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Aprendizes de capitalismo

O banco JP Morgan oferece o primeiro emprego a jovens da periferia

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h16.

A semana de 22 a 26 de julho bateu recordes de tensão. Começou com a queda das bolsas sob o impacto do pedido de concordata da WorldCom, gigante americana das telecomunicações, e terminou com o dólar rompendo a barreira dos 3 reais. Luis Fernando Silva, de 18 anos, estava no meio desse turbilhão. Foram seus primeiros dias como técnico de manutenção dos computadores do escritório paulistano do JP Morgan, banco de investimentos americano. A função é sua maior conquista desde o início do trabalho na instituição. Luis Fernando é um dos oito integrantes da primeira turma do programa Aprendizes do JP Morgan, iniciativa que abriu as portas de áreas restritas do banco para a periferia de São Paulo. Com 17 e 18 anos, eles foram indicados pelo Centro Profissionalizante de Adolescentes (CPA), de São Mateus, na zona leste. Com base na Lei do Aprendiz e com recursos do Instituto Credicard, o CPA está criando uma central para cadastrar e encaminhar adolescentes da região ao primeiro emprego. O programa do JP Morgan é uma espécie de piloto. Desde 1999, o banco liberou 196 000 reais para projetos da entidade. Está investindo 80 000 nos aprendizes.

Apesar do entrosamento institucional dos parceiros, a consultora Ana Luisa Vieira, coordenadora do programa, temia que os jovens sofressem um "choque cultural e de gestão". Os aprendizes transitam entre dois mundos. Viajam quase duas horas de ônibus do distrito de Iguatemi, um dos locais mais carentes e violentos de São Paulo, até o imponente prédio do banco na avenida Brigadeiro Faria Lima. O JP Morgan é um dos ícones do capitalismo financeiro. O CPA tem bases populares. Nasceu por iniciativa da Pastoral Operária, em 1978, para profissionalizar trabalhadores do ABC e promover a conscientização política da categoria. Com a democratização e a abertura econômica nos anos 80 e 90, reforçou o discurso crítico, mas mudou os métodos de ação e firmou alianças com grandes empresas. Entre seus parceiros estão o Instituto C&A, a Fundação Abrinq e o Comunidade Solidária. Os dois mundos alimentam polêmicas internas e também garantem as iniciativas que buscam combater o desemprego juvenil. Segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), 45% dos 1,8 milhão de desempregados da região metropolitana têm entre 15 e 24 anos. "A falta de perspectiva dos jovens é uma das causas do aumento da violência em São Paulo", diz Flariston da Silva, coordenador-geral do CPA. "O emprego devolve a capacidade de sonhar e projetar o futuro."

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O programa do JP Morgan foi montado para apresentar a experiência do primeiro emprego de acordo com as condições reais do mercado e da companhia. Os jovens passam por setores como de compras, de administração, de documentação e jurídico. A turma chegou em fevereiro e deveria sair em agosto. Mas seu esforço, sua dedicação e sua simpatia conquistaram o afeto e o respeito dos funcionários. Os contratos foram prorrogados até dezembro. Cada participante ganha 300 reais mensais por uma jornada diária de seis horas. Tem carteira assinada, assistência médica, vales-transporte e refeição e aulas de inglês. "Sou um rapaz negro e este é um importante banco americano", diz Luis Fernando. "Estou aqui para aprender o máximo no menor tempo possível e mostrar que a qualidade do trabalho não depende da origem nem da cor, mas da garra."

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