Impacto da queda da bolsa chinesa sobre Brasil é passageiro
Especialistas garantem que fundamentos da economia brasileira são sólidos e efeito negativo na Bovespa não deve perdurar
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
A queda de quase 9% na bolsa da China refletiu rapidamente nos negócios no Brasil, fazendo com que o Ibovespa fechasse esta terça-feira (27/2) em baixa de 6,63%. O movimento, no entanto, não deve assustar os investidores, dizem os especialistas.
"Tudo que acontece lá fora tem impacto aqui dentro - é o tal efeito manada. Mas temos de verificar os fundamentos da economia brasileira, que são bastante sólidos", afirma o economista da consultoria Lopes Filho, João Augusto Frota Salles. "O reflexo da queda da bolsa chinesa por aqui deve ser passageiro", diz.
O recuo do índice Xangai Composto nesta terça-feira foi provocado pelos temores de que o governo chinês lance medidas para restringir o capital estrangeiro no país, como o aumento de juros. "Isso geraria uma desaceleração da economia e poderia reduzir os retornos dos investimentos feitos pelas empresas estrangeiras na China", afirma o analista da corretora Souza Barros, Clodoir Gabriel Vieira.
É por isso que as empresas brasileiras que exportam commodities para a China apresentaram grande desvalorização em seus papéis hoje. A Companhia Vale do Rio Doce, por exemplo, registrou queda de 8,02% em suas ações preferenciais. Já a Gerdau, que também mantém negócios com a China, teve desvalorização de 8,13% nas ações preferenciais. "Como essas empresas têm grande peso no Ibovespa, acabaram puxando o índice para baixo", diz Vieira.
Oportunidades para o Brasil?
Se, num primeiro momento, o forte recuo da bolsa chinesa assusta, uma análise mais calma indica que a turbulência pode ser benéfica para o Brasil, afirma o economista da consultoria Lopes Filho. "As empresas que saírem da China poderão redirecionar os recursos para o Brasil, que tem uma economia mais forte", diz.
Já o diretor da Câmara de Comércio Brasil-China, Kevin Tang, não acredita em fuga de capital estrangeiro do país. "O movimento de hoje foi uma correção de preços. No último ano, a bolsa chinesa subiu quase 100% e, mesmo que caia agora, continuará em patamar elevado. A China possui muitos pontos positivos que devem segurar os recursos no país, como mão-de-obra barata e infra-estrutura", afirma.
A bolha vai estourar?
Nos últimos anos, a China vem apresentado rápido crescimento econômico, tendo registrado expansão na faixa dos 10% ao ano. O fato chama a atenção dos especialistas, que questionam até quando a economia chinesa conseguirá crescer em ritmo tão acelerado. "Alguns já dizem que há uma sobrevalorização de ativos no país, mas também há quem acredite que a China ainda tem muito espaço para crescer", diz Salles.
Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China, estima-se que cerca de três milhões de novas contas foram abertas em 2006 para investimento nas bolsas de Xangai e Shenzhein. A alta taxa de crescimento, aliada à baixa remuneração da renda fixa (em torno de 2,5% ao ano) e às restrições sobre o mercado imobiliário, levou muitos chineses a buscar o mercado acionário.
Tanto otimismo, de acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China, tornou o mercado acionário chinês o mais caro da Ásia e fez com que algumas instituições como Citigroup e UBS aconselhassem seus clientes a evitar novos investimentos no país.
Para os economistas, é certo que haverá um momento de saturação. O desafio é descobrir se esse momento chegou ou se ainda chegará - e quando.