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Governo dos Estados Unidos e Citi fecham acordo de US$ 25 bilhões

Conversão de ações preferenciais em ordinárias pode levar administração Obama a deter até 36% do banco

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Em sua terceira tentativa de salvar o Citigroup, o governo americano anunciou um acordo que pode lhe dar até 36% de participação no banco. O Citigroup concordou em converter, em ações ordinárias, 27,5 bilhões de dólares de ações preferenciais em mãos do governo e de investidores privados, bem como alguns títulos de dívida securitizados. O governo americano será o principal participante da operação, podendo converter até 25 bilhões de dólares de preferenciais em ordinárias. Esses papéis foram recebidos pelo governo em outubro do ano passado, em troca de uma injeção de capital.

Se todas as ações preferenciais elegíveis para conversão forem, de fato, transformadas em ordinárias, a operação vai diluir em 74% a participação dos atuais acionistas do banco. O governo americano emergeria com uma fatia de 36% das ações ordinárias. Durante a semana, o mercado estimava que a participação poderia atingir 40%.

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O Tesouro dos Estados Unidos, no entanto, não pretende liberar imediatamente novos recursos para o grupo financeiro, após ter aplicado mais de 45 bilhões de dólares no ano passado, de acordo com a agência de notícias Bloomberg.

A diluição dos atuais investidores desagradou o mercado. A resposta foi uma forte queda nos papéis do Citi na Bolsa de Nova York. Na manhã desta sexta-feira (27/2), após o anúncio do acordo, as ações passaram a cair cerca de 48%."É inacreditável. O governo está fazendo suas regras à medida que participa do jogo", afirmou David Rovelli, diretor da Cannacord Adams, uma gestora de recursos.

O Citi também elevou em 48% seu prejuízo já recorde de 2008, para 27,7 bilhões de dólares, ao contabilizar a queda de valor de negócios adquiridos. Segundo a Bloomberg, os pesados prejuízos e a maior participação do governo no quadro societário complicam ainda mais a tarefa do presidente do Citi, Vikram Pandit, que luta para restaurar a confiança na instituição após as ações baterem em seu menor patamar em 18 anos. O acordo com o governo também determina que o conselho de administração seja refeito, a fim de incorporar mais conselheiros independentes.

Resgate de confiança

O principal objetivo da ajuda do governo não é injetar mais dinheiro no Citi - pelo menos, em um primeiro momento. A conversão das ações em ordinárias pretende resgatar a confiança dos investidores no banco. Em comunicado divulgado na manhã desta sexta-feira (27/2), o presidente do Citi, Vikram Pandit, afirmou que "a transação pretende elevar os indicadores do Citi para um nível que remova as incertezas e restaure a confiança dos investidores na companhia".

O alvo do acordo com o governo é melhorar um indicador em especial - o Tangible Commom Equity (TCE). O TCE é um dos métodos para medir a solvência de um banco. Ele é calculado dividindo-se o capital representado apenas por ações ordinárias pelo total de ativos do banco. Quanto maior for o TCE, melhor é a situação financeira da instituição. Isto porque indica que o banco tem cada vez mais capital próprio para arcar com suas obrigações. Por isso, quando o governo concordou em converter suas preferenciais em ordinárias, encontrou um meio de melhorar o índice de solvência do banco sem, necessariamente, desembolsar mais dinheiro.

Há vários modos de medir a solvência de um banco. Outro, que é a base do Acordo de Basiléia, considera todo o patrimônio líquido do banco (ações preferenciais, ordinárias, lucros acumulados e créditos fiscais) para dividir pelo total de ativos. À medida que a crise avança, porém, os economistas defendem cada vez mais o TCE como o indicador mais confiável para medir a solvência dos bancos americanos neste momento.

Segundo o comunicado do Citi, se todos os 27,5 bilhões de dólares em ações preferenciais e títulos privados forem efetivamente convertidos na operação, o TCE do banco saltará de 29,7 bilhões de dólares, no quarto trimestre, para cerca de 81 bilhões.

A conversão das preferenciais do governo também colabora para a recuperação do banco em outros aspectos. Um deles é que as ações preferenciais recebidas em troca das injeções de recursos, no ano passado, deveriam ser remuneradas com dividendos a uma taxa de 5% a 8% ao ano. Livrar-se das preferenciais, neste sentido, significa evitar um desembolso futuro de caixa com a remuneração do governo. Além disso, os papéis deveriam ser recomprados pelo banco em cinco anos - o que também significaria tirar dinheiro do caixa.

Dinheiro novo

A estratégia de Pandit para resgatar o Citi é vender algumas unidades para reforçar o caixa. Há um mês, o presidente do banco declarou que pretende se desfazer do CitiFinancial, uma financeira voltada para operações de consumo, e o Primerica, focada em seguro de vida, tão breve quanto o mercado permita.

O interesse do governo americano em ampliar sua participação no Citi cresceu depois de duas injeções de capital na instituição. Em outubro, o grupo recebeu 25 bilhões de dólares do pacote de socorro aos bancos americanos. Em novembro, outros 20 bilhões foram liberados. O banco também cedeu 7 bilhões de dólares em ações preferenciais para se livrar de 301 bilhões de dólares em títulos podres, lastreados em hipotecas de segunda linha - o chamado mercado subprime, epicentro da crise financeira americana, que se alastrou por todo o mundo. O Citi também concordou em suspender a distribuição de dividendos e a restringir a remuneração de seus executivos.

Decisão polêmica

Na quarta-feira (25/2), o presidente do banco central americano, Ben Bernanke, afirmou que o Fed evitaria a nacionalização do Citi e de qualquer outra grande instituição do país. O objetivo era preservar a fatia dos atuais acionistas e evitar que o governo assumisse o controle total dos bancos com problemas. Bernanke disse que a idéia era que o governo se tornasse apenas "um grande minoritário".

O acordo com o Citi, porém, foi encarado de outro modo pelos analistas. "Esta é mais um passo para a nacionalização", afirmou Arthur Levitt, ex-presidente da SEC, o órgão de fiscalização do mercado de capitais equivalente à CVM brasileira. "O país não caminha para outra coisa, senão para uma revolução", acrescentou.

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