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Como fica o Brasil caso a crise se agrave

Se pacote de medidas demorar para ser aprovado nos EUA e mais bancos quebrarem, Brasil terá de enfrentar escassez de crédito, queda do preço das commodities, pressão sobre o câmbio e desaceleração do PIB

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O pacote de medidas anunciado pelo governo americano levou euforia ao mercado financeiro na última sexta-feira (19), mas ainda é insuficiente para debelar a crise, segundo o próprio secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson. Muitos dos créditos podres que sufocam o sistema financeiro não são elegíveis para o programa de ajuda, que somará 700 bilhões de dólares. Tanto que as ações de bancos americanos de pequeno e médio porte despencaram nesta semana. Além disso, ainda não há garantias de que o pacote será rapidamente aprovado, já que o Partido Democrata tenta incluir também ajuda a mutuários no programa.

As dificuldades para a aprovação do plano geraram intranqüilidade no mercado. A bolsa brasileira chegou a cair 4% nesta terça-feira e completou dois pregões em baixa. O presidente do Federal Reserve (banco central dos EUA), Ben Bernanke, tentou reagir e disse no Congresso que a rejeição do plano impediria o bom funcionamento dos mercados e mergulharia os EUA na recessão.

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Para o Brasil, o agravamento da crise americana não seria nada bom. Até agora só a Bovespa, a BM&F e os exportadores sentiram o golpe, mas a economia real continua funcionando bem. Analistas ouvidos pelo Portal EXAME alertam, no entanto, que o prolongamento da crise e a quebra de mais bancos poderiam dificultar a obtenção de crédito no país. "As empresas poderão ser atingidas e o reforço de capital para financiá-las terá de vir internamente, via sistema financeiro público, com linhas de crédito de longo prazo", afirma o economista e professor Ricardo Carneiro, da Unicamp.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já foi orientado pelo presidente Lula a aumentar a concessão de crédito para as empresas que estiverem temporariamente sem acesso a financiamento internacional por causa da crise. O presidente do banco, Luciano Coutinho, elevou a previsão de desembolsos neste ano de 80 bilhões de reais para 85 bilhões de reais com a demanda inesperada. A instituição obteve um empréstimo de 15 bilhões do Tesouro Nacional, negocia a captação de 7 bilhões de reais do FGTS e levantou 1 bilhão de dólares no mercado externo para garantir a expansão das linhas de crédito.

Sem crise até agora

O economista Cristiano Souza, do Banco Real, afirma que a crise do crédito no exterior ainda tem um impacto muito restrito no sistema financeiro brasileiro. Ele lembra que os números do Banco Central mostram que o crédito para empresas vem crescendo no Brasil nos últimos meses, apesar de a crise já durar mais de um ano. Os juros para os empréstimos ficaram um pouco maiores, mas, ao contrário do que acontece no exterior, as linhas de financiamento não secaram.

Apenas o setor exportador tem sentido maior pressão para financiar suas operações, segundo o professor da FEA-USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. "Com a crise lá fora, os estrangeiros não estão emprestando dinheiro para financiar as exportações brasileiras", afirmou ele. O Banco Central reagiu a essa situação na quinta-feira passada, quando anunciou que passaria a vender dólares no mercado momentos após a cotação da moeda americana encostar em 2 reais. Em tese, o BC tem bastante fôlego para garantir a liquidez no mercado de câmbio por vários meses, já que as reservas internacionais superam 200 bilhões de dólares.

Commodities

O setor produtivo também não acusou o golpe da crise americana até o momento. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 6,1% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado - o que surpreendeu positivamente os especialistas. O agravamento da crise, entretanto, desaceleraria as principais economias do mundo (EUA, zona do euro, Reino Unido e Japão), justamente os maiores compradores das exportações brasileiras. Além disso, haveria impacto no preço das commodities, que respondem por cerca de 40% das exportações brasileiras. "Hoje é o mercado financeiro a ocupar as manchetes, mas amanhã a crise vai bater no mercado produtivo de bens e serviços", afirma o professor-assistente da FEA/USP Marcelo Felippe Figueira.

Para ele, faltou mais fiscalização do governo dos EUA sobre os mercados para evitar a crise. "Foi uma falha brutal a mistura de crédito imobiliário com os fundos de bancos de investimento." Lima Gonçalves, do Fator, concorda: "Não há um organismo que atue como um banco central ou uma CVM internacional." Agora já é tarde para esse tipo de mudança. Resta ao Brasil torcer para que o Congresso aprove o mais rápido possível o pacote de ajuda ao setor financeiro.

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