Desistência da National Beef é boa para Friboi no curto prazo, diz Brascan
Para corretora, decisão preserva o caixa em tempos de crise, mas impede companhia de lucrar com as sinergias da aquisição no longo prazo
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.
O frigorífico JBS-Friboi anunciou, nesta sexta-feira (20/2), que desistiu da aquisição da americana National Beef. Segundo a companhia, o negócio foi desfeito por falta de condições satisfatórias para sua conclusão. Para a corretora Brascan, a decisão é positiva para o Friboi no curto prazo, mas, em um horizonte de tempo maior, impedirá que a companhia explore as sinergias que seriam geradas com a compra da National Beef.
Em relatório assinado pela analista Denise Messer, a corretora observa que a desistência pode surtir um "efeito positivo" sobre as ações no curto prazo, porque "reforça a posição de caixa da empresa em um momento de baixa liquidez mundial". Por volta do meio-dia, as ações ordinárias do Friboi ( JBSS3, com direito a voto ) apresentavam alta de 2,24% na Bovespa, cotadas a 4,57 reais por papel - a maior alta entre os papéis que compõem o Ibovespa. Até aquele momento, as ações haviam gerado 195 negócios no pregão. No mesmo instante, o Ibovespa, principal indicador do pregão paulista, recuava 2,31%, para 38.811 pontos.
A Brascan considera que, no longo prazo, abrir mão da National Beef é uma decisão negativa para o Friboi. A corretora afirma que a experiência da empresa brasileira - a maior produtora mundial de carne bovina -, aliada à estrutura de produção de baixo custo e à experiência da National Beef no mercado americano "poderiam possibilitar à companhia obter grandes ganhos de sinergia com a aquisição".
Reação americana
A compra da National Beef foi anunciada em 5 de março do ano passado. O frigorífico brasileiro pagaria um total de 970 milhões de dólares, entre desembolso em dinheiro e transferência de dívidas. O movimento, porém, causou forte resistência dos produtores, órgãos de fiscalização do mercado e políticos americanos, que temiam a concentração do mercado de carne bovina nas mãos de uma empresa estrangeira.
Para o governo americano, a compra da National Beef, somada à da Smithfield Beef, proporcionaria uma centralização do mercado dos Estados Unidos nas mãos de apenas três companhias: JBS, Cargill e Tyson Foods. Em 20 de outubro do ano passado, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu um processo para impedir a conclusão do negócio.
Resultados trimestrais
O Friboi também divulgou um prejuízo líquido de 53,5 milhões de reais no último trimestre de 2008. Em igual período de 2007, as perdas haviam somado 136 milhões. Entre julho e setembro de 2008, porém, a companhia havia lucrado 270 milhões de reais. Para a Brascan, os resultados já mostram o impacto da crise mundial na empresa.
A corretora também considerou negativo o fato de o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e a margem de ebitda virem abaixo de suas estimativas. No último trimestre, o ebitda do frigorífico foi de 266 milhões de reais, com margem de 2,8%. A Brascan projetava um ebitda de 282 milhões, com margem de 3%.
O relatório afirma que 2009 será "um ano desafiador" para a companhia. A queda nas exportações deve reduzir a sua rentabilidade. Mas a Brascan acredita que o Friboi terá condições enfrentar os problemas, "devido à sua posição de liderança mundial no setor de carne bovina e ao seu baixo nível de endividamento". Por isso, a corretora mantém a recomendação de outperform para os papéis - isto é, desempenho esperado acima da média do mercado. A Brascan projeta um preço-alvo de 7,70 reais para as ações em dezembro deste ano, o que representa um potencial de valorização de 72,3% sobre o fechamento desta quinta-feira (19/2).