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Perspectiva para a bolsa é favorável, diz Santander

Estrategista da corretora diz que o lucro das empresas abertas deve crescer 19% em 2010 - abrindo espaço para novas altas das ações

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A corretora do Santander acredita que o lucro das empresas abertas brasileiras deve crescer 19% em 2010. Para o estrategista da corretora, Marcelo Audi, de forma geral os preços das ações negociadas na BM&FBovespa estão um pouco esticados, mas poderiam ter novas valorizações caso a previsão de crescimento dos lucros se confirme nos próximos meses. Por esse motivo, Audi está otimista em relação ao resultado da bolsa em 2010 e recomenda papéis ligados ao consumo interno, como construção, alimentos e bebidas, varejo, transportes, energia e telecomunicações. Veja abaixo os principais pontos da entrevista concedida durante a 10ª Convenção Anual do Santander, que reuniu os maiores clientes e investidores do banco no Guarujá (SP) e terminou nesta quinta-feira:

As recentes projeções do mercado apontam para um Produto Interno Bruto (PIB) melhor que o esperado para este ano. Na sua avaliação, as projeções estão corretas?
Marcelo Audi - Eu acho que o crescimento global ficará abaixo da média por pelo menos dois anos. A boa notícia é que há uma recuperação. A má notícia é que ela tende a ser gradual. O importante é ser gradual e consistente. O que a gente mais gostaria de ver em relação a melhorias está nas questões regulatórias. Por meio delas, a gente consegue aumentar os níveis de investimento no Brasil e, consequentemente, acelerar o crescimento do PIB em setores de infraestrutura, como o setor elétrico, e de concessões diversas: rodoviária, logística, portos e aeroportos. Enfim, existe um vasto espaço de oportunidades para se aprimorar e eficiência regulatória que vai estimular um nível de investimento bem maior nesses setores de infraestrutura. Setores nos quais estão os maiores gargalos da economia brasileira.

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O Brasil saiu mesmo mais fortalecido da crise?
Audi -
Se não houvesse o problema bancário no mundo, a gente viveria provavelmente uma situação de superaquecimento da economia local e global com implicação inflacionária e a necessidade de choque de juros no Brasil e no mundo. Agora há espaço para um novo ciclo de crescimento mais sustentado. Ou seja, com menor risco de inflação e com uma política monetária menos apertada. Talvez agora a gente tenha um crescimento até menos volátil do PIB. Além do consumo, o investimento é outro componente importante para o crescimento. Esse é um tema para ser debatido. Será que desta vez o ciclo de investimento vai desacelerar muito? Ou vai trazer uma agradável surpresa de se mostrar relativamente resiliente? Parece que pode existir o cenário de o investimento ser resiliente Se a gente considerar o investimento, a grosso modo ele tem três partes mais ou menos do mesmo tamanho: máquinas e equipamentos, construção de moradias e construção pesada para infraestrutura. Esse um terço de construção para moradia está sendo movido pelo "Minha Casa, Minha Vida". Esse plano governamental está fazendo todo o setor girar no Brasil. Além disso, a construção pesada também mostra sinais de que não irá deixar de investir. Um exemplo está na OHL, que há um ano e meio ganhou as concessões [de cinco rodovias federais, entre elas, a Régis Bittencourt e a Fernão Dias].

Nos primeiros sete meses do ano, a bolsa foi impulsionada pelos estrangeiros. Esse movimento deve continuar?
Audi -
O Brasil possui hoje uma das condições mais favoráveis do mundo para se investir em ações. Pouquíssimos países emergentes têm o nível de sofisticação do Brasil. Prova disso foi o comportamento dos fundos multimercados, que passaram pela crise de uma forma muito serena. Foi um teste muito interessante. O mercado de capitais hoje é muito interligado e essa correlação vai continuar. Os ativos financeiros têm de se alocar em algum lugar. A maioria dos países emergentes sofreu muito com a crise. Sobram apenas Brasil e China. (Continua)


Há alguns meses você previu que a Bovespa ficaria nesse intervalo de 45.000 a 55.000 pontos no médio prazo. Sua opinião continua a mesma?
Audi -
Nossa estratégia hoje tem sido um pouco cautelosa porque, definitivamente, não é um mercado barato e exige certo cuidado. Eu acho que a gente vai viver aí entre 50.000 e 55.000 pontos por algum tempo. De maneira geral, não há um grande espaço para fortes ajustes. Não vejo muito espaço para cair nem para subir. O mercado está um pouco travado. Vamos ter que ter paciência. No fim das contas, nossos números já refletem que o PIB vai crescer de zero para 3,5% no ano que vem. Pode ser que nosso 3,5% vire 4,5%? Pode, mas vamos esperar, parece que é um pouco prematuro ainda. Não me parece que exista assim uma perspectiva iminente de uma forte revisão para cima da projeção de lucros. Portanto, está um pouco esticado. O jeito é esperar por uma correção no mercado ou esperar que ele fique "de lado" por algum tempo e, naturalmente, o que era um múltiplo hoje, vai ficar um múltiplo mais barato amanhã.

No atual patamar, é mais provável que a bolsa tenha uma realização antes de voltar a subir?
Audi -
Eu vejo um mercado que já antecipou muita coisa boa e pode ser que fique "de lado" por alguns meses.

Você continua achando que a bolsa está cara?
Audi -
Hoje os preços estão um pouco puxados. Na verdade, o Ibovespa hoje já está acima do nosso preço-alvo para o fim do ano que era 50.000 pontos. Nós estamos revendo isso. Hoje o P/L (indicador que mostra a relação entre o valor de mercado de uma ação e seu lucro) está em 13,5 vezes. Em maio de 2008, que foi o momento de pico do mercado e de maior euforia em relação a ações no Brasil, o P/L era de quase 14 vezes. A pergunta é: hoje a gente vai negociar com o P/L maior do que naquela época? O que pode justificar uma expansão do múltiplo? São basicamente dois fatores. Primeiro os prêmios de risco são menores. Quanto menor o risco Brasil, maior o múltiplo, e vice-versa. Eu acho que pela incerteza da economia global, os prêmios de risco hoje não vão voltar a níveis tão baixos quanto aos anteriores à crise, no último trimestre do ano passado. A gente vai conviver com prêmios de risco um pouco maiores. A segunda razão para uma possível expansão de múltiplo é a gente começar a ter uma perspectiva de revisão para cima das projeções de lucro. Isso pode acontecer na recuperação econômica. O que eu posso dizer é o seguinte. Os segmentos de commodities não têm muito espaço para revisão para cima de projeção de lucro. Os ligados a consumo doméstico parecem que têm espaço sim. Por exemplo, a maioria das empresas de varejo que a gente cobre apresentou, no segundo trimestre, lucros acima do esperado, vindos de melhora de receita e expansão de vendas sobre mesmas lojas. Então pode haver alguma melhora nesses segmentos. É justamente esses que a gente está recomendando.

E quais são suas principais recomendações?
Audi -
Há uma recomendação mais agressiva para setores ligados a consumo doméstico, que são mais sensíveis ao ciclo econômico e que incluem o segmento imobiliário (incorporação e shopping), o varejo e o transporte. Também é recomendada uma exposição razoável aos defensivos: setor elétrico, telecomunicações e alimentos e bebidas, pouco sensíveis ao ciclo econômico. Isso porque muitos dos defensivos pegam um pouco dessa melhora do consumo doméstico. Um exemplo disso é o setor elétrico, que paga bons dividendos e pode se beneficiar com o cenário de juros baixos. Nesse setor, eu destacaria a Cesp. De maneira geral, eu estou mais cauteloso com commodities, com exceção de aço e Usiminas em virtude da demanda interna. Também recomendo uma exposição levemente acima da media ao setor de petróleo porque acho que está mais protegido do que mineração se houver alguma frustração com a China ou uma decepção em relação à expectativa da economia global.

Com exceção do ano passado, desde 2003 a Bovespa apresentou altas consecutivas e chegou a 74.000 pontos dias após o Brasil conseguir o grau de investimento. Atualmente, o índice já ultrapassa 55.000 pontos. Deve demorar para a bolsa bater o recorde anterior?
Audi -
Eu acho que a perspectiva é favorável para o ano que vem. Vamos ver em que números nós iremos chegar. Vale lembrar que se trata de um momento de recuperação econômica. Então daqui a um ano, o lucro das empresas vai estar maior do que o deste ano. A gente projeta um crescimento de lucro de alguma coisa de 19% de todo nosso universo de cobertura para 2010 em relação a 2009. Então, tem crescimento de lucro pela frente. Atualmente, estamos na fase de substituição dos preços-alvo das empresas para o fim deste ano e de 2010. Hoje, a gente já tem mais ou menos, metade das nossas 94 empresas já revistas.


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