Opositores venezuelanos protestam contra 'humilhação' a deputado preso
Cerca de 300 pessoas protestaram para exigir a libertação de Juan Requesens, detido por supostamente apoiar o "atentado" denunciado pelo presidente Maduro
AFP
Publicado em 11 de agosto de 2018 às 16h59.
"Juan, escuta, sua luta é nossa luta", cantavam em coro cerca de 300 pessoas que protestaram neste sábado em uma praça de Caracas para exigir a libertação do deputado opositor Juan Requesens, detido na terça-feira por supostamente apoiar o "atentado" denunciado pelo presidente Nicolás Maduro.
A manifestação, convocada pela opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), contou com a presença da irmã do parlamentar, Rafaela Requesens, e seu pai, Gregorio Requesens, assim como de deputados do Parlamento, de maioria opositora.
Os familiares do legislador denunciaram que nem eles nem seus advogados puderam vê-lo. "Meu filho está desaparecido", afirmou Gregorio Requesens.
Nesta sexta-feira, Requesens foi trasladado a tribunais, mas sua audiência foi adiada para segunda-feira.
"Embora tenham sequestrado Juan, não apenas nós, mas todo o povo venezuelano, exige a sua liberdade. Maduro, você sabe que tem pouco tempo", expressou Rafaela ante os manifestantes, que a aplaudiram.
Juan Requesens, 29 anos, foi detido na terça-feira pelo serviço de inteligência (Sebin) em Caracas. Depois disso, a governista Assembleia Constituinte retirou a sua imunidade parlamentar e a do deputado Julio Borges, contra o qual há uma ordem de captura pelo ataque contra Maduro, mas ele está exilado na Colômbia.
O parlamentar Juan Andrés Mejía pediu que a "indignação" que os venezuelanos sentem pela detenção de Requesens os anime a protestar para pedir uma mudança de governo.
No sábado passado, Maduro saiu às pressas de um ato militar devido a um ataque com drones carregados de explosivos. Ele denunciou um "magnicídio frustrado".
A investigação sofreu uma reviravolta depois que Requesens admitiu, em um vídeo feito na prisão, ter tido contato com um dos supostos envolvidos no atentado.
No vídeo, o deputado diz que ajudou Juan Monasterios, ex-militar detido pelo ataque, a entrar na Venezuela a partir da Colômbia. Monasterios testemunhou ter contribuído para a entrada dos drones no país.
Os opositores denunciam que Requesens foi ameaçado ou drogado para dar esse depoimento.
"Juan Requesens foi, sem dúvida alguma, torturado. Mesmo que seu corpo não tenha sido espancado (...), a tortura branda existe e significa ameaçar, amedrontar e inclusive talvez drogar uma pessoa para conseguir dela o que se espera", denunciou Mejía.
Na sexta-feira, a imprensa local divulgou um vídeo de Requesens - que, segundo a oposição, foi gravado em seu lugar de detenção - onde o deputado só está vestindo uma cueca suja e obedece a ordens de um homem que lhe pede que se vire enquanto é filmado.
Vários homens tiraram a roupa no protesto e ficaram de cueca, denunciando a "humilhação" a Requesens e pedindo que seu devido processo seja respeitado.
"Decidimos nos despir porque se humilham um, humilham todos, se prendem um, vão ter que prender todos nós", disse à AFP Daniel Santos, estudante de 19 anos.