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A ressurreição da Persico Pizzamiglio

Empresa paulista, falida desde 1997, deve entrar em regime de recuperação judicial amanhã

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A nova lei de recuperação judicial, que entrou em vigor no dia 9 de junho, já começa a mudar a situação das empresas em dificuldades. Nesta terça-feira, dia 28 de junho, uma tradicional fabricante de tubos de aço paulista, a Persico Pizzamiglio, deverá receber aprovação da Justiça para iniciar seu processo de recuperação judicial. Esse será o primeiro caso de uma empresa falida que retornará a um estado quase normal de atividades por causa da aprovação da nova lei. "Sem a possibilidade da recuperação judicial, a Persico teria fechado as portas definitivamente", diz Elie Nasrallah, sócio da consultoria paulista Pluricorp, que comandou a reestruturação da Persico Pizzamiglio.

O caso da empresa mostra bem como alterar a lei de falências era necessário. Fundada na primeira metade do século passado, a Persico era a típica empresa familiar que cresceu apostando no desenvolvimento do Brasil. Uma das maiores produtoras de tubos de aço do mundo, a empresa ganhou muito com os investimentos em infra-estrutura industrial durante as décadas de 60 e 70. No auge, chegou a empregar 3 000 pessoas e a faturar 300 milhões de dólares por ano. No entanto, a forte desaceleração dos investimentos no início dos anos 80 e as sucessivas intervenções do governo na economia acabaram por comprometer a solidez financeira da Persico, que pediu concordata no início da década de 90. Em 1997, incapaz de honrar seus compromissos, a empresa faliu.

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Parecia apenas o fim de mais um grupo industrial familiar. Porém, uma brecha na lei permitiu que a empresa voltasse a funcionar, ainda que precariamente. "Nós solicitamos à Justiça em 1997 a aplicação de um princípio da velha lei de falências, conhecido como princípio da continuidade do negócio", diz Nasrallah. "Se os controladores entregassem a gestão para outras pessoas, a empresa poderia continuar funcionando." A família entregou, então, o controle da empresa à consultoria Pluricorp, dirigida por Nasrallah e pelo financista Vladimir Rioli. Após elaborar um detalhado plano de recuperação que consumiu 14 meses de trabalho, os sócios da Pluricorp obtiveram autorização da Justiça para retormar as atividades no início do ano 2000.

Não foi fácil. "A empresa havia ficado fechada por quase três anos", diz Rioli. "Havia cavalos pastando dentro da fábrica e o maquinário estava deteriorado devido ao longo período de inatividade." Pior, por ser uma companhia falida, a empresa não seria capaz de levantar um centavo que fosse de crédito bancário. "Pelas normas do Banco Central, a instituição que emprestasse para a companhia teria de lançar o crédito como um prejuízo", diz Rioli. A solução encontrada pelos gestores foi tomar os empréstimos em nome da Pluricorp. Como uma consultoria que emprega 15 pessoas e tem quase que só ativo intelectual pôde carregar uma fábrica de tubos falida em seu balanço? "Conhecíamos a empresa e o setor e avaliamos bem os riscos", diz Nasrallah. "Mas tivemos de assumir uma dívida grande para uma empresa de nosso tamanho."

Com sua atuação limitada, a saída para a empresa foi tornar-se uma prestadora de serviços para siderúrgicas e metalúrgicas como Gerdau e Usiminas, que elaboram seus tubos na planta da Pérsico. Hoje, a empresa é bem menor do que foi em seu auge: emprega 500 pessoas e deverá faturar 25 milhões de reais este ano. Apesar da redução, porém, o processo de recuperação deverá permitir que a Pérsico pague suas dívidas trabalhistas e com os fornecedores. "Esperamos quitar todas as dívidas em 12 anos", diz Nasrallar.

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