Rentabilidade dos bancos deve cair no longo prazo, diz S&P
Trajetória de queda gradual das taxas de juros e maior concorrência entre as instituições financeiras devem diminuir margens, segundo a Standard & Poor's
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
No longo prazo, a rentabilidade dos grandes bancos de varejo do Brasil deve recuar, de acordo com a agência de classificação de riscos Standard & Poor';s (S&P). Segundo análise divulgada nesta segunda-feira (28/8), as margens das instituições financeiras poderão cair pela metade. É o caso do ROAA, sigla em inglês para retorno sobre o ativo médio. O ROAA indica o lucro gerado pelo capital investido na empresa. Esse indicador, para os bancos brasileiros, está em níveis de 2% a 3%. Para a S&P, no longo prazo, ele deve baixar para 1% ou 2%.
O que reduzirá a rentabilidade do sistema bancário é uma conjugação de fatores macroeconômicos e setoriais. O cenário básico da S&P prevê que o Brasil continue crescendo a taxas de 3% a 4% ao ano, com inflação controlada. Nessa situação, o governo terá espaço para reduzir a dívida pública e, em decorrência, cortar a taxa básica de juros - hoje, um dos principais fatores que oneram os custos dos empréstimos bancários. Além disso, a agência internacional de classificação de riscos não descarta uma revisão do depósito compulsório dos bancos, reduzindo a exigência junto ao Banco Central e liberando recursos para o mercado. Isso aumentaria a oferta de capital e elevaria a concorrência bancária.
Segundo a S&P, apesar da evolução, o setor financeiro do Brasil ainda enfrenta grandes desafios. O primeiro é o baixo nível de intermediação financeira. O total de crédito que circula atualmente na economia corresponde a cerca de 30% do Produto Interno Bruto, ao passo que, nos países desenvolvidos, essa porcentagem é superior a 60%.
Outra questão é o elevado spread bancário. Para a S&P, não é apenas a elevada taxa básica de juros que eleva o spread dos bancos, mas também a pesada carga tributária, os altos índices de inadimplência e a ausência de um cadastro positivo de crédito. Outros fatores que dificultam a redução dessas margens são a elevada exigência de depósito compulsório, a alocação obrigatória de recursos - como os montantes mínimos para habitação e crédito rural - e as dificuldades legais para recuperação de fianças e garantias.
A S&P lembra, por exemplo, que para depósitos à vista, exigem-se reservas equivalentes a 45% do total - uma das maiores taxas da América Latina. Com isso, os bancos acabam transferindo recursos do setor privado para o setor público, o que eleva os custos para o tomador final de empréstimos.