Recuperação das ações da BM&F Bovespa depende da melhoria do cenário mundial
Para analistas, preço dos papéis reflete mais a turbulência internacional que os possíveis ganhos com a fusão das bolsas
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Desde que a crise financeira mundial explodiu, com o problema das hipotecas americanas de segunda linha, alastrando-se depois para uma crise generalizada de crédito que levou grandes bancos a registrar prejuízos monumentais, as principais bolsas de valores oferecem aos investidores emoções dignas das melhores montanhas-russas. E quem investiu nas ofertas públicas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) da Bovespa Holding e da BM&F não escapou ileso. Desde a listagem desses papéis no pregão, seus detentores amargam pesadas perdas. E, para os analistas, somente o fim dos solavancos do mercado financeiro mundial será capaz de melhorar a cotação dos papéis - algo que poucos se atrevem a prever quando ocorrerá. "Pensamos que uma possível reversão de sua contínua desvalorização está condicionada a uma melhora do cenário macroeconômico global, assim como da liquidez dos mercados", afirma a corretora Planner, em relatório.
A Bovespa Holding estreou em seu próprio ambiente de negócios em 26 de outubro do ano passado. Desde então, suas ações ordinárias ( BOVH3, com direito a voto) acumulam uma queda de 37,35%, se considerado o preço de distribuição de 23 reais, e de 58,81% sobre os 34,99 reais com que fechou o primeiro pregão de que participou. Com a BM&F ( BMEF3 ), não foi diferente. Suas ordinárias já perderam 49,75% sobre o preço de distribuição (20 reais) e também 58,81% sobre os 24,40 reais com que estrearam na bolsa, em 30 de novembro.
O ritmo de queda das duas ações foi mais intenso do que o Ibovespa, principal indicador da bolsa paulista. Considerando o fechamento desta sexta-feira (15/8), 54.244 pontos, o índice acumula desvalorização de 13,91% desde a estréia da BM&F, em novembro, e de 15,61% desde que a Bovespa Holding começou a ser negociada, em outubro.
Pressão mundial
A cotação desses papéis é um termômetro da turbulência mundial. A aversão ao risco dos grandes investidores internacionais, a saída de capital estrangeiro da Bovespa, a freada dos IPOs e a própria desvalorização do Ibovespa são fatores que pesam no desempenho dos papéis de quem, afinal de contas, mantém o ambiente brasileiro de negociação e tem sua receita vinculada às taxas e emolumentos cobrados pelas transações.
Se servir como consolo, o problema também angustia investidores nos principais centros financeiros do mundo. As ações da Bolsa de Chicago - a segunda maior do mundo -, por exemplo, despencaram 48% neste ano na Bolsa de Nova York. "Acreditamos em melhora das ações [da BM&F Bovespa] apenas quando o quadro externo do mercado melhorar", afirma a corretora SLW.
Em segundo lugar
A fusão da BM&F com a Bovespa, anunciada em março e aprovada pelo Cade, sem restrições, em julho, criará a terceira maior bolsa de valores do mundo, atrás apenas da Bolsa de Frankfurt, na Alemanha, e da Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. Mas o mercado só começará a incorporar esse fato ao preço das ações após a estabilização mundial, segundo os analistas. "A partir de então, os investidores priorizarão o fato de que a integração das bolsas proporcionará não só ganhos de sinergia, mas também dará maior musculatura à bolsa brasileira para fazer frente ao crescimento dos negócios com renda variável no mundo", afirma a SLW.
Se isto é um consenso entre os analistas, o mesmo não se pode dizer da recepção aos resultados do segundo trimestre divulgados pela BM&F Bovespa. A avaliação vai de neutra a negativa, passando por quem destaque a melhoria das margens, apesar de uma desaceleração dos resultados.
Entre abril e junho, a BM&F Bovespa obteve receita líquida de 434 milhões de reais, 30,2% maior que a do mesmo período de 2007. As despesas operacionais recorrentes subiram 40,1%, para 147 milhões, e o lucro líquido recuou 6,1%, para 165 milhões, devido ao pagamento de 81 milhões de reais pela fusão com a Bovespa Holding. Para a corretora Ativa, o resultado foi neutro, pois o aumento da receita líquida foi neutralizado pela expansão das despesas operacionais na mesma proporção.
Para a Planner, o destaque positivo foi a melhoria da margem operacional, que subiu de 57,8% para 66,2% na comparação trimestre a trimestre. Já para a SLW, a principal surpresa foi negativa: um empréstimo de 500 milhões de reais em maio, com prazo de três meses e custo de 109,2% do CDI, cujos recursos foram usados para pagar as ações resgatáveis da Bovespa Holding. O fato é negativo por duas razões: não foi informado ao mercado à época, e foi tomado apesar de a BM&F Bovespa contar com um caixa de 3,8 bilhões de reais.
Na sexta (15/8), a BM&F Bovespa também anunciou que a ação da nova companhia (BVMF3) começará a ser negociada no pregão em 20 de agosto. O novo papel substituirá os atuais (BOVH3 e BMEF3).
O desempenho das ações das Bolsas | |
Bolsa | Variação em 2008* (%) |
BM&F | -59,7 |
Bolsa da Colômbia | -21,8 |
Bovespa Holding | -54,9 |
Bolsa de Chicago | -47,6 |
Bolsa Intercontinental (ICE) | -54,8 |
Nasdaq | -30,5 |
Nymex Holdings | -38,3 |
NYSE Euronext | -51,0 |
* Até 15/08/2008 | |
Fonte: Economática |