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Governo dos EUA aumenta pressão sobre Citi por resultados

Governo pode assumir até 40% do capital votante do Citi; quase estatizado, banco teria menos autonomia em decisões

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Num recente telefonema para um funcionário graduado do governo, o executivo-chefe do Citigroup, Vikram Pandit, deu uma dica de quem manda hoje no mundo das finanças nos Estados Unidos. "Não desista de nós", pediu Pandit. "Dê uma chance de nós executarmos os planos", afirmou ele, segundo o Wall Street Journal.

O Citigroup negocia com o governo que a participação estatal de 7,8% das ações preferenciais (sem direito a voto) do banco sejam transformadas em 40% dos papéis ordinários (com direito a voto). Se isso acontecer, o Citi poderia levantar o capital necessário para continuar a operar.

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No entanto, o governo teria maior interferência no controle do banco - e poderia pressionar pelo desmembramento do gigante financeiro ou até mesmo decidir pela saída de Pandit. Além disso, a injeção governamental por meio da aquisição de ações ordinárias e deve sofrer oposição da opinião pública, já que os detentores desses papéis têm menos direitos em caso de liquidação da instituição.

Após perder 28 bilhões de dólares nos últimos cinco trimestres, o Citigroup precisa levantar capital para continuar a emprestar. O mercado tem dúvidas sobre a viabilidade do banco, o que pode ser visto no preço de suas ações. O valor de mercado do Citigroup, que já foi o banco mais valioso do mundo, hoje é menor que o de instituições brasileiras como o Bradesco e o Itaú.

Pessoas próximas ao banco dizem que a relação com o governo já foi bem melhor. A instituição terá dificuldades de tomar decisões que agradem ao governo federal - como ampliar a concessão de empréstimos - e ao mesmo tempo o ajudem a reduzir as perdas com empréstimos ruins. Para membros do governo, o banco tem uma estrutura muito grande que o torna "inadministrável". Já o governo não tem uma estratégia clara nem experiência em administrar um banco comercial.

Até agora o governo tem mantido apenas um monitoramento da gestão da instituição. O banco foi beneficiado com parte do dinheiro do pacote de 700 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso no ano passado. No entanto, como o banco precisa de mais ajuda, é natural que a interferência do governo cresça, o que deve aumentar o atrito entre as partes.

A salvação do Citi é também delicada para o governo. A equipe econômica já injetou 200 bilhões de dólares em mais de 400 bancos americanos, além de ter garantido pelo menos 420 bilhões de dólares em empréstimos e forçado a fusão de instituições financeiras. Todo esse dinheiro foi aplicado sem que a situação do sistema financeiro americano tenha parado de se deteriorar - o que parece bastante incompreensível para a maioria dos contribuintes americanos.

A partir desta semana, o governo deve começar a realizar "testes de estresse" para avaliar a capacidade de sobrevivência dos bancos em diferentes cenários. Os bancos que forem reprovados nesses testes correm o risco de ser nacionalizados. O Citigroup luta contra a nacionalização, mas não tem feito grandes esforços para se desfazer de ativos não-estratégicos que poderiam lhe render o capital necessário para continuar a operar. O banco, ao contrário, tem apostado suas fichas em pedidos de ajuda ao governo.

Em janeiro, o Citi concordou em vender parte de suas ações da corretora Smith Barney ao banco de investimentos Morgan Stanley. Outros ativos que podem ser vendidos são as ações do banco mexicano Banamex, e, no Brasil, a participação do banco no capital da Redecard, a processadora de transações com os cartões Mastercard e Diners.

Por outro lado, o banco também sofre pressões do governo para cortar custos. Seus gastos passaram a ser controlados pela opinião pública. O Citi tinha encomendado um avião de 42 milhões de dólares e teria de pagar uma multa à fabricante do jato se decidisse desistir do negócio. O próprio presidente Barack Obama considerou o negócio "ultrajante". Funcionários do Federal Reserve (o banco central dos EUA) fizeram a declaração de Obama chegar aos ouvidos de Pandit, que acabou desistindo o negócio.

Após a demora no cancelamento da encomenda do jato, o governo passou a exigir maiores detalhes sobre os gastos do banco. Desde então, executivos passaram a viajar em voos comerciais ou até mesmo de trem. Pandit vai receber 1 dólar de salário até que o banco volte a ser lucrativo.

O executivo espera que a instituição ganhe dinheiro com empréstimos já neste primeiro trimestre. Analistas acreditam que isso não será possível, principalmente com a economia americana entrando em um espiral recessiva. O governo, no entanto, não dá sinais de que está disposto a esperar muito pela recuperação do banco.

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