Exportadoras recorrem ao hedge, mas médias empresas ficam de fora
Com o dólar em queda, proteção cambial tornou-se uma necessidade para as empresas que exportam. Mas apenas um seleto grupo delas consegue arcar com os custos da operação
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.
Até pouco tempo atrás, o hedge era uma operação comum entre importadores. Com o dólar sempre prestes a subir, não havia outra forma de se proteger de prováveis perdas financeiras. Hoje a situação se inverteu. A pressão sobre a moeda americana ainda existe, mas para baixo. E o hedge, que até então era coisa de importador, transformou-se em uma tábua de salvação para os exportadores brasileiros.
Exemplo clássico dessa nova tendência é a Sadia, que apesar dos volumes recordes de frango exportados no ano passado, só conseguiu manter um bom resultado financeiro graças às operações de hedge. "Foi assim que conseguimos compensar as perdas com o câmbio desfavorável", diz o diretor financeiro da Sadia, Luiz Murat.
A Sadia não está sozinha. Os números indicam que as grandes empresas estão recorrendo ao hedge cambial, desta vez para protegerem suas exportações. "O volume dessas operações tem caído consideravelmente entre os importadores. No entanto, as cifras totais permanecem estáveis, o que mostra a entrada dos exportadores nesse mercado", diz Eduardo Martins, chefe da mesa de derivativos do banco Santander.
Para quem pode
O que para as grandes empresas é uma necessidade, para as médias é um luxo. O hedge cambial é uma operação considerada de alto risco pelos bancos, que, por esse motivo, cobram caro pelo serviço. Com isso, quem pode se proteger é uma lista seleta de empresas, que inclui as 400 maiores do país. A média empresa, que fatura menos de 100 milhões de reais por ano, já não consegue arcar com os custos do hedge.
"A saída é recorrer ao hedge natural, ou seja, negociar um preço fixo com o cliente. Mas há sempre um risco: podemos perder ou ganhar", diz o empresário Henrique Dias Cambraia, sócio-diretor da San Antonio Coffee, uma cooperativa de produtores de café do sul de Minas especializada na exportação de cafés especiais. As vendas internacionais do grupo somam, em média 800 000 dólares por ano. "Com esse montante, não vale a pena recorrer ao hedge junto aos bancos", diz Cambraia. Ele conta que, em 2005, o valor negociado com os clientes estrangeiros antes da entrega do produto foi favorável. "Em compensação, o ano de 2004 foi negativo", diz.
O superintendente de produtos da Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip), Jorge Sant';anna afirma que o custo do hedge deve cair esse ano. "Quanto maior a estabilidade econômica, menor será a volatilidade cambial. Isso ajuda a diminuir os riscos e as taxas", diz Sant';anna. Ele admite, no entanto, que o valor cobrado pelos bancos ainda é proibitivo para empresas de médio porte.