Estagflação ameaça economia e mercado aposta em juros
Crescem as especulações de que o Brasil terá em breve que implementar políticas para conter a inflação. Investidores apostam em alta dos juros
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2012 às 08h19.
São Paulo/Brasília - A presidente Dilma Rousseff alertou o presidente americano, Barack Obama, em uma reunião em abril que a economia mundial corria risco de estagflação. Seria um efeito das tentativas de diferentes países de desvalorizarem suas moedas.
Dois meses depois, é a economia brasileira que enfrenta essa ameaça. Analistas preveem que a inflação vai voltar a acelerar pela primeira vez em nove meses enquanto o crescimento da economia fica cada vez mais fraco. Os negócios no mercado de juros futuros indicam que operadores esperam que o Banco Central reverta o ciclo atual e eleve os juros a partir de abril para conter a alta dos preços.
Crescem as especulações de que o Brasil terá em breve que implementar políticas para conter a inflação, em vez de estimular mais o crescimento, como outros países emergentes. A Índia manteve seu juro básico em 8 por cento esta semana. Apesar de a inflação brasileira nos 12 meses até maio ter desacelerado para 4,99 por cento, o menor nível em 20 meses, esse patamar se mantém acima da meta há 21 meses. Isso mesmo com o País tendo apresentado no primeiro trimestre a menor expansão desde 2009.
“A inflação está ficando mais resistente, mais rígida”, disse Maurício Rosal, economista-chefe da Raymond James em São Paulo, em entrevista por telefone. “É uma preocupação que tem estado em nossas mentes. Sob circunstâncias normais, em que as pessoas estão dispostas a aceitar a estratégia do BC, teríamos visto a inflação caindo notadamente neste estágio do ciclo econômico.”
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 subiu 0,29 por cento no mês até meados de junho, com a variação em 12 meses aumentando de 5,05 por cento no mês anterior para 5,1 por cento, de acordo com a estimativa mediana de uma pesquisa da Bloomberg com 42 economistas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o relatório do IPCA-15 amanhã.
Perspectiva de crescimento
A economia se expandiu 0,2 por cento no primeiro trimestre, menos da metade do ritmo previsto por analistas sondados pela Bloomberg. O resultado levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a abandonar sua meta de crescimento de 4,5 por cento para este ano. Mantega disse que o governo ficaria satisfeito se o crescimento de 2012 superasse a taxa de 2,7 por cento apurada no ano passado, que marcou o segundo pior desempenho desde 2003.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, baixou o juro básico em 4 pontos percentuais desde agosto no maior corte feito entre o Grupo dos 20. A taxa Selic caiu para o menor patamar histórico de 8,5 por cento para estimular o crescimento. A inflação vai recuar para a meta mesmo com a aceleração do crescimento econômico no segundo semestre, disse Tombini ontem em São Paulo. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
"Alívio temporário"
“Dado o fato de que a desaceleração é mais forte do que a esperada, causa estranheza o patamar em que a inflação se encontra”, disse Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim CTVM Ltda, em entrevista por telefone de São Paulo. “Ela deveria estar abaixo do centro da meta. As causas principais da desaceleração já se esgotaram. A nossa leitura é que vivemos um alívio temporário da inflação, que voltará a se acelerar.”
Dilma disse em 9 de abril que o risco de estagflação está aumentando porque alguns países estão depreciando suas moedas “artificialmente” e praticando contenção fiscal excessiva em um momento em que os preços do petróleo estão avançando.
Em discursos mais recentes, a presidente deixou claro que está preocupada com a situação na Europa e que o Brasil tem instrumentos para enfrentar a crise na Europa, dado que o País é uma das nações com melhor desempenho fiscal em todo do mundo, disse a assessorial de imprensa da Presidência, em nota por e- mail.
"Menos preocupante"
Marcelo Salomon, co-chefe de economia para América Latina do Barclays Plc, disse que operadores estão colocando no preço o risco de um aprofundamento na crise econômica mundial e a possibilidade de o governo oferecer novas reduções tributárias, incluindo subsídios para energia, que podem levar a uma inflação menor.
“A situação inflacionária é menos preocupante do que já foi”, disse Salomon em entrevista por telefone de Nova York. “É prematuro falar de estagflação.”
A taxa implícita de inflação, medida pela diferença de rendimentos entre as Notas do Tesouro Nacional série B com vencimento em agosto de 2014 e contratos de juros futuros de prazo similar, caiu 64 pontos-base este ano, para 4,69 pontos percentuais, perto do menor nível de três anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Estímulos à economia
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2014 diminuiu dois pontos-base ontem para 8,03 por cento.
O governo também cortou impostos sobre o consumo e sobre produtos industrializados, além de aumentar o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para estimular o crescimento.
“Não sei como mais estímulos à economia vão melhorar a indústria, que sofre com os custos salariais”, disse Siobham Morden, chefe de estratégia para renda fixa para a América Latina na Jefferies Group Inc., em entrevista de Nova York. “Ainda não houve um rebalanceamento do mix de políticas para enfrentar o cenário desfavorável da combinação crescimento- inflação.”
São Paulo/Brasília - A presidente Dilma Rousseff alertou o presidente americano, Barack Obama, em uma reunião em abril que a economia mundial corria risco de estagflação. Seria um efeito das tentativas de diferentes países de desvalorizarem suas moedas.
Dois meses depois, é a economia brasileira que enfrenta essa ameaça. Analistas preveem que a inflação vai voltar a acelerar pela primeira vez em nove meses enquanto o crescimento da economia fica cada vez mais fraco. Os negócios no mercado de juros futuros indicam que operadores esperam que o Banco Central reverta o ciclo atual e eleve os juros a partir de abril para conter a alta dos preços.
Crescem as especulações de que o Brasil terá em breve que implementar políticas para conter a inflação, em vez de estimular mais o crescimento, como outros países emergentes. A Índia manteve seu juro básico em 8 por cento esta semana. Apesar de a inflação brasileira nos 12 meses até maio ter desacelerado para 4,99 por cento, o menor nível em 20 meses, esse patamar se mantém acima da meta há 21 meses. Isso mesmo com o País tendo apresentado no primeiro trimestre a menor expansão desde 2009.
“A inflação está ficando mais resistente, mais rígida”, disse Maurício Rosal, economista-chefe da Raymond James em São Paulo, em entrevista por telefone. “É uma preocupação que tem estado em nossas mentes. Sob circunstâncias normais, em que as pessoas estão dispostas a aceitar a estratégia do BC, teríamos visto a inflação caindo notadamente neste estágio do ciclo econômico.”
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 subiu 0,29 por cento no mês até meados de junho, com a variação em 12 meses aumentando de 5,05 por cento no mês anterior para 5,1 por cento, de acordo com a estimativa mediana de uma pesquisa da Bloomberg com 42 economistas. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulga o relatório do IPCA-15 amanhã.
Perspectiva de crescimento
A economia se expandiu 0,2 por cento no primeiro trimestre, menos da metade do ritmo previsto por analistas sondados pela Bloomberg. O resultado levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a abandonar sua meta de crescimento de 4,5 por cento para este ano. Mantega disse que o governo ficaria satisfeito se o crescimento de 2012 superasse a taxa de 2,7 por cento apurada no ano passado, que marcou o segundo pior desempenho desde 2003.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, baixou o juro básico em 4 pontos percentuais desde agosto no maior corte feito entre o Grupo dos 20. A taxa Selic caiu para o menor patamar histórico de 8,5 por cento para estimular o crescimento. A inflação vai recuar para a meta mesmo com a aceleração do crescimento econômico no segundo semestre, disse Tombini ontem em São Paulo. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
"Alívio temporário"
“Dado o fato de que a desaceleração é mais forte do que a esperada, causa estranheza o patamar em que a inflação se encontra”, disse Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim CTVM Ltda, em entrevista por telefone de São Paulo. “Ela deveria estar abaixo do centro da meta. As causas principais da desaceleração já se esgotaram. A nossa leitura é que vivemos um alívio temporário da inflação, que voltará a se acelerar.”
Dilma disse em 9 de abril que o risco de estagflação está aumentando porque alguns países estão depreciando suas moedas “artificialmente” e praticando contenção fiscal excessiva em um momento em que os preços do petróleo estão avançando.
Em discursos mais recentes, a presidente deixou claro que está preocupada com a situação na Europa e que o Brasil tem instrumentos para enfrentar a crise na Europa, dado que o País é uma das nações com melhor desempenho fiscal em todo do mundo, disse a assessorial de imprensa da Presidência, em nota por e- mail.
"Menos preocupante"
Marcelo Salomon, co-chefe de economia para América Latina do Barclays Plc, disse que operadores estão colocando no preço o risco de um aprofundamento na crise econômica mundial e a possibilidade de o governo oferecer novas reduções tributárias, incluindo subsídios para energia, que podem levar a uma inflação menor.
“A situação inflacionária é menos preocupante do que já foi”, disse Salomon em entrevista por telefone de Nova York. “É prematuro falar de estagflação.”
A taxa implícita de inflação, medida pela diferença de rendimentos entre as Notas do Tesouro Nacional série B com vencimento em agosto de 2014 e contratos de juros futuros de prazo similar, caiu 64 pontos-base este ano, para 4,69 pontos percentuais, perto do menor nível de três anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Estímulos à economia
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2014 diminuiu dois pontos-base ontem para 8,03 por cento.
O governo também cortou impostos sobre o consumo e sobre produtos industrializados, além de aumentar o financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para estimular o crescimento.
“Não sei como mais estímulos à economia vão melhorar a indústria, que sofre com os custos salariais”, disse Siobham Morden, chefe de estratégia para renda fixa para a América Latina na Jefferies Group Inc., em entrevista de Nova York. “Ainda não houve um rebalanceamento do mix de políticas para enfrentar o cenário desfavorável da combinação crescimento- inflação.”