Giovinezza
Leia abaixo mais um trecho do livro Matarazzo de Ronaldo Costa Couto. "Final de 1935, Guarujá, reduto plutocrático paulista à beira-mar plantado. Jantar de gala promovido pela colônia italiana paulistana. Muita gente, barulho, agitação, conversas animadas. Mesmo quieto e calado no centro da longa e florida mesa principal, o conde Matarazzo, de 81 anos, pontifica. […]
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h40.
Leia abaixo mais um trecho do livro Matarazzo de Ronaldo Costa Couto.
"Final de 1935, Guarujá, reduto plutocrático paulista à beira-mar plantado. Jantar de gala promovido pela colônia italiana paulistana. Muita gente, barulho, agitação, conversas animadas. Mesmo quieto e calado no centro da longa e florida mesa principal, o conde Matarazzo, de 81 anos, pontifica. Atrai atenções e olhares admirados, ofusca os demais. Está no auge da riqueza, fama, prestígio e poder.
No ar, mal disfarçada revolta do enxame de fascistas presentes, devido ao recente anúncio de sanções propostas por potências ocidentais contra o governo de Mussolini. Motivo: invasão e ocupação da pobre Abissínia [depois Etiópia] por tropas italianas no mês anterior. Estão presentes lideranças políticas e empresariais, diplomatas italianos e outros convidados. Inclusive representantes de países subscritores das sanções, fato que inibe a exaltação explícita dos feitos do Duce. Fascistas, sim. Mas, ali, antes de tudo, bons anfitriões italianos. Festa que segue.
Mudo, pensativo, concentrado, o conde observa tudo. De repente, põe-se de pé. Param todos, pára tudo. Até a música. Emocionado, ele pede ao diretor da orquestra a Giovinezza, o vibrante hino da juventude fascista italiana. Os acordes invadem todos os tímpanos e a maioria dos corações. Euforia, pulinhos de alegria. Sorriso escancarado, Matarazzo grita "Viva a Itália!", faz a saudação fascista e vai embora quase levitando.
Salto para Roma, Palácio Ruspoli, 20 de janeiro de 2002, espaço para a memória do neto Sforza Ruspoli: 'Meu avô era muito ligado às origens italianas. Tinha afeição enorme à pátria. Em 1935, quando das sanções internacionais contra a Itália, ele auxiliou os conterrâneos que estavam na África. Fazia seus navios darem volta para ajudá-los. Ele tinha o reconhecimento do governo italiano, do rei, de todos'."