberá 2 milhões de reais em investimentos (.)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

São Paulo - Todo torcedor tem sempre um palpite, uma nova tática e está pronto para discordar do técnico de seu time de futebol. Quantas críticas, por exemplo, Dunga recebeu ao divulgar os escolhidos para a Copa do Mundo? Influenciar na decisão do comandante da seleção brasileira não foi possível, mas os brasileiros poderão palpitar nos rumos de uma equipe menor. O Juventus, de São Paulo, está próximo de firmar uma parceria de co-gestão com a empresa de marketing esportivo Meu Time de Futebol (MTDF). O departamento jurídico do clube analisa os últimos detalhes do contrato para fechar o acordo, que terá duração até dezembro de 2011.

Criada em 2008, a MTDF nasceu como um site em que os torcedores se cadastravam para escolher em qual time gostariam de ter poder nas decisões. O Juventus foi escolhido pela maioria membros. Hoje, o site conta com 100.000 cadastrados e estima-se que 15% deles, pelo menos, aceitarão bancar a empreitada. Se o acordo com o Juventus for fechado, cada cadastrado que aceitar ser "técnico" do time deverá desembolsar, em média, 60 reais, dependendo do plano. Do total arrecadado, 85% serão investidos na equipe.

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A MTDF avalia que serão necessários 2 milhões de reais para trazer o time de volta à elite do futebol. Hoje, o Juventus disputa o campeonato da série A3. Além do valor arrecadado entre os torcedores, a empresa também aposta em patrocínios. "Esperamos ainda conseguir até 1,2 milhão de reais em patrocínios por ano", disse a EXAME.com Vicente di Cunto, fundador da empresa. Ele afirma que há negociações com empresas de cartões de crédito e de artigos esportivos.

Depois de escolhido pelos associados, a equipe do MTDF procurou o Juventus para apresentar a proposta. A ideia apareceu com uma salvação para o time, que hoje não tem patrocinadores e acumula uma dívida de 4 milhões de reais em IPTU, já provisionada. O valor, no entanto, está longe de campeões de dívidas como o Fluminense, cujo rombo é de quase 330 milhões de reais (confira ranking abaixo). A diferença é que o Juventus-SP não tem como quitar a quantia. "Estamos limitados à verba que o conselho determina", diz Ivan Antipov, assessor da presidência para captação de recursos do Juventus. "A parceria com o MTDF é essencial para levantar o time."

Afinal, quem vai mandar?

"É preciso estabelecer os papéis de cada um na co-gestão, para que o projeto dê certo", diz Amir Somoggi, diretor da área de esportes da consultoria Crowe Horwath. "É mais interessante para um clube reorganizar a parte administrativa. Os grandes times têm dinheiro, mas falta direcionar melhor os investimentos."

Quanto a isso, as partes já estabeleceram como será a nova gestão. O presidente do Juventus continua no cargo e com o mesmo poder de decisão. A novidade é a criação de comissões técnicas de marketing, futebol e administrativa com dois representantes do clube e mais dois da MTDF para decidir para onde os investimentos serão direcionados. Há dois focos principais: compra de jogadores e marketing.

Hoje, o Juventus está sem time. No Campeonato Paulista do ano passado, o clube gastou 1 milhão de reais com a folha salarial. Para evitar mais gastos com salários, a diretoria fechou contrato com os jogadores apenas durante o campeonato. A ideia agora é preparar um novo time para disputar o próximo torneio.


Decisões online

Todas as decisões passarão pelas comissões técnicas e terão como base a opinião dos torcedores. A MTDF colocará em votação em seu site todos os pontos discutidos sobre o time, desde a melhoria em estádios até a compra de jogadores. A equipe leva o resultado da votação para a reunião do comitê que decidirá a melhor maneira.

Os torcedores que participarem com dinheiro não receberão nada em troca, além da satisfação de contribuir para a ascensão do clube. "Deixamos claro que não haverá retorno financeiro, é apenas para o bem do time", conta Vicente. "O que vamos fazer é oferecer descontos para jogos e artigos esportivos ou alguma promoção específica para os associados." A ideia é que o número de cadastrados no site também aumente. "Onde há muita gente, é mais provável que chame a atenção de patrocinadores", diz ele.

A equipe do MTDF não é apenas um grupo de apaixonados por futebol. Vicente é administrador de empresas, formado pela FGV, com pós-graduação em marketing pela mesma instituição. Além do MTDF, ele ocupa o cargo de diretor de planejamento estratégico da Autômatos, empresa de software focada em gestão de infraestrutura de Tecnologia e Segurança da Informação, que presta serviços para empresas como Telefônica, Vivo, Embratel, Oi e Banco Real.

Ele comanda uma equipe de nove pessoas no MTDF, entre eles, o ex-jogador César Sampaio -- todos com experiência administrativa e de marketing. Para evitar sugestões esdrúxulas dos torcedores, o MTDF vai ponderar as opções postas em votação. “Não vamos, por exemplo, botar como opção a compra de um jogador como Ronaldinho Gaúcho. Sabemos que é impossível”, diz Vicente.

Modelo importado

A inspiração para criar o MTDF surgiu quando Vicente conheceu o projeto inglês My Football Club, criado em 2007 pelo jornalista Will Brooks. No ano seguinte, o time Ebbsfleet United, da oitava divisão, foi comprado pelos 50.000 torcedores. Cada um deles desembolsou 50 libras para ser técnico do time. Nesse caso houve, de fato, a compra do time.

No caso do Juventus, isso é impossível porque o estatuto proíbe a venda de clubes que tenham sócios – por isso foi acordada a co-gestão. Em 2007, o time israelense Hapoel Kiryat Shalom se tornou o primeiro a ser controlado pela internet. Os torcedores podiam votar nas decisões do time, mas não eram donos dele. Em 2008, também foi criado o site Squadra Mia, na Itália, que busca torcedores que desejam controlar o time Santarcangelo, que hoje está na série D.

Há também os milionários que desejam brincar de técnico e têm dinheiro suficiente para comprar um time. O tailandês Thaksin Shinawatra – empresário de telecomunicações e primeiro-ministro deposto em 2006 - comprou o Manchester City por 162 milhões de dólares em 2007, mas, afundado em dívidas, teve de vendê-lo. O magnata do petróleo russo Roman Abramovich comprou o Chelsea em 2003 por 235 milhões de dólares. O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, é também presidente do Milan. Mas a história do Juventus mostra que, hoje, não é preciso ter milhões na conta para ser cartola.

PosiçãoClubesDívida Total (em milhões de R$)
1Fluminense-RJ329.278
2Vasco da Gama- RJ327.432
3Botafogo-RJ317.469
4Flamengo-RJ308.331
5Atlético-MG285.836
6Santos- SP181.084
7Internacional-RS147.577
8Grêmio-RS137.318
9Palmeiras- SP117.061
10Portuguesa de Desportos-SP116.907
11Guarani-SP116.356
12Corinthians-SP99.821
13Cruzeiro-MG97.746
14Vitoria-BA*86.589
15Ponte Preta-SP82.981
16São Paulo- SP66.298
17Bahia-BA*54.669
18Goiás-GO49.612
19Náutico*49.400
20Coritiba-PR49.146
21Paraná Clube-PR29.004
22Sport-PE*28.954
23Figueirense -SC12.559
24Juventude-RS12.433
25Atlético-PR1.322
26São Caetano Futebol Ltda-SP1.305

* Sport, Náutico, Bahia e Vitória não disponibilizaram os balanços de 2009, por isso foi considerado o endividamento do exercício de 2008.

Fonte: Crowe Horwath RCS

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