Não pense demais
Nobel de economia ensina quais os principais erros do investidor
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
Peça a dez conhecidos para classificar a si mesmos como motoristas, atribuindo-se uma nota de zero a 10. Tire a média das respostas. "O número vai ficar entre 8,5 e 9", diz o psicólogo americano nascido em Israel Daniel Kahneman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002. Esse resultado, que sempre acontece, é um erro crasso, uma superestimação absurda. Uma média próxima da realidade seria 5. Ela indicaria o mais provável: dois dos dez amigos são exímios motoristas, seis são medianos e dois representam uma ameaça à segurança pública quando assumem o volante.
A conclusão? "Pelo menos 40% das pessoas tendem a ser muito otimistas na hora de fazer uma avaliação, o que quer dizer que pelo menos 40% das pessoas podem tomar decisões erradas por isso." Mais do que dificultar a auto-avaliação de nossas capacidades como motorista, essa tendência a subestimar os lados negativos pode provocar graves erros na hora de investir.
Kahneman foi o primeiro israelense a receber o Nobel de Economia exatamente por suas pesquisas mostrando o impacto da psicologia individual e coletiva nas decisões de investimento. Em vez do mito de um calculista frio e racional, o investidor que emerge dos estudos de Kahneman é uma vítima fácil dos próprios erros. "As pessoas tendem a olhar para quadros incompletos, ignorando os riscos e considerando apenas os fatores positivos", diz Kahneman.
Como evitar os prejuízos? Kahneman, que esteve no Brasil no início de agosto para participar de um seminário realizado pelo BankBoston, faz quatro recomendações:
1. ADMITA SEUS PREJUIZOS
É mais desagradável reconhecer um prejuízo do que perder dinheiro de fato. Se precisar de dinheiro vivo, em 65% dos casos um investidor americano vai vender as ações lucrativas e manter as que rendem menos. Trata-se de uma bobagem. "Assumir um prejuízo é reconhecer um erro, algo doloroso e desagradável", diz. "As pessoas preferem aferrar-se a uma pequena chance de que uma ação vai recuperar-se no futuro e abrir mão de ganhos muito mais prováveis a admitir que estavam erradas."
2. EVITE O EXCESSO DE CONFIANÇA
Normalmente, os investidores não superestimam apenas as próprias habilidades como motorista mas também as competências como analistas econômicos e de investimentos. "Na maioria das vezes, as pessoas assumem riscos exagerados porque acreditam que podem ser melhores que a média do mercado", diz Kahneman. Essa atitude mental acaba provocando uma "ilusão do controle". Elas perdem a consciência de que muitos dos eventos que afetam o mercado são aleatórios. Os atentados de 11 de setembro são um exemplo disso.
3. PENSE COM PROFUNDIDADE
Muitos investidores acreditam ter descoberto uma fórmula mágica para investir com base num raciocínio simples. "A realidade é muito complicada para ser explicada por uma ou duas variáveis", diz Kahneman. Raciocínios do tipo "comprar dólar quando cair abaixo de 2,95 reais" não são infalíveis. Da mesma forma, evite cair na tentação de investir com base em dicas quentes. "Quando alguém me diz que algo é uma barbada, procuro pensar em quantos outros investidores já ouviram essa notícia antes", diz Kahneman.
4. NÃO MUDE DE IDÉIA MUITO FREQÜENTEMENTE
Mudar sua estratégia deve ser a resposta a uma mudança no cenário econômico ou a uma alteração de suas necessidades. Se nada disso acontecer e a estratégia for boa, não a mude sem razão. "Tendemos a superestimar nossa capacidade intelectual", diz Kahneman. "Ganharemos mais dinheiro tendo poucas idéias. Quanto menos idéias de investimento eu tenho, mais dinheiro ganho."