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Egípcios desafiam toque de recolher para exigir saída de Mubarak

Exército continua sem atuar e população se mantém nas ruas contra o presidente

Multidão se reúne para os protestos contra Mubarak (Peter Macdiarmid/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2011 às 15h38.

Cairo - Milhares de egípcios repetiram nesta segunda-feira na praça Tahrir os protestos que vêm protagonizando há uma semana, um ato que ocorreu sem incidentes apesar de a Polícia ter voltado às ruas após ficar ausente por três dias.

Fontes do Movimento 6 de Abril, que lançou a campanha na terça-feira passada em uma iniciativa que contou com o apoio de outros grupos da oposição, disseram à Agência Efe que o protesto desta segunda-feira estava acontecendo pacificamente.

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"Até agora não fizeram nada", disse um dos porta-vozes do movimento, Bara Magdi, referindo-se às forças policiais, que receberam ordens para voltar às ruas após as manifestações do último fim de semana.

Não foram dadas explicações sobre as razões que motivaram o regime de Hosni Mubarak a determinar a retirada da Polícia na sexta-feira à noite e encarregar o Exército da missão de zelar pela segurança do país.

Os soldados, que só se posicionaram em pontos estratégicos da capital e em alguns bairros do Cairo, não conseguiram evitar os saques e o caos registrados em muitos setores urbanos no sábado.

A Polícia vinha sendo responsável por uma dura repressão desde quarta-feira passada, o que foi agravado na sexta-feira, quando a oposição tentou forçar por meio de protestos o final do regime de Mubarak, no poder desde 1981.

Havia temores de que, ao voltar às ruas, ocorressem novas cenas de violência, mas as ordens recebidas pelos agentes eram de evitar ao máximo o uso da força, que já causou a morte de mais de 100 pessoas e deixou milhares feridas.

A praça Tahrir, epicentro das manifestações, ficou sob controle do Exército, cujo papel foi amparado com mostras de simpatia pela população, e os soldados permaneciam nesta segunda-feira no mesmo lugar.

Como nos dias anteriores - e coincidindo com o toque de recolher, que nesta segunda-feira começou às 15h do horário local (11h de Brasília) -, milhares de pessoas compareceram à praça Tahrir para participar do protesto, em meio a um ambiente festivo.

Homens, mulheres e algumas crianças, em clima descontraído, compartilhavam o local com os tanques situados nas entradas da praça.

"Fazemos turnos na minha família. Estamos eu, meus amigos e meus pais", disse à Efe uma das manifestantes, Rana al Nemr.

Outro participante do protesto, Khaled Said, que está há quatro dias dormindo na praça Tahrir, só voltará para casa com uma condição: "Até que Mubarak não saia, não voltarei".


Neste ponto do centro da capital, a imaginação começava ser utilizada em imagens pitorescas. Em um local, a população juntou uma montanha de lixo e coroou-o com um cartaz: "Este é o túmulo do Governo de Mubarak".

A normalidade que se via nesta segunda-feira nas ruas do Cairo era correspondida pela normalização institucional representada pela posse dos novos ministros, dois dias depois de o chefe de Governo ter sido substituído.

O gabinete do general Ahmed Shafiq fez o juramento de posse nesta segunda-feira diante de Mubarak. Não há surpresas nos ministérios mais importantes, como Relações Exteriores e Defesa, que mantêm seus titulares, mas houve um substituo no Ministério do Interior.

"Este novo Governo só representa Mubarak. Trata-se de figuras corruptas, não se fez eco aos requisitos do povo", avaliou o porta-voz do Movimento 6 de Abril.

Embora as manifestações desta segunda-feira tenham sido pacíficas e um novo Governo tenha tomado posse, o Egito continua com bancos fechados, repartições públicas funcionando a um ritmo lento e um toque de recolher que se estende por 17 horas decretado.

Para esta terça-feira, o Movimento 6 de Abril convocou uma manifestação massiva para recuperar o ritmo dos protestos da terça e sexta-feira passadas, a partir do meio-dia, à qual quer dar um clima alegre, com música e outros espetáculos.

"Amanhã seremos um milhão", afirmou Amre Abdu Ramhan, um dos manifestantes presentes nesta segunda-feira na praça Tahrir.

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