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Entenda o pessimismo nas Bolsas mundiais

O mercado vinha absorvendo bem o fim da bolha imobiliária nos EUA, mas agora vê chances reais de que o aumento da inadimplência esfrie o principal motor da pujança mundial: as fusões e aquisições

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

Depois de mais de quatro meses de fortes ganhos e diversos recordes quebrados, os mercados financeiros mundiais iniciaram nesta semana uma fase de rápida correção. Depois de uma desvalorização de 3,86% na última terça-feira, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltou a despencar hoje, chegou a perder mais de 6%, mas fechou em baixa de 3,76%, aos 53.893 pontos. Praticamente todas as Bolsas mundiais também amargaram baixas representativas nesse dois dias. Mas por que o humor dos investidores, que andava ótimo, mudou de forma tão súbita? A resposta pode ser encontrada no setor financeiro dos Estados Unidos e da Europa, que começa a dar sinais de que não está mais disposto a bancar qualquer negócio.

Nos últimos anos, o mundo viveu um dos ciclos de altíssima liquidez mais longos da história do capitalismo. Praticamente qualquer projeto, mesmo que ainda no papel, encontrava investidores dispostos a financiá-lo. No Brasil, empresas como Invest Tur, Brasil Ecodiesel e MMX lançaram suas ações na Bovespa apesar de seus principais projetos ainda estarem em fase de implementação. Neste ano, a expectativa é de que 60 empresas façam ofertas iniciais de ações (IPOs) no país, inclusive a própria Bovespa.

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Esse excesso de liquidez também ajudou a financiar fusões e aquisições ao redor do mundo. Tornou-se rotina nos últimos meses que empresas e fundos de private equity lançassem ofertas de vários bilhões de dólares por companhias rivais. O volume mundial de aquisições neste ano já supera 3 trilhões de dólares. No Brasil, o expoente dessa onda recorde de aquisições foi a compra da mineradora canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce, um negócio que chegou a 18 bilhões de dólares.

Até o início deste mês ninguém imaginava que esse céu de brigadeiro pudesse se transformar em tempestade de uma hora para outra. Tanto que a mineradora Rio Tinto, por exemplo, lançou há poucos dias uma proposta de US$ 38,1 bilhões para a compra da canadense Alcan mesmo antes de conseguir levantar boa parte desse dinheiro. Todos esses negócios ajudaram a alavancar a dívida das empresas e também suas cotações em Bolsa mesmo sem a convicção do mercado de que esses ativos estivessem apenas chegando mais próximos de seus preços justos.

Nesta semana, entretanto, fusões muito menos volumosas que a da Alcan com a Rio Tinto encontraram dificuldades para serem financiadas. Ontem, um grande fundo de private equity, o Cerberus, não conseguiu vender 12 bilhões de dólares em títulos de dívida para financiar a aquisição da montadora Chrysler, vendida pela alemã Daimler poucas semanas atrás. Os bancos organizadores da operação decidiram ficar com os papéis para garantir a continuidade do negócio. Além disso, os bancos responsáveis pelo refinanciamento das dívidas da Alliance Boots em uma das maiores transações do Reino Unido desistiram ontem de vender 5 bilhões de libras em títulos e optaram por emitir papéis com juros mais altos.

Apesar de só terem surtido efeito no humor do mercado nesta semana, o motivo para uma concessão mais racional de crédito já existia há alguns meses. Desde março instituições financeiras dos Estados Unidos tem registrado perdas com títulos imobiliários de segunda linha conhecidos como "subprime". Com a queda da procura e do valor dos imóveis no país, veio o aumento da inadimplência nas hipotecas. E com as perdas dos bancos que possuíam esses títulos em suas carteiras, seria natural que houvesse em algum momento a redução das linhas de crédito e da exposição ao risco.

Esse movimento, no entanto, foi adiado pela crença no mercado de que a crise imobiliária seria concentrada no setor e passageira. Na terça-feira, entretanto, a Countrywide Financial, maior empresa de crédito para compra de imóveis do país, alertou que a inadimplência dos tomadores de empréstimos tem crescido bastante e que o setor imobiliário não deve se recuperar até 2009, um fato com potencial para comprometer os resultados de diversos setores da economia americana.

O fim da bolha dos imóveis aliado ao fracasso do financiamento das aquisições da Chrysler e da Alliance Boots foi entendido pelo mercado como um novo prenúncio de forte redução no número de fusões e aquisições, justamente o que mais vinha contribuindo para a continuidade da valorização das ações.

Como forma de evitar perdas e embolsar os lucros já obtidos, grandes investidores começaram a fugir dos ativos de maior de risco, como os de mercados emergentes, e procurar abrigo em aplicações consideradas mais seguras, como os títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O resultado na Bovespa foi um prejuízo de dezenas de bilhões de reais. Ainda parece cedo, entretanto, para avaliar se o mercado faz apenas uma correção porque caiu a ficha de que os preços das ações estão altos demais ou se um dos maiores ciclos de crescimento da economia mundial já observado começa a chegar ao fim.

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