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Investimento a partir de R$ 1.000 promete pagar 50% ao ano. Vale a pena?

O peer to peer lending oferece retorno alto na renda fixa, mas é arriscado. Entenda como investir por fintechs como a Biva, a Nexoos e a Kavod

Investimento: Peer to peer lending é só para investidor com perfil arrojado (Wavebreakmedia Ltd/Thinkstock)

Júlia Lewgoy

Publicado em 18 de maio de 2018 às 05h00.

Última atualização em 21 de maio de 2018 às 10h18.

São Paulo - Uma nova forma de investimento de renda fixa que promete pagar retornos de até 50% ao ano está crescendo no Brasil. Chamada de peer to peer lending, ou empréstimo coletivo, a modalidade possibilita que qualquer investidor disposto a enfrentar mais risco empreste a partir de mil reais diretamente a uma empresa, por meio de uma fintech intermediária.

O investimento chama ainda mais atenção em um cenário de taxa básica de juros, a Selic , em sua mínima histórica, 6,50% ao ano. Essa taxa é referência para os investimentos de renda fixa, quando o investidor consegue prever a forma de remuneração da sua aplicação.

O peer to peer lending começou a ser oferecido no Brasil pela fintech Biva, em 2015, e agora já tem outras empresas protagonistas, como a Nexoos, a Kavod Lending e a TuTu Digital. Em abril, o Banco Central regulamentou essas fintechs e estabeleceu regras para o seu funcionamento. Entre elas, um limite de 15 mil reais de empréstimo para cada empresa devedora.

Nessa modalidade, micro, pequenas e médias empresas tomam empréstimos de pessoas físicas, a juros mais baixos do que nos bancos, enquanto investidores pessoas físicas emprestam dinheiro a juros mais altos.

Em vez de emprestar dinheiro ao governo ou ao banco, como acontece ao investir em títulos públicos ou na poupança, por exemplo, o investidor empresta dinheiro às empresas para financiar suas expansões. Isso acontece por meio de uma campanha coletiva online, organizada pelas fintechs intermediárias de peer to peer lending.

O processo de investir por meio de uma dessas fintechs é parecido com o de uma corretora. O investidor acessa o site, preenche um cadastro e, se aprovado, visualiza os investimentos disponíveis para o seu perfil.

As plataformas mostram informações sobre as empresas tomadoras de crédito que ajudam a escolher onde investir, como o motivo do negócio tomar o empréstimo, sua situação financeira e sua nota de crédito. A quantidade de dados fornecidos sobre as empresas varia de um site para outro. Quanto mais dados, melhor para o investidor.

O investimento mínimo inicial varia entre mil e 6 mil reais, de acordo com a plataforma. As rentabilidades fixadas partem de 14% ao ano e chegam a 50% ao ano, conforme o site e a empresa tomadora de crédito. Como em outros investimentos, quanto mais arriscado é o negócio, maior o retorno oferecido.

“O investidor precisa escolher a empresa que se adequa ao seu perfil de investimento e aos riscos que está disposto a correr”, explica o CEO e co-fundador da Kavod Lending, Fábio Neufeld.

Ao escolher uma empresa, o investidor faz uma espécie de reserva do investimento e aguarda a campanha fechar, até atingir o valor do empréstimo que o empresário pediu. Esse processo pode durar alguns dias.

A partir de então, o investidor paga o total a ser emprestado de uma vez e recebe seu dinheiro com juros mês a mês, até o final do empréstimo. Esse rendimento mensal permite que o investidor reinvista o retorno em outras aplicações ou em outras campanhas de  peer to peer lending.

Os prazos partem de 3 meses e chegam a 24 meses, conforme a plataforma. Durante esse período, o total investido não pode ser resgatado de uma vez só.

Riscos

As fintechs são apenas intermediárias do empréstimo e não assumem os riscos. Ou seja, se a empresa atrasar as parcelas do empréstimo que tomou, o investidor não recebe seu dinheiro no mês. A chance de ficar no prejuízo sempre existe.

“Só quem entendeu que o risco é alto pode investir na plataforma. É preciso estar disposto a perder parte do dinheiro investido”, diz o CEO da Nexoos, Daniel Gomes.

Diferentemente de outros investimentos de renda fixa, como CDBs, LCAs e LCIs, os empréstimos em em peer to peer lending não são garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito.Apenas uma plataforma, a Kavod Lending, oferece garantias reais ao investidor, como imóveis e veículos da empresa tomadora.

O processo de análise de crédito das fintechspara decidir dar ou não o empréstimo para as empresas tomadoras é criteriosa. A análise de crédito e o perfil dessas empresas varia de uma fintech para outra. A Nexoos, por exemplo, só aprova cerca de 1% das empresas que procuram a plataforma para pedir empréstimo.

Quando vale a pena investir?

Apesar de ser um tipo de renda fixa, o investimento em peer to peer lending é uma renda fixa diferente do que o investidor está acostumado. O risco de perder dinheiro por inadimplência da empresa tomadora de crédito é alto.

“O bancos assumem todo o risco e têm mais condições de fazer análise de crédito da empresas do que as fintechs. Por isso, oferecem taxas menores aos investidores”, explica o professor Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper.

Por isso, só deve investir em peer to peer lending quem pode correr o risco de ter prejuízo para tentar conseguir retornos mais altos. Segundo Viriato, o investidor só deve colocar até 30% do seu dinheiro nessa modalidade de investimento e até 10% por empresa tomadora de crédito.

“Como os investimentos iniciais ainda são altos, embora as taxas pareçam muito atraentes, não recomendo a quem tem menos de 20 mil reais investir nessa modalidade”, orienta.

Se decidir aplicar, o investidor deve escolher mais de uma plataforma e mais de uma empresa em cada plataforma, como aconselha o planejador financeiro Gustavo Cunha, certificado pelaAssociação Brasileira de Planejadores Financeiros (Planejar).

“Esse não é um investimento para iniciantes. É para quem já investe e está aberto a ler os relatórios sobre as empresas”, alerta.

As principais fintechs de peer to peer lending

A seguir, compare os serviços oferecidos pelas principais fintechs de peer to peer lending no Brasil, do ponto de vista do investidor.

TuTu Digital

Investimento mínimo inicial: R$ 1 mil.

Rentabilidade: De 20% a 50% ao ano.

Prazo: De 6 a 24 meses.

Empresas para investir: Empresas que faturam até 4,8 milhões de reais ao ano, com mais de 15 meses, da indústria e do comércio.

Quando começou: Julho de 2017.

Quantos investidores cadastrados: 1 mil.

Quantas empresas já pegaram empréstimos: Dez.

Quantas empresas já atrasaram pagamentos: Nenhuma.

Garantias em caso de inadimplência: Somente garantias pessoais (aval ou fiança).

Kavod Lending

Investimento mínimo inicial: R$ 5 mil.

Rentabilidade: De 14% a 18% ao ano.

Prazo: De 10 a 24 meses.

Empresas para investir: Especialmente empresas franqueadas de grupos que faturam a partir de 6 milhões de reais ao ano.

Quando começou: Agosto de 2017.

Quantos investidores cadastrados: 2 mil.

Quantas empresas já pegaram empréstimos: Seis.

Quantas empresas já atrasaram pagamentos: Nenhuma.

Garantias em caso de inadimplência: Garantias reais da empresa, como recebíveis de cartão de crédito ou boletos, aplicações financeiras, imóveis, veículos, máquinas e equipamentos.

Biva

Investimento mínimo inicial: R$ 5 mil para novos investidores e R$ 2 mil para investidores com a partir de R$ 10 mil na plataforma.

Rentabilidade: De 15% a 25% ao ano.

Prazo: Até 24 meses.

Empresas para investir: Profissionais liberais, MEIs e micro, pequenas e médias empresas com mais de 12 meses.

Quando começou: Maio de 2015.

Quantos investidores cadastrados: 10 mil.

Quantas empresas já pegaram empréstimos: 1,1 mil.

Quantas empresas já atrasaram pagamentos: Não informado.

Garantias em caso de inadimplência: Sem garantia.

Nexoos

Investimento mínimo inicial: R$ 6 mil para novos investidores e R$ 2 mil para investidores já cadastrados na plataforma.

Rentabilidade: De 16% a 46% ao ano.

Prazo: De 3 a 24 meses.

Empresas para investir: Empresas que faturam a partir de 250 mil reais ao ano, especialmente de serviço e comércio.

Quando começou: Agosto de 2016.

Quantos investidores cadastrados: 15 mil investidores.

Quantas empresas já pegaram empréstimos: 480.

Quantas empresas já atrasaram pagamentos: 18.

Garantias em caso de inadimplência: Somente garantias pessoais (aval ou fiança).

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