Bancos suspendem financiamento mais barato de imóveis usados. E agora?
Como historicamente a linha pró-cotista cobra menores juros e por ter um orçamento limitado todos os anos, é comum que ela seja suspensa antes de dezembro
Anderson Figo
Publicado em 17 de agosto de 2018 às 05h00.
Última atualização em 17 de agosto de 2018 às 05h00.
São Paulo — Quem quiser financiar um imóvel usado através da linha pró-cotista, que usa recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e é tradicionalmente considerada a mais barata do mercado, vai ter que esperar. No início deste mês, a Caixa anunciou a suspensão temporária desse tipo de crédito, na esteira do Banco do Brasil, que havia feito o mesmo em maio.
O Santander passou a oferecer a linha pró-cotista recentemente, e é o único banco privado, por ora, a fazer isso. A instituição não divulgou detalhes sobre as condições do crédito, mas o site EXAME apurou que, assim como no BB e na Caixa, ele só está disponível para imóveis novos que sejam financiados pelo próprio banco.
O Bradesco afirmou que vai disponibilizar a linha pró-cotista a partir de janeiro de 2019, mas não abriu as condições do crédito. O volume de recursos disponível para a linha pró-cotista é definido todos os anos no orçamento do governo. Para 2018, a cifra ficou em 5 bilhões de reais, 35% menor do que o volume de 2017. Agora, há menos de 1,8 bilhão de reais disponíveis para este ano, exclusivamente para imóveis novos.
Como historicamente a linha pró-cotista cobra os menores juros para quem não se enquadra nas regras do MCMV (Minha Casa Minha Vida), e por ter um orçamento limitado todos os anos, é comum que ela seja suspensa pelos bancos antes de dezembro.
Veja abaixo as taxas de juros praticadas pelos bancos em cada modalidade.
Instituição | SFH - Imóveis de até R$ 950 mil em SP, RJ, MG e DF e R$ 800 mil para outros Estados | Valores superiores (carteira hipotecária/SFI) | Linha Pró-Cotista |
---|---|---|---|
CAIXA | 9,00% + TR | 10,00% + TR | Entre 7,85% e 9,01% ao ano + TR (somente imóveis novos) |
BRADESCO | 8,95% + TR | 9,45% + TR | Vai disponibilizar a linha apenas em 2019 |
ITAÚ | 8,80% + TR | 8,80% + TR | Não disponível |
SANTANDER | 8,99% + TR | 9,49% + TR | Linha disponível somente para imóveis novos, mas as condições não foram divulgadas |
BANCO DO BRASIL | 9,00% + TR | 9,35% + TR | 9,00% ao ano + TR (somente imóveis novos) |
“Do começo deste ano para trás, a linha pró-cotista era uma alternativa barata de crédito em comparação às taxas de juros que estavam sendo praticadas pelos bancos”, diz Marcelo Prata, fundador dos sites Canal do Crédito e Resale.
“Mas, hoje, a diferença desse crédito para as demais linhas disponíveis não está tão grande. Estamos no mesmo patamar de taxas de 2014. Naquela época, os indecisos acabavam comprando o imóvel a qualquer oscilação para baixo nas taxas de juros. Tínhamos emprego, bons salários e a confiança estava alta. Hoje, apesar de as taxas estarem no mesmo patamar, o cenário macroeconômico é bem diferente. Não dá para as pessoas decidirem financiar um imóvel só porque as taxas estão menores”, afirma Prata.
A vantagem da linha pró-cotista é que ela aceita imóveis de até 950 mil reais nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, e de até 800 mil reais nos demais estados. É possível financiar até 80% do valor do imóvel. Enquanto isso, o Minha Casa Minha Vida só aceita imóveis de até 300 mil reais.
Outra diferença é que o financiamento pelo MCMV só está disponível para quem tem renda de até 9 mil reais, enquanto a linha pró-cotista não tem limite de renda. Porém, para ter acesso à pró-cotista, é preciso ter conta ativa no FGTS há pelo menos 36 meses ou uma conta ativa no FGTS com saldo de pelo menos 10% do valor do imóvel.
Quem não se encaixa nas exigências da linha pró-cotista pode financiar o imóvel através do SFH (Sistema Financeiro de Habitação), que também usa os recursos do FGTS. O limite de preço dos imóveis financiados pelo SFH é o mesmo da linha pró-cotista, com taxas que começam em 8,80% ao ano mais TR (taxa referencial), no Itaú (veja as taxas nos demais bancos na tabela acima).
Se o valor do imóvel for maior do que 950 mil reais nos estados de SP, RJ, MG e DF, ou maior do que 800 mil reais nos demais estados, é possível financiar através da linha SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário) ou Carteira Hipotecária. As taxas desse tipo de crédito também começam em 8,80% ao ano mais TR, no Itaú.
É importante ressaltar que as taxas informadas são padronizadas, mas podem variar conforme o relacionamento do cliente com cada banco. Isso vale tanto para os financiamentos através do SFH quanto para os financiamentos através do SFI.
A partir de 2019, o valor do limite de financiamento com uso do saldo do FGTS será ampliado para 1,5 milhão de reais. A decisão foi anunciada em agosto deste ano pelo governo como forma de estimular o mercado imobiliário no país.