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Mercados mandam um sinal de alerta para a economia real

Economia global já dá sinais de enfraquecimento e mostra que foi atingida pela volatilidade

Bolsa de Nova York (Wall Street) (SXC.hu)

Bolsa de Nova York (Wall Street) (SXC.hu)

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Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2011 às 18h45.

São Paulo – A volatilidade do mercado financeiro já bate na porta da economia real. Ao redor do mundo os empresários e consumidores estão maios receosos e ressabiados sobre as perspectivas para os próximos anos. “Quedas dramáticas nos preços das ações nem sempre são um prognóstico de uma recessão, mas, na maioria das vezes, elas são”, alerta Steven Barrow, analista do Standard Bank.

Nesta quinta-feira, os investidores deram outra demonstração do quão estão pessimistas com as recentes evoluções sobre uma solução para evitar um calote da Grécia, o que poderia espraiar a crise para os bancos da região, e para tirar os Estados Unidos do marasmo e reativar a criação de empregos. Hoje a taxa de desemprego do país está em 9,1%. No Brasil, por exemplo, o nível de desocupação está em 6%.

A bolsa brasileira despencou 4,83% nesta quinta-feira, aos 53.280 pontos. Em Wall Street também houve pânico. O índice Dow Jones recuou 3,51%, o S&P 500 3,19% e o Nasdaq 100 mais 3,25%. O FTSEurfirst 300, principal índice das ações europeias, recuou 4,6% e atingiu o menor nível em 26 meses. O dólar comercial, após disparar para R$ 1,95 ao longo do dia, terminou cotado a R$ 1,90. E isso tudo aconteceu após o Banco Central americano (Federal Reserve) ter anunciado ontem mais uma medida para reativar a economia.

O problema é que o mercado esperava uma terceira rodada de ajuda ao estilo de um Afrouxamento Quantitativo 3 (QE3), ou seja, a impressão de mais dinheiro. Mas o que a equipe de Ben Bernanke revelou foi a chamada “operação twist”. O mecanismo visa a venda de 400 bilhões de dólares de títulos do governo de até 3 anos e a compra do mesmo montante em notas entre 6 a 30 anos. Apesar de não significar mais dinheiro na economia, a manobra foi desenhada para baixar os juros de longo prazo, o que ajudaria a reduzir também os cobrados em toda a economia, o que poderia dar um estímulo adicional para os consumidores e empresas. Mas a resposta não foi tão boa.


Mohamed El-Erian, presidente da Pacific Investment Management Co., dona do maior fundo de renda fixa do mundo, disse hoje que o mundo está à beira de uma nova crise financeira, com epicentro em dívidas soberanas. O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse que a economia global está numa “zona perigosa”, e a presidente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, disse que são grandes os “riscos de contração”.

Atividade enfraquece

Os efeitos da crise sobre a confiança do empresariado já podem ser sentidos em todo o mundo. A atividade manufatureira e do setor de serviços na Europa, que mostravam um leve crescimento, passaram a cair em setembro. Os resultados foram os piores desde julho de 2009. No Reino Unido, o indicador CBI mostrou um crescimento de 9% nos fabricantes que informaram pedidos mais fracos que o normal. 

Eles citaram “a volatilidade nos mercados financeiros e a desaceleração do crescimento em seus maiores parceiros de negócios”. Nem a China escapou da desaceleração. O indicador de atividade manufatureira do HSBC para agosto, também divulgado nesta quinta-feira, mostrou uma puxada na produção e também nas novas ordens.

O Brasil e a inflação

Por aqui, os economistas dizem que o governo brasileiro tem afugentado os investidores ao reduzir a visibilidade sobre a economia do país, tanto por medidas inesperadas como o corte da Selic, quanto por meio de impostos. O Banco Central, liderado por Alexandre Tombini, pegou todo mundo de surpresa ao tesourar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, que agora está em 12% ao ano.

A estratégia é dar um fôlego adicional para a economia em meio à crise financeira, conforme disse em sua nota publicada ao mercado. O Copom disse que o ambiente internacional irá contribuir para acelerar a moderação da atividade. “Dessa forma, no horizonte relevante, o balanço de riscos para a inflação se torna mais favorável. A propósito, também aponta nessa direção a revisão do cenário para a política fiscal”, diz um trecho do comunicado.

Mas o tiro pode sair pela culatra, principalmente com o efeito da dispara do dólar, que subiu 11% apenas nos últimos cinco dias. “As moedas emergentes tendem a sofrer no curtíssimo prazo, movimento similar ao ocorrido na eclosão financeira de 2008”, afirma Eduardo Velho, economista da Prosper, que não descarta um dólar R$ 2. A pedido de EXAME.com, o analista da Tendências Thiago Curado fez algumas simulações. Se o dólar médio no quarto trimestre for de R$ 2, a inflação oficial pularia para 7,21%.

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