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Bertin nega que tenha dado passo maior que as pernas em infraestrutura

Grupo Bertin desiste de ser autoprodutor em Belo Monte, nega necessidade de dar garantias, mas também não garante ter caixa para todos os seus projetos

Rio Xingu, onde será feita a usina de Belo Monte: a Bertin energia nega que tenha enfrentado pressões para sair do consórcio e também que tenha sido cobrada a apresentar garantias ao BNDES, no valor de 1,6 bilhão de reais (Wikimedia Commons)
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Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 21h38.

São Paulo – Nas últimas semanas, o Bertin esteve envolvido em diversas situações que podem indicar falta de condições de cumprir os compromissos assumidos em termoelétricas, hidrelétricas e rodovias – a maior aposta do grupo depois de vender seus frigoríficos para o JBS Friboi. O grupo nega que enfrente dificuldades. “O grupo não dá um passo maior que as pernas”, disse o diretor presidente do Bertin Energia, José Malta, a EXAME.com.

O problema com hidrelétricas já foi resolvido. Hoje, o braço de energia do grupo, representado pela Gaia, decidiu sair do consórcio Norte Energia, responsável pela construção e operação de Belo Monte. A Contern Construtora, empresa do Grupo Bertin para obras, porém, vai continuar no projeto.

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A empresa nega que tenha enfrentado pressões para sair do consórcio e também que tenha sido cobrada a apresentar garantias ao BNDES, no valor de 1,6 bilhão de reais. Fontes ouvidas por EXAME.com indicam que a Gaia era mal vista entre os parceiros do consórcio, devido aos problemas que estaria causando aos parceiros, como a incerteza quanto à sua capacidade de honrar os compromissos assumidos com o consórcio. “O que fazer com a Gaia Energia sempre foi o ponto mais sensível do consórcio”, afirmou um executivo que participa da operação.

Isto porque os movimentos do Bertin no setor de infraestrutura foram considerados erráticos por seus parceiros, o que teria despertado reservas quanto à capacidade de a empresa cumprir seus compromissos. De compra de termelétricas a operação de rodovias, passando pela busca de parceiros para a construção do trem-bala brasileiro, cada movimento do Bertin deixava o consórcio Norte Energia, de Belo Monte, com o coração na mão. “A gota d’água foi a entrada do Bertin no Rodoanel. Faltava transparência da empresa para que entendêssemos suas decisões”, disse a fonte do consórcio.

Intriga da oposição

Malta nega que o Bertin passou por problemas com os demais membros do consórcio. Para outro executivo do grupo, as últimas notícias não passam de uma orquestração contra a companhia. “Será que não tem aí uma campanha difamatória por trás disso (das garantias para belo monte)? Eu tenho certeza”, disse Antônio Kelson Elias Filho, diretor-presidente da Contern Construção – um dos braços do Bertin para obras e de infraestrutura.


O fato de a Gaia ainda ter que solucionar sua situação como autoprodutora no consórcio não preocupava o Bertin. “Tinha cinco anos pra resolver isso”, disse Antônio Elias Filho, da Contern Construções. Malta afirmou que a Gaia havia feito os aportes que lhe foram solicitados em Belo Monte – no valor de cerca de 10 milhões de reais. A opção de sair de Belo Monte foi tomada por conta do atraso na obtenção de financiamento para as termoelétricas, segundo Malta.

O Bertin Energia nega que haja atraso na entrega das seis termoelétricas previstas para entrar em operação no último dia 31 de janeiro. “Não consideramos essas usinas atrasadas, porque existe um pleito perante a Aneel. Houve problemas burocráticos dentro da agência, na emissão de atos de outorga, então entendemos que precisávamos de um prazo maior no cronograma. Não tem multa para isso”, disse Malta.

Malta também nega a necessidade de pagamento de garantia de 150 milhões de reais à CCEE pelo funcionamento das termoelétricas. “Não reconheço nenhuma penalidade ou garantia a ser depositada na CCEE”, disse.

As seis usinas, cuja previsão inicial de entrega o final de janeiro, devem ser concluídas entre julho e agosto deste ano. O financiamento necessário é de 1,7 bilhão de reais. Parte virá da financiadora alemã Hermes (727,8 milhões de reais), parte (642 milhões de reais) do BNDES e o restante de capital próprio. O BNDES, porém, ainda não liberou o montante, segundo Malta.

As outras usinas que ainda precisam de financiamento são as do complexo José de Alencar –que também deve começar a funcionar em julho ou agosto. Nesse caso, o financiamento virá de uma agência financiadora dos Estados Unidos, onde foram compradas as turbinas.

Rodoanel

Conforme antecipado por EXAME.com, na última terça-feira (8/2) o Grupo Bertin pediu para que a assinatura do contrato de concessão do trecho leste-sul do Rodoanel paulista fosse adiada para o próximo mês. A postergação, por 30 dias, é permitida contratualmente.

O contrato não foi assinado na última semana porque a SPMar (o consórcio formado pelas duas empresas do Bertin que venceram a licitação) ainda estava fazendo os inventários – avaliando os trechos e ajustes que teriam que ser feitos. “Além dos inventários, há uma série de outros itens que têm que ser cumpridos, antes da assinatura do contrato”, disse Kelson.

A assinatura do contrato exige o pagamento de 370 milhões de reais (referentes à outorga de concessão), dois dias antes da assinatura. “No nosso caso, já demos as garantias de 540 milhões de reais e elas foram aceitas. E temos mais de 370 milhões de reais. O dinheiro já está depositado em uma conta separada, a pedido do acionista”, disse o presidente da Contern.

“Todas as últimas seis concessões que o estado de São Paulo assinou usufruíram de postergar por mais tempo”, disse Kelson. Uma delas, depois, foi substituída pela segunda colocada no leilão. No leilão, o consórcio do Bertin apresentou deságio de cerca de 63% - os grupos concorrentes apresentaram menos de 15% de deságio. O Rodoanel é apontado pelo mercado como um projeto assumido pelo Bertin que gerou ainda mais desconfiança no mercado. “É uma proposta inacreditável”, disse uma fonte que participou da licitação a EXAME.com.


Mas o grupo não parou por aí. O Bertin prepara-se para participar, por meio da Contern, de uma licitação no exterior, avaliada em 1,6 bilhão de reais. O objeto da concorrência é  uma hidrelétrica que seria construída e operada com um parceiro local. “Isso não implica em absolutamente nada de financiamento”, disse Kelson.

“Empresa nenhuma tem condições de financiar um trem-bala. Qual é a desconfiança sobre o Grupo Bertin? Por que protelamos o Rodoanel por 30 dias, como todos os outros? Por que esse peso em cima?”, questionou Kelson. “Temos capacidade de fazer o que estamos fazendo e o dobro”, afirmou. Os executivos do Bertin não forneceram a situação do caixa do grupo – seja da área de energia, seja da construtora, um dado que poderia acalmar o mercado. Também não exibiram os contratos em que haveria a dispensa da cobrança das garantias nas suas usinas termelétricas. Segundo Malta, a maior prova de que o grupo está em condições de bancar todos os seus projetos é o fato de que todos eles estão em implantação. “Não tem nada parado, está tudo andando pra frente”, disse Malta. Resta saber se a sua palavra será suficiente para acalmar o mercado.

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