Um olho no dólar e outro nas ações. Quem perde e quem ganha?
Analistas do HSBC traçam as perspectivas para as empresas e setores que podem enfrentar desafios
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2011 às 18h08.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h30.
São Paulo – A recente desvalorização do real em relação ao dólar pegou muita gente desprevenida. Além dos turistas que ainda não tinham comprado as verdinhas para a sua viagem ao exterior, muitas empresas precisaram correr para rever os números e estratégias de proteção para enfrentar um ambiente com o dólar mais longe do nível de 1,50 e mais próximo dos 2 reais daqui para frente. Em um relatório publicado nesta semana, a equipe de análise do HSBC foi desafiada a traçar as ações dentre as acompanhadas pelo banco que podem mais ser afetadas ou até beneficiadas pelo novo cenário. “Nosso cenário ‘e se’ coloca o real a 2,00 frente ao dólar ao longo de 2012. Não consideramos um cenário de colapso da economia global em nossa simulação, e sim uma perspectiva de ‘mais do mesmo’”, explicam Alexandre Gartner e Francisco Vanzolini. “Analisamos os impactos em todos os setores em termos relativos, e selecionamos os casos nos quais acreditamos que o impacto pode ser maior ou menor”, destaca o relatório. O impacto da taxa de câmbio foi avaliado em 22 empresas com o foco em aspectos: receita, custos e investimentos e alavancagem. table.tableizer-table {border: 1px solid #CCC; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 12px;} .tableizer-table td {padding: 4px; margin: 3px; border: 1px solid #ccc;}.tableizer-table th {background-color: #104E8B; color: #FFF; font-weight: bold;}
Confira nas imagens acima os efeitos nos seus respectivos setores.
Impacto do enfraquecimento do real | ||
---|---|---|
Beneficiários | Em maior risco | A monitorar |
Brasil Foods | TAM | Renner |
Vale | Gol | Marisa |
Usiminas | Dasa | B2W |
Gerdau | Fleury | Lojas Americanas |
CSN | Marfrig | Hypermarcas |
OGX | JBS | Pão de Açúcar |
SLC Agrícola | Tele Norte Leste | |
São Martinho | Petrobras |
Para o setor, o HSBC projeta um efeito positivo sobre as ações da SLC Agrícola, Brasil Foods e São Martinho. Para as empresas de carne bovina, contudo, os desafios podem aparecer. “Como a indústria vem operando com margens baixas, os investidores têm demonstrado preocupação com a alavancagem, mesmo antes dos movimentos cambiais”, destacam os analistas. Segundo eles, o enfraquecimento do real aumentaria essas inquietações. SLC: “A empresa está totalmente contratada no lado de fertilizantes para o AF12, embora não esteja muito avançada no hedging da receita (apenas em 29% em algodão, 16% em soja e 30% no Real)”. Brasil Foods: O forte poder de colocação de preços ajudaria a repassar os custos, onde cerca de um terço é relacionado ao dólar. “A empresa também tem hedge contra preços de grãos, o que deve limitar ainda mais os riscos de baixa”. São Martinho: Com dois terços da dívida em reais, a alavancagem tenderia a melhorar em comparação à geração de caixa. Ela ganharia ainda com as exportações de açúcar, que são aproximadamente 45% da receita.
Altamente exportador, o setor está em posição para ganhar com o enfraquecimento da moeda brasileira, “embora com velocidade e magnitude diferentes”, explicam. “No caso das empresas siderúrgicas, o benefício seria menos imediato e mais incerto, porém o impacto pode ser mais relevante”, ressalta o banco. As siderúrgicas estão com margens muito baixas, ou seja, qualquer melhora seria significativa. Vale: “Como parte dos custos é denominada em reais, o impacto líquido é positivo para a empresa”, diz o banco. O efeito sobre a dívida em dólar, 90% do total, é mitigado pela compensação com a receita de exportações. Usiminas e CSN: As duas empresas deve ser beneficiadas por um possível aumento dos preços do aço no mercado doméstico, atualmente abaixo do nível internacional. Gerdau: Além de ganhar com o crescimento do valor do produto dentro do país, a companhia lucra mais com os ativos que possui fora do Brasil.
Como uma estatal usada pelo governo para controlar os preços da gasolina no mercado interno, a Petrobras é novamente apontada como uma das mais afetadas em um cenário com o real desvalorizado. “Como a empresa está importando gasolina para suprir o mercado local, basicamente ela compra produtos caros e os vende com preços domésticos baratos, prejudicando as margens”, destaca o banco. As margens são pressionadas ainda mais pelo de que um quarto das despesas operacionais está em dólar. Outro ponto levantado pelo HSBC é a dívida vinculada ao dólar que alcança 70% do total. Apesar disso, apenas 15% das receitas são na moeda. “Portanto, sua posição de dívida líquida deve aumentar. “A ressalva é que a dívida da empresa é de longo prazo, portanto, não deve ocorrer impacto caixa”, afirmam. OGX: O impacto seria neutro, aponta o HSBC. A empresa do investidor Eike Batista tem 2,6 bilhões de dólares em dívidas, mas que são compensadas pelo caixa de 2,5 bilhões de dólares. Do lado operacional, 75% das despesas são em dólar, mas as receitas também - o que a beneficiará quando começar a produzir. A OGX espera que isso ocorra até o final do ano. Lupatech: O problema para a fabricante de válvulas e equipamentos para a indústria do petróleo está em uma dívida de 275 milhões de dólares, a qual a empresa não possui hedge para o principal, apenas para os juros devidos. “No final de 2010, a Lupatech fez hedge de pagamentos devidos nos três trimestres subsequentes. Assim, o impacto de curto prazo do cenário cambial tenderia a ser limitado, mas os efeitos em um prazo mais longo podem ser negativos”, diz o banco.
O efeito sobre os custos do setor é relevante, aponta o banco. Apenas o efeito nos combustíveis é de 30% sobre as despesas totais. Além disso, algumas peças e custos de manutenção devem subir com a desvalorização da moeda, o que também acontece com os custos de arrendamento das aeronaves. “Em um setor que já opera com margens ínfimas, as empresas seriam confrontadas com a necessidade de optar por aumentar tarifas, podendo atingir a demanda, ou prejudicar gravemente sua lucratividade”, destacam os analistas. A Multiplus - administradora do programa de fidelidade da TAM – tem a sua receita líquida vinculada ao dólar, o que beneficiaria a empresa em um momento de fraqueza do real. “Porém, esse efeito seria em grande parte compensado por uma queda no montante de pontos a ser gerado”, destacam. Isso acontece porque os pontos apenas são gerados a cada dólar gasto, ou seja, o impacto líquido pode ser um faturamento menor, mas margens superiores, ressalta o banco.
No setor, o principal foco recai sobre as prestadoras Dasa e Fleury, aponta o banco. Os analistas explicam que alguns materiais são indexados ao dólar e representam em torno de 31% e 18% dos custos de Dasa e Fleury, respectivamente. “É incerto o quanto dessas
pressões de custos as prestadoras conseguiriam repassar para os preços, considerando sua dependência das pagadoras”, afirmam. Já para as chamadas “pagadoras” Odontoprev e Amil, o efeito deve ser pequeno. As empresas possuem pouca exposição cambial e têm o direito contratual de repassar quaisquer pressões de custos aos clientes. “Portanto, têm grande poder de colocação de preços”.
pressões de custos as prestadoras conseguiriam repassar para os preços, considerando sua dependência das pagadoras”, afirmam. Já para as chamadas “pagadoras” Odontoprev e Amil, o efeito deve ser pequeno. As empresas possuem pouca exposição cambial e têm o direito contratual de repassar quaisquer pressões de custos aos clientes. “Portanto, têm grande poder de colocação de preços”.
Aqui, o HSBC separa as empresas em três grupos: de vestuário, eletrônicos e de alimentos. As de roupas, como a Marisa e a Renner. “As empresas têm aumentado o mix de itens importados em suas lojas, o que propiciou a elas uma alternativa às pressões de custos no mercado doméstico e maiores margens. Com a desvalorização do Real, essa tendência pode sofrer uma parada ou mesmo ser revertida”, ressaltam. “No lado oposto, a queda nos preços do algodão tenderia a ajudar as margens. De forma geral, sentimos que o cenário para os próximos trimestres será mais difícil do que nos anos anteriores, com uma diminuição do poder de colocação de preços e pressões de custos ainda presente”, ponderam. As varejistas de eletrônicos devem ser as mais expostas. As companhias como a Lojas Americanas e B2W, vendem produtos com componentes que possuem os custos baseados em dólares. “Até que ponto essas pressões serão absorvidas pelos fornecedores e varejistas – e o quanto será repassado para os preços – continua sem resposta”. Por fim, as varejistas de alimentos tendem a sofrer um impacto pequeno. “As empresas têm muitas alternativas de substitutos domésticos para os itens importados (os quais, de qualquer forma, tendem a representar menos de 5% dos produtos vendidos)”, dizem.
O setor deve sofrer pouco com uma desvalorização do real, diz o HSBC. As empresas possuem uma baixa alavangem em dólares. “Porém, se a moeda insistir em permanecer em um nível mais desvalorizado, pode haver algum efeito residual, afetando investimentos, manutenção e custos de aparelhos telefônicos”, destacam. Os analistas lembram, contudo, que parte do aumento pode ser compensada pela queda nos preços globais de aparelhos, “mas o impacto marginal deve ainda ser negativo”.
Em um setor dominado na bolsa pela AmBev, a expectativa é de que não ocorra uma pressão no curto prazo. “Embora a empresa tenha em torno de 45% dos custos vinculados ao Dólar (principalmente alumínio, grãos e açúcar), ela possui hedge da maioria de suas compras até o quarto trimestre de 2012”, afirmam os analistas. A empresa poderia facilmente repassar as pressões de custos através dos preços de vendas, “quando e se elas acontecerem”.
Esse é outro setor cujo impacto da desvalorização do real deve ser pequeno. O HSBC destaca, entretanto, dois casos de exposição ao dólar. O primeiro é a Eletrobrás. “A empresa é beneficiada por seus recebíveis de longo prazo advindos de Itaipu, que são indexados ao Dólar. Por outro lado, parte de sua dívida é denominada em dólares, mas a magnitude dos recebíveis compensa com folga esse aspecto”, explicam. A segunda é a Cesp. A empresa tem 453 milhões de reais um pagamento do principal da dívida a vencer em 2013.
Se no caso de serviços públicos o impacto é pequeno, para as operadoras de rodovias ele é irrelevante. “Agora que o índice de inflação usado para ajustar anualmente as tarifas de pedágio deixou de ser o IGPM e passou a ser o IPCA, o repasse cambial é muito menor”, lembram os analistas. “A CCR tem uma parcela muito pequena de sua dívida denominada em dólares, portanto o impacto na alavancagem não seria relevante”, completam.
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