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Como anda seu colchão financeiro?

Você tem mais dívidas que poupança? Equilibre essas contas se quiser segurança na hora de dar adeus a um emprego que não lhe agrada

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h33.

Muitas pessoas vivem insatisfeitas com seu trabalho e gostariam de pedir demissão neste exato momento. Elas adorariam dar adeus definitivo a um chefe irracional, a uma empresa que nunca reconheceu seu talento ou à falta de perspectivas de crescimento profissional. Nessas horas, a única saída parece ser buscar uma organização que não limite o poder criativo dos funcionários e dê condições a seu desenvolvimento. Mudar de emprego sem ter um novo em vista, num rompante, não é uma atitude recomendada pelos consultores de carreira. Primeiro: estando empregado, você tem maior poder de barganha para negociar novos salários e benefícios. O desempregado geralmente está numa posição em que é praticamente obrigado a aceitar qualquer oferta para sair do sufoco financeiro. Segundo: a grana pode acabar antes de surgir uma nova oportunidade. Mas, quando a situação beira o insuportável, permanecer no antigo emprego pode ser uma tortura. Nesse caso, o que fazer? A resposta é: se você tiver uma reserva financeira que permita uma sobrevida de seis meses, vá em frente e dê adeus a seu algoz.

Independentemente de estar ou não satisfeito no trabalho, tenha sempre em mente esta verdade incontestável: é o tamanho do seu colchão financeiro que fará você engolir mais ou menos sapos. Se você não consegue se manter nem dois meses com suas economias, acaba tendo de aturar um emprego de que não gosta. Se, ao contrário, possui uma folga financeira que lhe permita fazer uma pausa estratégica, pode se dar ao luxo de pedir demissão sem pestanejar. E então: qual o tamanho da sua liberdade? Se você nunca parou para pensar nisso, saiba que está mais do que na hora, pois há sempre a possibilidade de o emprego feliz de hoje tornar-se uma grande fonte de frustrações amanhã. E você precisa estar em condições de agir e reagir. Para mostrar como começar a construir essa reserva financeira, VOCÊ s.a. ouviu Cristina Pogetti Badaoui, diretora financeira da Mariaca & Associates, empresa de headhuntig e outplacement localizada em São Paulo. O trabalho de Cristina é orientar executivos em fase de recolocação no mercado sobre como cuidar de suas finanças pessoais. Abaixo, a estratégia para você formar o seu colchão financeiro.

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1 - Quanto você ganha? Por mais absurdo que possa parecer, muita gente não tem idéia de sua verdadeira renda mensal. Algumas pessoas, por exemplo, incorporam o limite do cheque especial ao salário, caindo numa perigosa armadilha de juros. Outros se endividam, abusam do cheque pré-datado e dos empréstimos. "São grandes armadilhas", afirma Cristina. "O cheque especial, por exemplo, é um recurso financeiro perigoso, pois está sempre à mão e é fácil de ser utilizado. O ideal é jamais recorrer a ele." Portanto, tenha bem claro na mente qual é seu salário.

2 - Descubra, exatamente, quais são seus gastos mensais. Para isso, a melhor alternativa é fazer uma planilha em seu computador, no palm, na agenda ou mesmo numa simples folha em branco. Não importa. O importante é registrar todas as despesas do mês. Procure dividi-las em três grupos distintos: itens que são indispensáveis (condomínio, aluguel, escola dos filhos, energia elétrica, água, farmácia, supermercado etc.), despesas que lhe geram maior conforto (TV a cabo, assinaturas de revistas, telefone celular etc.) e gastos com luxo (cabeleireiro cinco-estrelas, carro importado, idas a restaurantes, supérfluos etc.). "Corte tudo aquilo que for luxo", diz a consultora. "Pode ser doloroso no começo, mas a pessoa precisa ter uma sobra para montar sua reserva financeira." Procure um cabeleireiro mais barato, vá menos vezes a restaurantes ou troque o carro importado por um nacional (além de pagar menos IPVA e fazer um seguro bem mais em conta, o valor da diferença entre os dois veículos pode ser poupado).

3 - Transforme o ato de poupar em algo prazeroso. Para isso, defina um objetivo para a reserva: garantir a escola dos filhos, fazer um MBA no exterior, montar o negócio próprio, comprar uma casa. Nessas condições, cada real economizado gera satisfação, pois a pessoa sente que está se aproximando cada vez mais do planejado. "Comece com um objetivo menos ambicioso, como uma viagem para outro estado", afirma Cristina. "Descubra quanto terá de poupar a cada mês para reunir a quantia necessária e faça os cortes no orçamento. A partir daí, você cria o hábito de poupar e passa a priorizá-lo." A outra vantagem da poupança é que você não comprometerá sua renda mensal e não precisará apelar para o cheque especial.

4 - Descubra qual é o investimento adequado para atingir seu objetivo. A melhor escolha dependerá diretamente do prazo que você definiu para alcançá-lo. Os bancos possuem uma infinidade de opções de investimentos (caderneta de poupança, CDBs, fundos DI, ações etc.) que podem ser mais ou menos vantajosos no curto, médio ou longo prazo. Leve também em conta seu perfil de investidor, que pode ser conservador, moderado ou agressivo. Se você é conservador, o investimento em ações pode deixá-lo angustiado, pois seu risco é maior e o retorno se dá no longo prazo. Se, por outro lado, seu perfil é mais agressivo, esqueça a caderneta de poupança, onde as chances de ganhos são completamente engessadas. Estabeleça uma relação de confiança com o gerente de seu banco ou com quem administrará seu investimento. Ele deve ser uma pessoa competente, experiente e transparente. Lembre-se: você deve procurar diversificar sua carteira de investimentos. "Não guarde todos os ovos numa única cesta", diz Cristina. "É uma regra básica, mas valiosa."

5 - Mantenha-se informado. Você pode não ser um expert em finanças pessoais, mas não pode abrir mão de saber o que está acontecendo no mercado. Saber quais investimentos estão descendo ladeira abaixo e quais são mais atraentes é a melhor forma de não só proteger o dinheiro como também de fazer o bolo crescer. Se tiver dúvidas, recorra ao gerente de seu banco, visite sites financeiros, leia jornais e livros sobre o assunto. A informação é a melhor arma contra as oscilações do mercado.

6 - Você está no vermelho? Então, não há como chutar o pau da barraca de uma hora para a outra. Você precisa colocar as finanças em dia e traçar um plano de ação. Antes de mais nada, deve ter consciência do que o levou a essa situação. Na maioria das vezes, o motivo é a dificuldade na administração do próprio orçamento. Aqui vale o mesmo para quem está no azul: faça uma planilha e coloque ali suas despesas. Descarte tudo o que estiver no quesito "luxo", como descrito no item 2. Se tiver dívidas no cheque especial, procure negociá-las. Muitas vezes é mais vantajoso fazer um empréstimo e quitar a dívida à vista -- os juros do empréstimo são menores do que os do especial, algo em torno de 5% a 6% ao mês. Se você tem muitas contas e se confunde com facilidade, o cartão de crédito pode ser seu aliado. Pague tudo com ele, pois assim terá todas as dívidas vencendo num mesmo dia. Mas não se esqueça da data de vencimento, pois os juros a partir daí são elevados -- algo em torno de 12% ao mês. Escolha um cartão que lhe ofereça algum valor agregado, como bônus, milhagem etc.

7 - Aprenda a negociar. Escola dos filhos, cartão de crédito, seguro do carro, tudo pode ser renegociado. A maioria dos credores prefere negociar a correr o risco de não receber um único centavo.

8 - Seu banco tem jogado duro com você? Não oferece um pacote de tarifas vantajoso? Pois, mesmo que você seja cliente há 15, 20, 30 anos, mude de banco. Esqueça essa história de fidelidade. Não são raras as vezes que, ao perceber que o cliente vai fechar a conta, os bancos voltam atrás em sua inflexibilidade e se tornam mais dispostos a negociar.

9 - Você não agüentou e chutou o balde? Então respire fundo. Ao receber sua indenização, não quite as dívidas de uma vez (a não ser, é claro, aquelas que cobram juros exorbitantes, como o cheque especial e o cartão de crédito). "Nessas horas a gente precisa de fluxo", diz Cristina. O que fazer? Coloque tudo na ponta do lápis e faça uma projeção de quanto dinheiro precisará para viver pelo menos nos próximos seis meses. Jogue essa quantia num fundo DI, por exemplo, ou em outra aplicação que se enquadre em seu perfil de investidor e vá retirando dessa reserva o necessário para cada mês. Aí, sim, a quantia que sobrar pode ser destinada ao pagamento à vista das dívidas mais pesadas. "Dessa forma, você vai garantir estabilidade financeira e tranqüilidade para buscar novas oportunidades e até descartar aquelas propostas que não lhe agradarem", afirma a consultora. Nesse momento, pode ter a certeza: você conquistou sua liberdade diante dos empregos ruins.

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