Putin aposta que carvão ainda tem futuro e quer modernizar ferrovias
Governo russo está gastando mais de US$ 10 bilhões para melhorar as ferrovias do país, o que ajudará a impulsionar as exportações da commodity
Bloomberg
Publicado em 31 de maio de 2021 às 16h21.
Por Yuliya Fedorinova e Áine Quinn, da Bloomberg
Governos europeus elaboram planos para eliminar o carvão, usinas elétricas a carvão nos Estados Unidos estão sendo fechadas com a queda dos preços da energia limpa e novos projetos na Ásia são descartados à medida que bancos evitam financiar o combustível fóssil mais poluente.
Mas na Rússia, o governo do presidente Vladimir Putin está gastando mais de US$ 10 bilhões para modernizar ferrovias, o que ajudará a impulsionar as exportações da commodity. Autoridades usarão detentos para ajudar a acelerar as obras, uma prática comum na era soviética.
O projeto para modernizar e expandir ferrovias com destino ao portos do Extremo Oriente da Rússia é parte de uma iniciativa para tornar o país um dos últimos exportadores do combustível fóssil à medida que outras nações migram para alternativas mais verdes. O governo aposta que o consumo de carvão continuará a aumentar em grandes mercados asiáticos como a China, mesmo sendo eliminado em outros lugares.
“É realista esperar que a demanda asiática por carvão importado aumente se as condições forem adequadas”, disse Evgeniy Bragin, vice-presidente executivo da UMMC Holding, que possui uma empresa de carvão na região de Kuzbass, no oeste da Sibéria. “Precisamos continuar desenvolvendo e expandindo a infraestrutura ferroviária para que tenhamos oportunidade de exportar carvão.”
O mais recente projeto de 720 bilhões de rublos (US$ 9,8 bilhões) para expandir as duas ferrovias mais extensas da Rússia - a Transiberiana e a Baikal-Amur Mainline, que conectam o oeste da Rússia ao Oceano Pacífico - terá como objetivo aumentar a capacidade de carga de carvão e outros bens para 182 milhões de toneladas por ano até 2024. A capacidade mais do que dobrou, para 144 milhões de toneladas, sob um plano de modernização de 520 bilhões de rublos iniciado em 2013. Putin pediu mais rapidez na próxima etapa em reunião com mineradoras de carvão em março.
“A Rússia tenta monetizar suas reservas de carvão rápido o suficiente para que o carvão contribua para o PIB em vez de ficar preso no solo”, disse Madina Khrustaleva, analista especializada na região da TS Lombard, em Londres.
Putin aposta que a fronteira terrestre de seu país com a China e boas relações com o presidente Xi Jinping devem tornar a Rússia uma candidata natural para dominar as exportações ao mercado chinês, que consome mais da metade do carvão mundial. Além disso, a Austrália, atualmente o maior exportador de carvão, enfrenta restrições comerciais com a China em meio à disputa diplomática sobre as origens do coronavírus.
Mas o plano está repleto de riscos, tanto para a economia da Rússia quanto para o planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU recomenda a eliminação imediata do carvão para evitar o aquecimento global catastrófico, e os efeitos da mudança climática podem gerar bilhões de dólares em custos para a Rússia nas próximas décadas.
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