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;As crises passam, os países ficam;, afirma Gros

"Fincamos nosso pé na Argentina, que para uma empresa brasileira, é uma extensão lógica no nosso mercado", afirma o presidente da Petrobras, Francisco Gros. Para ele, a tendência será de crescimento "mesmo na crise". "Os países não desaparecem, as crises passam e os países ficam." Leia a seguir os principais trechos da entrevista: Exame - […]

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

"Fincamos nosso pé na Argentina, que para uma empresa brasileira, é uma extensão lógica no nosso mercado", afirma o presidente da Petrobras, Francisco Gros. Para ele, a tendência será de crescimento "mesmo na crise". "Os países não desaparecem, as crises passam e os países ficam." Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Exame - Por que a Petrobras precisa se internacionalizar?

Francisco Gros -
A Petrobras tem todos os elementos para ser competitiva. Ela tem bons ativos, tem tecnologia, tem recursos humanos motivados e de ótima qualidade. Mas tem um calcanhar de aquiles que é o custo de capital. O nosso capital é caro em função do fato de sermos uma empresa brasileira. A diversificação regional vai contribuir para a diversificação do nosso custo de capital, dos fluxos da empresa, de receitas, de ativos em vários mercados. A Petrobras tem todos os elementos para ser competitivo. Ela tem bons ativos, tem tecnologia, tem recursos humanos motivados e de ótima qualidade e tem um calcanhar de aquiles que é o custo de capital. O nosso capital é caro em função do fato de sermos uma empresa brasileira. A diversificação regional vai contribuir para a diversificação do nosso custo de capital. A lógica da internacionalização tem tudo a ver com uma lógica de redução de custo de capital que hoje ainda é uma das nossas principais vulnerabilidades.

EXAME - Quais os critérios de expansão?

Gros -
Quando se pensa em internacionalização, é preciso se levar em conta existe petróleo em 90 países do mundo. Então temos que raciocinar em termos de foco. Nós definimos que queríamos crescer em três lugares: costa oeste da África, Golfo do México e América latina. Nessas três áreas nós temos vantagens competitivas. Temos algo a agregar. Ou tecnologia de águas profundas, como é o caso da costa da África e do Golfo do México, e um relativo conforto com as condições econômicas e políticas da região que é o caso da América Latina. Nós sentimos um grau de conforto maior que as nossas principais concorrentes de operar na América Latina. E foi por aí que nós começamos a crescer. Estamos investindo em produção e exploração na costa da África, estamos aumentando os nossos investimentos no Golfo do México e estamos há algum tempo procurando oportunidades de crescimento na América Latina. Já nos tornamos a maior empresa da Bolívia num ambiente competitivo e nós estamos competindo com Shell, Total, Repsol, com a Enron. Competimos com todos e somos a maior empresa do país, com uma marca respeitada. No ano passado, entramos na Argentina com a troca de ativos com a Repsol. Fincamos nosso pé na Argentina, que para uma empresa brasileira, é uma extensão lógica no nosso mercado. É nosso parceiro no Mercosul, é o segundo maior mercado da América do Sul. Tem tudo a ver com a gente. Este ano demos prosseguimento a essa estratégia com a aquisição da Perez Companc, com a compra da Santa Fé e agora com todo esse programa de introdução da marca Petrobras na Argentina. É um programa no qual eu deposito muita esperança.

EXAME - Mesmo com a crise a Argentina é um bom negócio?

Gros -
Mesmo na crise a tendência será crescermos na Argentina porque, por definição, a crise é passageira. Os países não desaparecem, as crises passam e os países ficam. A crise cria oportunidades e nós verificamos no momento que os ativos na Argentina estão baratos, os custos de investimento estão baratos e parece uma boa oportunidade entrar no país agora, pagando os preços que estamos pagando, do que os preços pagos pela Repsol quando ela entrou. Eles pagaram 15 bilhões de dólares pela YPF e nós 1,1 bi pela Perez Companc. O preço pago reflete as circunstância atuais da economia argentina. É o preço da crise. Até porque esse ativo não estaria a venda senão fosse a crise.

EXAME - Qual a imortância da Perez Companc na estratégia da Petrobras?

Gros -
Na produção e exploração, ativos de maior interesse para a Petrobras, só 40% estão na Argentina. Outros 40% estão na Venezuela que é um mercado que nos interessa muito e 20% na Bolívia. No caso da Perez Companc não estamos comprando somente ativos, mas também uma companhia viva, com uma estratégia, com uma boa equipe de administradores.

EXAME - Qual a estratégia no Golfo do México?

Gros -
Ali nosso foco são as refinarias. A lógica é dupla. Hoje nós detemos 98% da capacidade de refino no Brasil e se pretendemos ter um mercado competitivo é importante que os novos investimentos em refino sejam feitos por outras empresas. Se queremos construir um mercado competitivo temos que ter outras empresa. Por outro lado a Petrobras é uma empresa exportadora de petróleo, através da Marlin, e nós gostaríamos de processar esse petróleo no exterior para agregar valor a essa cadeia de exportação. A busca de uma refinaria na costa leste dos EUA nos parece uma iniciativa estratégica aconselhável. Estamos em processo de busca. Faz parte da estratégia. Seremos parceiros aqui no Brasil se o investidor desejar uma parceria com a Petrobras. Mas seria importante que o investimento fosse realizado por novos investidores.

EXAME - Nessa estratégia de internacionalização qual é o principal foco da Petrobras?

Gros -
Sem dúvida a Argentina dado o tamanho do mercado. Nossa estratégia é Panamericana. Queremos crescer na América Latina como um todo. Mas é preciso ficar claro que nós entramos na Argentina em condições vantajosas mas isso não muda a realidade da Petrobras que é essencialmente uma realidade brasileira e continuará sendo, por mais bem sucedido que seja o processo de internacionalização. A Petrobras está sendo muito criticada por ter, recentemente, feito uma concorrência que foi ganha por uma empresa de Cingarpura a Jurong para construção de uma plataforma. O que se reclama é que, havendo estaleiros em condições de tocar a obra do Brasil, a Petrobras vai fazer uma obra fora do Brasil para gerar emprego e renda fora do Brasil.

EXAME - Como o senhor avalia as críticas, inclusive do candidato do PT à presidência, Luís Inácio Lula da Silva?

Gros -
Tudo o que a gente diz é que está sendo lançada uma concorrência internacional. Não tem impedimento de empresa nacional e nem estrangeira. Se o que se propõe é uma reserva de mercado para empresas nacionais, isto teria que ser uma decisão de governo e não da Petrobras. Eu pessoalmente acho que seria um erro. Reserva de mercado não serve muito. Mas, se o governo decidir criar reservas de mercado, a Petrobras obedecerá a legislação existente.

EXAME - Mas a Petrobras não poderia pelo menos estabelecer como condição que as plataformas sejam feitas aqui, independente de a empresa ser nacional ou estrangeira? Ou seja, estabelecer incentivos para que se construa as plataformas aqui?

Gros -
Repito. Essa tem que ser uma decisão de governo e não da companhia. A Petrobras tem como missão defender os interesses dos acionistas e, para isso, buscará as melhores condições de preço, prazo e tecnologia. Mas, se o governo decidir que as plataformas serão feitas no Brasil, nós acataremos a decisão.

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"Fincamos nosso pé na Argentina, que para uma empresa brasileira, é uma extensão lógica no nosso mercado", afirma o presidente da Petrobras, Francisco Gros. Para ele, a tendência será de crescimento "mesmo na crise". "Os países não desaparecem, as crises passam e os países ficam." Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Exame - Por que a Petrobras precisa se internacionalizar?

Francisco Gros -
A Petrobras tem todos os elementos para ser competitiva. Ela tem bons ativos, tem tecnologia, tem recursos humanos motivados e de ótima qualidade. Mas tem um calcanhar de aquiles que é o custo de capital. O nosso capital é caro em função do fato de sermos uma empresa brasileira. A diversificação regional vai contribuir para a diversificação do nosso custo de capital, dos fluxos da empresa, de receitas, de ativos em vários mercados. A Petrobras tem todos os elementos para ser competitivo. Ela tem bons ativos, tem tecnologia, tem recursos humanos motivados e de ótima qualidade e tem um calcanhar de aquiles que é o custo de capital. O nosso capital é caro em função do fato de sermos uma empresa brasileira. A diversificação regional vai contribuir para a diversificação do nosso custo de capital. A lógica da internacionalização tem tudo a ver com uma lógica de redução de custo de capital que hoje ainda é uma das nossas principais vulnerabilidades.

EXAME - Quais os critérios de expansão?

Gros -
Quando se pensa em internacionalização, é preciso se levar em conta existe petróleo em 90 países do mundo. Então temos que raciocinar em termos de foco. Nós definimos que queríamos crescer em três lugares: costa oeste da África, Golfo do México e América latina. Nessas três áreas nós temos vantagens competitivas. Temos algo a agregar. Ou tecnologia de águas profundas, como é o caso da costa da África e do Golfo do México, e um relativo conforto com as condições econômicas e políticas da região que é o caso da América Latina. Nós sentimos um grau de conforto maior que as nossas principais concorrentes de operar na América Latina. E foi por aí que nós começamos a crescer. Estamos investindo em produção e exploração na costa da África, estamos aumentando os nossos investimentos no Golfo do México e estamos há algum tempo procurando oportunidades de crescimento na América Latina. Já nos tornamos a maior empresa da Bolívia num ambiente competitivo e nós estamos competindo com Shell, Total, Repsol, com a Enron. Competimos com todos e somos a maior empresa do país, com uma marca respeitada. No ano passado, entramos na Argentina com a troca de ativos com a Repsol. Fincamos nosso pé na Argentina, que para uma empresa brasileira, é uma extensão lógica no nosso mercado. É nosso parceiro no Mercosul, é o segundo maior mercado da América do Sul. Tem tudo a ver com a gente. Este ano demos prosseguimento a essa estratégia com a aquisição da Perez Companc, com a compra da Santa Fé e agora com todo esse programa de introdução da marca Petrobras na Argentina. É um programa no qual eu deposito muita esperança.

EXAME - Mesmo com a crise a Argentina é um bom negócio?

Gros -
Mesmo na crise a tendência será crescermos na Argentina porque, por definição, a crise é passageira. Os países não desaparecem, as crises passam e os países ficam. A crise cria oportunidades e nós verificamos no momento que os ativos na Argentina estão baratos, os custos de investimento estão baratos e parece uma boa oportunidade entrar no país agora, pagando os preços que estamos pagando, do que os preços pagos pela Repsol quando ela entrou. Eles pagaram 15 bilhões de dólares pela YPF e nós 1,1 bi pela Perez Companc. O preço pago reflete as circunstância atuais da economia argentina. É o preço da crise. Até porque esse ativo não estaria a venda senão fosse a crise.

EXAME - Qual a imortância da Perez Companc na estratégia da Petrobras?

Gros -
Na produção e exploração, ativos de maior interesse para a Petrobras, só 40% estão na Argentina. Outros 40% estão na Venezuela que é um mercado que nos interessa muito e 20% na Bolívia. No caso da Perez Companc não estamos comprando somente ativos, mas também uma companhia viva, com uma estratégia, com uma boa equipe de administradores.

EXAME - Qual a estratégia no Golfo do México?

Gros -
Ali nosso foco são as refinarias. A lógica é dupla. Hoje nós detemos 98% da capacidade de refino no Brasil e se pretendemos ter um mercado competitivo é importante que os novos investimentos em refino sejam feitos por outras empresas. Se queremos construir um mercado competitivo temos que ter outras empresa. Por outro lado a Petrobras é uma empresa exportadora de petróleo, através da Marlin, e nós gostaríamos de processar esse petróleo no exterior para agregar valor a essa cadeia de exportação. A busca de uma refinaria na costa leste dos EUA nos parece uma iniciativa estratégica aconselhável. Estamos em processo de busca. Faz parte da estratégia. Seremos parceiros aqui no Brasil se o investidor desejar uma parceria com a Petrobras. Mas seria importante que o investimento fosse realizado por novos investidores.

EXAME - Nessa estratégia de internacionalização qual é o principal foco da Petrobras?

Gros -
Sem dúvida a Argentina dado o tamanho do mercado. Nossa estratégia é Panamericana. Queremos crescer na América Latina como um todo. Mas é preciso ficar claro que nós entramos na Argentina em condições vantajosas mas isso não muda a realidade da Petrobras que é essencialmente uma realidade brasileira e continuará sendo, por mais bem sucedido que seja o processo de internacionalização. A Petrobras está sendo muito criticada por ter, recentemente, feito uma concorrência que foi ganha por uma empresa de Cingarpura a Jurong para construção de uma plataforma. O que se reclama é que, havendo estaleiros em condições de tocar a obra do Brasil, a Petrobras vai fazer uma obra fora do Brasil para gerar emprego e renda fora do Brasil.

EXAME - Como o senhor avalia as críticas, inclusive do candidato do PT à presidência, Luís Inácio Lula da Silva?

Gros -
Tudo o que a gente diz é que está sendo lançada uma concorrência internacional. Não tem impedimento de empresa nacional e nem estrangeira. Se o que se propõe é uma reserva de mercado para empresas nacionais, isto teria que ser uma decisão de governo e não da Petrobras. Eu pessoalmente acho que seria um erro. Reserva de mercado não serve muito. Mas, se o governo decidir criar reservas de mercado, a Petrobras obedecerá a legislação existente.

EXAME - Mas a Petrobras não poderia pelo menos estabelecer como condição que as plataformas sejam feitas aqui, independente de a empresa ser nacional ou estrangeira? Ou seja, estabelecer incentivos para que se construa as plataformas aqui?

Gros -
Repito. Essa tem que ser uma decisão de governo e não da companhia. A Petrobras tem como missão defender os interesses dos acionistas e, para isso, buscará as melhores condições de preço, prazo e tecnologia. Mas, se o governo decidir que as plataformas serão feitas no Brasil, nós acataremos a decisão.

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