Não é de hoje que se discute a importância das pequenas e médias empresas no desenvolvimento econômico. Apesar das evidências, faltava um estudo que avaliasse, exatamente, o impacto dessas empresas na vida de um país. Foi o que resolveu fazer o Banco de Desenvolvimento Econômico (BID).
Entre 2000 e 2001, o banco fez uma minuciosa pesquisa em nove países da América Latina e do Leste Asiático, entre eles Brasil, Argentina, México, Japão, Coréia e Singapura, envolvendo 1 271 pequeno empresários, todos no setor formal da economia. No Brasil a pesquisa foi conduzida por pesquisadores da Unicamp. O estudo foi apresentado no fórum da pequena empresa, organizado pelo Sebrae, no Rio de Janeiro.
O objetivo dessa radiografia é traçar políticas governamentais e do próprio para estimular e fortalecer as pequenas empresas. Nesse quesito, porém, descobre-se que as empresas do Leste Asiático estão muito mais avançadas que da América Latina. Algumas das conclusões:
Dois terços das pequenas empresas asiáticas operam no setor intensivo de conhecimento, enquanto somente 30% dos negócios latino-americanos estão baseados nesse setor.
Os empreendedores do leste asiático se beneficiam de uma grande mobilidade social: 48% dos empreendimentos foram fundados pelas classes mais baixas. Na América Latina, só 28,6% dos empreendedores vieram dessas classes.
Após três anos de negócios, as firmas do leste asiático vendem cinco vezes mais que as latino-americanas. Além disso, a maioria dos empreendimentos asiáticos alcançam vendas de mais de 2 milhões de dólares ao ano, enquanto somente algumas companhias latino-americanas conseguem esse volume de vendas.
No terceiro ano de existência, as firmas asiáticas empregam em média 30 trabalhadores, enquanto as latino-americanas, 26. Nesse mesmo período, as vendas por empregado são, em média, de 141 mil dólares no leste asiático e 33 mil dólares na América Latina.
A principal fonte de oportunidade dos novos empreendimentos é a venda de produtos e serviços para outras pequenas e médias empresas.
Mais de 70% dos empreendedores nas duas regiões disseram que a chave para identificar as oportunidades de negócio são interação com as pessoas e experiência em um trabalho anterior.
As mais importantes motivações pessoais são a realização própria e novos desafios .
Em ambas as regiões, 70% dos empreendedores lançam seus negócios com suas próprias economias, enquanto 20% com economias de amigos e de parentes.
Os empreendedores mais bem sucedidos de ambas as regiões encontraram os mesmos problemas no estágio inicial do negócio: encontrar clientes, contratar trabalhadores qualificados e controlar o fluxo de caixa.
Em ambas as regiões os empreendedores são predominantemente homens, idade média de 30 anos, graduados ou com pós-graduação.
Os fundadores de todas as empresas bem sucedidas tinham experiência de trabalho relevante em setores econômicos similares ou relacionados aos seus empreendimentos.
Os empreendedores do leste asiático são influenciados pelos estereótipos apresentados pela midia, e eles encontram mais oportunidades de mobilidade social com o empreendimento.
Entre os empreendedores do Leste Asiático há mais empreendimentos intensivos em conhecimento e uma porcentagem mais elevada de empresas envolvidas com exportação.
O estudo identificou a presença de uma nova geração de empreendedores bem sucedidos e de empreendimentos novos nos países latino-americanos.
Na América Latina os empreendedores bem sucedidos vêm das classes altamente educadas e da classe média. Isso indica que a contribuição dos empreendimentos à mobilidade social é mais baixa na América Latina. Por essa razão, o estudo sugere que as oportunidades devem ser distribuídas de modo mais amplo entre a população a fim de aumentar as fontes de empreendedores bem sucedidos e fortalecer a mobilidade social.
O estudo identifica que a experiência dos empreendores na indústria é uma poderosa fonte de motivação, de competência profissional, de habilidade para resolver problemas, de conhecimento tecnológico.
As políticas governamentais aspirantes devem ser planejadas para ajudar os empreendedores aspirantes, que já têm a experiência e a rede de negócios desenvolvida, para ganhar acesso às oportunidades e aos recursos do negócio que variam além de sua área de conhecimento.
Uma estratégia integrada em favor do desenvolvimento de empreendimentos e programas poderia ser implementada pela promoção e coordenação de iniciativas e de programas de agências e de instituições diferentes.
O estudo do BID sugere que uma estratégia para promover empreendimentos bem sucedidos é um investimento social e requer uma visão de longo prazo. Mas, tal estratégia, na opinião do BID, deve incluir algumas iniciativas de curto prazo para acelerar o seu impacto. São elas:
A educação de potenciais empreendedores é um processo longo que começa durante a formação escolar e se entende pelos anos iniciais do trabalho. Ter empreendedores, é tão importante para uma país quanto ter estradas ou pontes. Eles devem ser avaliados como recursos humanos estratégicos.
No caso da América Latina, a motivação nasce mais cedo e é mais difundida entre as famílias de classe média. Portanto, a criação de empreendimentos dinâmicos requer atenção especial para esse segmento da população. Cada país deve definir quais grupos demográficos e profissionais serão alvos de medidas mais intensivas para incentivar o empreendedorismo.
No leste asiático a mídia mostra freqüentemente as vidas e os negócios dos empreendedores bem sucedidos, criando modelos para potenciais empreendedores. O mesmo não ocorre nos países latino-americanos. A difusão de perfis bem sucedidos dos empreendedores e dos seus empreendimentos contribuirá para despertar o espírito empreendedor e para criar uma base de potenciais empreendedores dinâmicos.