Crescimento das montadoras em 2005 será moderado, diz Anfavea

Os fabricantes de veículos esperam uma forte desaceleração no crescimento do setor em 2005 (veja tabela abaixo). Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o crescimento de 20% na produção, verificado neste ano, dará lugar a um avanço de 5,4% ano que vem. Em exportações, o crescimento em 2005 será de 7%, ante 45% neste ano.

O primeiro motivo para esse comportamento é claro: a troca de uma base de comparação deprimida em 2003 por outra com bons resultados como 2004. Além disso, os principais fatores para essa suavização de ritmo devem ser a taxa de juros, o comportamento de preços das commodities industriais e agrícolas, o dólar fraco e a cotação do petróleo em patamares elevados. Quanto aos juros, a Anfavea espera taxas reais médias em 2005 de 10,1%, ante 8,3% em 2004. "Financiamos 70% dos veículos comercializados internamente", diz Rogélio Golfarb, presidente da Anfavea, que prevê dificuldades adicionais para as vendas com este incremento de quase 2 pontos percentuais nos juros básicos.

O comportamento dos preços das commodities no mercado internacional também preocupa Golfarb. Enquanto o custo de commodities industriais - como o aço - acumula altas que corroem as margens das empresas, as agrícolas perdem valor, enfraquecendo o agronegócio, importante comprador de veículos. "O preço do aço para a indústria automobilística subiu 64%", diz o presidente da Anfavea, "enquanto o IGP ficou em 11% de janeiro a outubro". Já as commodities agrícolas vêm perdendo fôlego no mercado internacional, com quedas no mesmo período de 12% no caso do milho, 27% para o arroz e 30% para a soja, além de uma depreciação cambial do dólar frente ao real de 6%. "Isso significa que o produtor de soja está recebendo cerca de 40% menos em reais", afirma Golfarb. Em sua avaliação, as perdas de receita não impactam apenas a demanda por máquinas agrícolas (queda de 34% de outubro para novembro), mas também de caminhões, picapes e carros. "O campo puxou muito o mercado interno em 2004."

Mas o comprador de veículos que fez a diferença em 2004 não esteve no campo, e sim no exterior. "O crescimento em 2004 foi muito focado nas exportações", diz Golfarb, para quem o setor soube aproveitar as oportunidades de um mercado internacional "muito aquecido". Graças a esse cenário, a Anfavea elevou sua projeção de receita com exportações neste ano para 8 bilhões de dólares, um crescimento de 45% sobre o ano passado (a entidade esperava avanço de 36%). Em novembro, porém, as montadoras apuraram 746 milhões de dólares com suas vendas externas, 8,1% menos que em outubro.

Os licenciamentos de veículos, dado empregado para avaliar a força do mercado interno, avançaram 1,4% de outubro para novembro. A Anfavea manteve a projeção de 1,54 milhão de carros vendidos em 2004, um crescimento de 7,8% sobre 2003.

Segundo Golfarb, ainda assim o setor deve fechar no vermelho em 2004. "Pouquíssimas montadoras devem mostrar algum lucro", diz, o que impede a indústria de remunerar investimentos. O presidente da Anfavea avalia que, com a futura abertura de mercado decorrente de novos acordos comerciais, é fundamental que as montadoras sejam competitivas para não perder mercado para os importados - o que implica em novos investimentos. "Nosso esforço exportador implica em abertura para importações. Vai chegar o momento em que não haverá tarifa para nos proteger, e nessa hora o que vai contar é custo, qualidade e inovação." Pelo acordo automotivo firmado com o México, por exemplo, em 2005, os mercados poderão comercializar entre si 210 mil veículos com tarifa zero.