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Belgas fazem nova 'revolução das batatas' contra crise de Governo

País irá bater nesta terça-feira o recorde de crise política mais longa do mundo; jovens vão voltar às ruas para protestar pela demora na formação do governo

Parlamento belga: já são 290 dias sem um governo (Wikimedia Commons)

Parlamento belga: já são 290 dias sem um governo (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 29 de março de 2011 às 15h08.

Bruxelas - Os jovens belgas voltaram às ruas nesta terça-feira com batatas fritas na mão, símbolo da gastronomia e da unidade da Bélgica, para protestar contra o que, a partir de quarta-feira, será a mais longa crise política do mundo, após 290 dias sem um Governo formado desde as eleições de 13 de junho do ano passado.

A Bélgica bate na próxima meia-noite o recorde que até agora pertence ao Iraque - que precisou de 249 dias para chegar a um acordo e outros 40 dias para a ratificação parlamentar do pacto -, sem perspectivas de curto prazo para sair do impasse político.

Centenas de estudantes das partes francófona e flamenga da Universidade Livre de Bruxelas se concentraram na emblemática Praça Flagey, em um ato que mais parecia uma festa do que um protesto, já que houve música e porções de batatas fritas. Protesto parecido foi realizado em 17 de fevereiro, quando a Bélgica superou o recorde de 249 dias do Iraque no que diz respeito ao acordo político.

"Nossa principal mensagem é que estamos contra a divisão do país", assinalou à Agência Efe o manifestante Michael Verbauwhede, porta-voz da organização juvenil promotora do evento "Divisão. Não em nosso nome". Ele explicou que os manifestantes, cansados da crise, preferem recorrer à ironia e ao simbolismo - já que as batatas fritas são um dos ícones da gastronomia belga.

Verbauwhede esclareceu que, após a chamada "revolução das batatas fritas" de fevereiro passado, o protesto que o grupo organizou coincidindo com os 249 dias de crise, a ideia nesta ocasião é substituir de maneira simbólica o nome de várias praças em diversas cidades do país pelo de "Praça das Batatas".

Além da capital belga, se somaram à mobilização as cidades de Namur, Liège, Louvain-la-Neuve e Mons, na região da Valônia, e Gent, Antuérpia e Louvain, na região de Flandres.

A participação foi significativamente menor que em outras ocasiões - a manifestação "Shame" ("Vergonha", em inglês) do dia 22 de janeiro em Bruxelas concentrou mais de 30 mil pessoas - possivelmente em razão do aborrecimento dos cidadãos com as questões de política nacional e porque a atenção agora se centra mais na crise no mundo árabe e no alerta nuclear do Japão.

Os políticos do país ensaiam novas fórmulas para tentar romper o bloqueio político, mas por enquanto não conseguiram avanços significativos.

A população, por sua vez, está cada vez mais descrente na situação. Segundo uma pesquisa recente do instituto GfK Academy, menos de 13% dos belgas dizem que continuam acreditando na classe política.

Outra pesquisa, divulgado pelo jornal "La Libre Belgique", indica que os separatistas flamengos do partido N-VA reforçaram sua influência em Flandres (norte do país) e já acumulam 33% das intenções de voto nesta região, enquanto os socialistas francófonos do PS perderam apoio na Valônia (sul) e possuem 33,3% de apoio.

A crescente popularidade em Flandres do líder do N-VA, o polêmico Bart de Wever - partidário da cisão regional do país -, começa a incomodar outros políticos flamengos, até agora aliados, como o atual primeiro-ministro interino, o democrata-cristão Yves Leterme, que criticou sua incapacidade de formar um Executivo, o que alguns interpretam como o princípio de seu isolamento político

Nesta semana prosseguem as negociações entre De Wever, o líder socialista francófono, Elio di Rupo, e o mediador na crise, o democrata-cristão flamengo Wouter Beke, mas ninguém parece esperar mudanças significativas a curto prazo, embora a interminável crise comece a pôr a economia do país em perigo.

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