Macarrão da Kraft e ketchup da Heinz: o fato de cada lado ser representado por uma única empresa de investment-banking ajudou a acelerar as negociações (Brendan McDermid/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2015 às 20h35.
Nova York - Para um negócio que criará o equivalente a um jumbo no setor de alimentos processados, a fusão da H.J. Heinz e da Kraft Foods Group Inc. foi organizada a uma velocidade alucinante.
Em apenas 10 semanas, a partir de meados de janeiro, as duas empresas entraram em acordo no negócio de US$ 46 bilhões, orquestrado pela firma de private-equity 3G Capital e pela Berkshire Hathaway Inc., de Warren Buffett, que haviam se juntado para comprar a Heinz há dois anos.
O fato de cada lado ser representado por uma única empresa de investment-banking ajudou a acelerar as negociações, segundo fontes informadas sobre o assunto.
Contribuiu também a pressão sobre o CEO da Kraft, John Cahill, para fechar negócio -- ou assistir a 3G realizando uma transação com outra empresa, disseram elas.
A 3G disse a Cahill que a Kraft era a melhor opção, mas ao mesmo tempo deixou claro que iria atrás de outra empresa de alimentos se ambas não conseguissem chegar a um acordo, disseram as fontes.
A ideia de combinar Heinz e Kraft não era nova. A 3G passou meses examinando uma possível oferta e estudando onde seria possível cortar custos no abrangente império da Kraft, que vai dos queijos cremosos ao café.
No início do ano, foi tomada a decisão de seguir em frente com o negócio, segundo as fontes que forneceram os detalhes das negociações e que pediram anonimato por discutirem informações privadas.
No início de janeiro, a 3G convocou seu grupo fechado de conselheiros, formado por banqueiros da Lazard Ltd. e advogados da Cravath, Swaine Moore e da Kirkland Ellis. Como o início do ano normalmente é um período devagar para aquisições, alguns dos conselheiros ainda estavam de férias. A mensagem foi clara: a firma de private equity com sede no Brasil que se tornou a realizadora de negócios mais voraz do mundo no ramo de produtos de consumo estava pronta para atacar novamente.
Relacionamento fácil
Alex Behring da Costa, 48, um dos fundadores da 3G e presidente do Conselho de Administração da Heinz, pegou um avião para Chicago e dirigiu os últimos 24 quilômetros até o subúrbio próximo de Northfield, reduto da Kraft. Embora tenha sido a primeira vez em que ele esteve com Cahill, os dois homens iniciaram rapidamente um relacionamento fácil.
Até mesmo na primeira reunião, Cahill reconheceu a lógica de combinar as duas empresas, e ambos concordaram em reunir-se novamente em Nova York, onde evitariam levantar suspeitas.
Ao longo das semanas seguintes, Cahill e altos executivos da Kraft visitaram frequentemente a sede da 3G para negociar. Cahill e sua equipe pressionaram por um prêmio grande para justificar aos acionistas a perda do controle da empresa.
Os conselheiros da Heinz e da Kraft entraram em acordo ao avaliar a Kraft em torno de US$ 85 e US$ 90 por ação, disseram duas fontes que trabalharam no negócio, ou cerca de US$ 50 bilhões em valor patrimonial. Essa cifra inclui o pagamento de dividendos de US$ 16,50 por ação e um prêmio para os acionistas da Kraft, disseram as fontes.
Preocupações antitruste
A 3G não fez segredo de que queria fechar um meganegócio. Alvos como Kellogg Co., Campbell Soup Co. e Mondelēz International Inc., a divisão de lanches da qual a Kraft foi separada, vinham sendo especulados há meses. Cahill estava ciente da vantagem de fazer negócio primeiro ou, caso contrário, enfrentar a perspectiva de que uma concorrente fechasse uma transação semelhante depois, disse uma fonte informada sobre o assunto.
Outro fator que permitiu que o negócio transcorresse em um ritmo tão rápido foi a ausência de preocupações antitruste, o que muitas vezes é um ponto de atrito nas fusões.
“As marcas das duas empresas não são concorrentes, e nas fusões de empresas de itens de consumo embalados os produtos podem ser vendidos facilmente se os órgãos reguladores estiverem preocupados com a perda de concorrência entre qualquer uma delas”, disse Fiona Scott Morton, ex-economista-chefe da divisão antitruste do Departamento de Justiça, atualmente na Faculdade de Administração de Yale.
O negócio é a primeira transação acima de US$ 10 bilhões que não incluiu grandes bancos -- dominantes no mercado de assessoria a fusões e aquisições -- em pelo menos uma década. A Centerview Partners LLC atuou como conselheira da Kraft, e a Lazard assessorou a Heinz.