Em defesa da tradição

A cidade de São Paulo contava com pouco mais de 1 milhão de habitantes quando o jovem José Martins Pinheiro Neto, então com 25 anos, decidiu apostar num sonho: criar um dos mais respeitados escritórios de advocacia do país. O ano era 1942. Pinheiro Neto apostava numa vantagem: era um dos poucos advogados que sabiam falar inglês no país. E foi graças a essa habilidade que seu pequeno escritório, localizado num prédio acanhado da rua José Bonifácio, no centro velho, passou a atrair uma importante clientela estrangeira.

O Pinheiro Neto Advogados comemora 60 anos na condição de maior escritório da região e do país, de acordo com duas instituições tradicionais de pesquisa do mundo jurídico: o Thomson Financial, dos Estados Unidos, que prepara rankings de bancos de investimentos e de consultores jurídicos, e a Chambers Global, da Inglaterra, que publica o anuário The Latin Lawyer. Na lista divulgada pelo Thomson Financial, o escritório Pinheiro Neto aparece como o campeão pelo critério de volume de transações envolvendo fusões e aquisições (3,6 bilhões de dólares no ano passado). Já o The Latin Lawyer aponta o Pinheiro Neto como o escritório mais recomendado por seus clientes na América Latina.

"Nosso crescimento ao longo do tempo foi totalmente auto-sustentado", afirma o advogado Hélio Nicoletti, um dos sócios do escritório. "Não crescemos graças à associação ou aquisição de outras bancas, e isso nos deu uma cultura própria. Todo profissional do nosso time tem a mesma visão dos negócios." Além da matriz na capital paulista, o Pinheiro Neto mantém escritórios em Brasília, no Rio de Janeiro e em Londres. Essa preocupação em manter a equipe com uma única filosofia de trabalho fez com que o escritório buscasse sempre formar seus próprios talentos, recrutados nas melhores faculdades, em vez de cooptá-los no mercado.

O Pinheiro Neto é um dos poucos escritórios a oferecer um plano de desenvolvimento profissional estruturado e chance de carreira internacional. Atualmente, dez advogados da equipe fazem mestrado no exterior e outros oito estão estagiando em escritórios fora do país. Dependendo do empenho e da capacidade individual, os profissionais mais jovens podem transformar-se rapidamente numa peça estratégica do time e receber o convite para se tornar sócios.

O modelo de gestão é profissional e há poucos níveis hierárquicos. Sua política de recursos humanos nada deve às melhores existentes no mercado. Os advogados têm direito a um pacote de benefícios que inclui planos de saúde e de previdência privada, seguro de vida, bolsas de estudo e um programa de participação nos resultados que tem gerado, em média, um salário extra por semestre. A premiação está diretamente relacionada à capacitação profissional, à conquista de novos clientes e ao relacionamento mantido com cada um deles. Já para os sócios, a remuneração total pode render no fim do ano algo em torno de 24 salários. Para atender seus clientes, o Pinheiro Neto optou por uma divisão de seus advogados em grupos de especialização. Quando necessário, podem atuar em conjunto em casos que envolvam questões jurídicas de várias áreas, como meio ambiente, trabalhista, fiscal e propriedade intelectual, entre outras. Cada sócio tem sua equipe de advogados, estagiários, paralegais e secretárias. Os times têm suas metas e são avaliados isoladamente.

Um luxuoso escritório ocupa salas em dois prédios vizinhos no mesmo bairro onde tudo começou. É possível transitar entre os dois edifícios sem sair à rua. São sete andares em cada prédio. Num deles há até uma academia de ginástica, com médico e personal trainner à disposição do pessoal. Um dos orgulhos dos mais de 1 100 profissionais que ali trabalham é a biblioteca jurídica. São cerca de 40 000 livros nacionais e estrangeiros e algo em torno de 900 000 folhas de documentação. Para cuidar especificamente de todo esse mundo de informação, o escritório conta com dez bibliotecárias. Toda a legislação federal do país, atualizada diariamente desde 1964, está disponível na rede interna de computadores.

O fundador, Pinheiro Neto, de 85 anos, não mantém mais a rotina de visitas diárias a seu escritório. Ele prefere despachar em casa, mas faz questão de acompanhar de perto a evolução dos negócios de sua empresa.