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Ele deixou Princeton para catar lixo

Como o empresário Tom Szaky se tornou o principal parceiro de grandes indústrias, como Kraft e Pepsico, para transformar embalagens usadas em novos objetos

Szaky: parcerias com mais de 20 grandes indústrias para reciclar embalagens (.)

Szaky: parcerias com mais de 20 grandes indústrias para reciclar embalagens (.)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Empresas podem nascer de maneiras inusitadas. A fabricante de produtos reciclados americana TerraCycle é prova disso. O fundador, Tom Szaky, húngaro que imigrou ainda criança com os pais para o Canadá, seguiu os passos tradicionais de um empreendedor até o ponto em que era um estudante de economia na Universidade Princeton, nos Estados Unidos, obcecado por ter um negócio próprio.

O momento "eureca" surgiu de maneira inesperada quando, aos 19 anos, ele voltou de férias para o Canadá. Lá Szaky reencontrou "Marley", um pezinho de maconha que havia deixado quase à beira da morte sob os cuidados de um amigo. Para sua surpresa, Marley se tornara um belíssimo exemplar de Cannabis, verde e frondoso. O segredo da recuperação? Esterco de minhoca, fertilizante que o amigo obtinha ao alimentar os animais com lixo orgânico. Pronto. Nascia ali, em 2001, a TerraCycle. Na volta às aulas, Szaky conseguiu um galpão em Princeton para montar sua primeira linha de produção. Fez um acordo para receber o lixo orgânico de um dos refeitórios da faculdade e, com empréstimos dos pais e dos amigos, comprou por 20 000 dólares uma máquina para processar o fertilizante. Meses depois, abandonou os estudos para se dedicar apenas ao negócio. Hoje ele vende o produto em garrafas de plástico usadas para redes como Wal-Mart e Home Depot nos Estados Unidos.

Szaky ainda não está nadando em dinheiro - a TerraCycle faturou 8 milhões de dólares em 2008 e o lucro é esperado apenas para 2011. Mas poucos empreendedores conseguiram atrair tanta atenção de grandes empresas nos últimos anos quanto ele. Tamanha evidência não tem apenas a ver com o esterco de minhoca - que ainda representa a maior parte (não revelada) de suas vendas. Mas também com um portfólio de produtos reciclados, como vasos e sacolas fabricados com embalagens de alimentos, que depois são vendidos em grandes redes de supermercados. Hoje ele tem parcerias de coleta e produção desses objetos com mais de 20 indústrias, como Kraft, Mars e Ben & Jerry’s, nos Estados Unidos. Sua parceria mais recente é com a Pepsico do Brasil. Szaky acaba de colocar 10 150 artigos - entre mochilas e carteiras - em 69 lojas do Wal-Mart no país, produzidos com embalagens de Elma Chips, como Ruffles e Fandangos. "Onde as pessoas veem lixo, vejo dinheiro, e uma oportunidade de ajudar o planeta ao mandar menos resíduos para os aterros", disse Szaky a EXAME. 


A estratégia do "lixo patrocinado" - como Szaky a chama - começou em 2007, quando o empresário Seth Goldman, fundador da marca americana de chá orgânico Honest Tea, desafiou Szaky a criar uma solução ecologicamente correta para as embalagens plásticas de uma linha voltada para crianças que iria lançar. No mesmo ano, Szaky recebeu uma proposta semelhante de Gary Hirshberg, fundador e presidente da Stonyfield Farm, líder em iogurtes orgânicos nos Estados Unidos, hoje nas mãos da francesa Danone.

Hirshberg queria de Szaky uma solução para os potes de iogurte descartados da marca, também de plástico. Szaky transformou as embalagens de suco em sacolas e os potes de iogurte em vasos para plantas.

SUA GRANDE SACADA foi criar um modelo de negócios sedutor tanto para grandes empresas como para consumidores em tempos de aquecimento global. No caso das grandes empresas, ele consegue emprestar uma imagem sustentável a um risco baixo. O único investimento que uma grande indústria tem de fazer é patrocinar pontos de coleta das embalagens.

Para recolher em todo o território americano as embalagens descartadas que usa para fabricar muitos de seus produtos, por exemplo, a TerraCycle criou o que batizou de "brigadas". Na prática, são pessoas de todas as idades que, cadastradas numa escola, numa igreja ou numa ONG, recebem da empresa uma bonificação simbólica de alguns centavos de dólar por embalagem que coletam e enviam gratuitamente pelo correio para a sede da TerraCycle, em Trenton, no estado de Nova York. Atualmente, a empresa tem cadastradas cerca de 30 000 brigadas no país. Todo o custo envolvido nessas brigadas é coberto hoje por grandes indústrias. Boa parte do acabamento dos produtos finais está terceirizada para indústrias mexicanas - e é bancada integralmente pela TerraCycle. "Adoramos a maneira com que eles usam as embalagens, envolvem os consumidores no processo de coleta e ainda os recompensam por isso", diz Jeff Chahley, diretor de sustentabilidade da Kraft.


A experiência brasileira é a primeira incursão de Szaky fora dos Estados Unidos. "Nos preocupamos com o impacto ambiental de nossas embalagens, e a TerraCycle vai nos ajudar a mostrar isso aos consumidores", diz Carlos Ricardo, vice-presidente de marketing da área de alimentos da empresa no Brasil, que descobriu Szaky pela internet.

No Brasil, por enquanto, a TerraCycle está usando embalagens da Pepsico que foram descartadas nas fábricas. O objetivo é começar, ainda neste ano, a remunerar cooperativas de catadores pela coleta do material descartado nas ruas - com o apoio financeiro da Pepsico, claro. A confecção dos artigos está a cargo de cerca de 100 costureiras da Solidarium, empresa com sede em Curitiba que apoia microempreendedores e levará um percentual não revelado das receitas das sacolas. As mochilas estão sendo vendidas por cerca de 30 reais e as carteiras por cerca de 10 reais. Os preços seguem o mantra de Szaky de que os consumidores não querem e não devem pagar muito mais por produtos ecologicamente corretos. "O desafio de um ecocapitalista é fazer produtos verdes a preços competitivos", afirma ele. "Só precisamos de mais escala para lucrar, e estamos chegando lá."

PERFIL

Tom Szaky: Fundador da TerraCycle, empresa que desenvolve produtos usando lixo;

Idade: 27 anos;

Nacionalidade: Húngaro;

Onde vive: Estados Unidos;

O que ele faz: "Em 2002, abandonou a Universidade Princeton para se dedicar à TerraCycle. Fundada por Szaky no ano anterior, a empresa vende o TerraCycle Plant Food - esterco de minhoca embalado em garrafas plásticas de refrigerante usadas. Hoje seus produtos são vendidos em grandes varejistas americanos, como Wal-Mart e Home Depot. Em 2009, a TerraCycle deve faturar cerca de 15 milhões de dólares com a venda de mais de 100 produtos feitos de embalagens descartadas, como saquinhos de biscoitos".

Fonte: empresa 

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