Em 20 anos de real, Ibovespa perde para juro, ganha do dólar
Quem deixou o dinheiro na renda fixa após o Plano Real ganhou mais do que os que apostaram nas ações do Índice Bovespa em termos reais
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2014 às 14h42.
São paulo - Quem deixou o dinheiro na renda fixa após o Plano Real, que pôs fim à hiperinflação no Brasil e completa 20 anos no próximo dia 1º de julho, ganhou mais do que os que apostaram nas ações do Índice Bovespa em termos reais, ou seja, acima da inflação .
Levantamento feito pela Economática mostra que, de julho de 1994 para cá, até dia 26 de junho, o juro do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, juro cobrado entre bancos e referencial da renda fixa) acumula 631,70% de variação acima da inflação do IPCA, calculado até 31 de maio deste ano. Já o Índice Bovespa, no mesmo período, subiu 221,11% acima da inflação.
A poupança rendeu no período 103,20% e o ouro, 69,03% acima da inflação. Já o dólar oficial, o Ptax, média calculada pelo Banco Central (BC) ficou 51,97% abaixo da inflação do IPCA no período.
Aplicações no real | |
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Variação acima do IPCA | |
Aplicação | % |
CDI | 631,7 |
Ibovespa | 221,11 |
Poupança | 103,2 |
Ouro | 69,03 |
Dólar Ptax Venda | -51,97 |
Juros elevados
Os dados da Economática mostram o efeito dos juros altos no Brasil sobre as aplicações financeiras.
Os juros seguiram altos até o fim de 1998 como forma de evitar a volta da indexação da economia e para atrair capitais externos, que seguraram o dólar e financiaram as importações e o déficit público e ajudaram a segurar os preços enquanto se fazia o ajuste das contas de Estados, municípios e estatais.
Com a crise da Ásia em 1997, da Rússia em 1998 e do Brasil em 1999, o financiamento externo ficou mais difícil e o Brasil teve de adotar um equilíbrio fiscal mais rígido, com a criação do superávit primário, que permitiu reduzir os juros e deu mais estabilidade ao país.
Mas, mesmo com a queda depois da flutuação do real em 1999, as taxas seguiram acima da inflação para controlar os preços, apesar da queda nominal das taxas, de 23% em 1999 para 11% hoje.
Tentativas de forçar a queda artificialmente dos juros pelo governo Dilma Rousseff, para 7,25% em 2012, tiveram vida curta pois os fatores estruturais da economia levaram à volta da inflação e à necessidade de nova puxada na Selic.
Desconfiança na política econômica do governo, descompasso entre consumo e a produção de bens acentuando a inflação e incerteza com o futuro mantém o juro elevado no Brasil.
Crises e intervenção
Já a bolsa teve um período de ouro durante o governo Lula, mas sofreu com a crise mundial de 2008 e depois com a intervenção do governo em empresas e setores importantes do Ibovespa, como a Petrobras e o setor elétrico e, mais recentemente, com as incertezas em relação à política econômica do próximo governo.
O Ibovespa tem desempenho inferior ao da Bolsa do Peru e da bolsa eletrônica Nasdaq, mas supera o Dow Jones e os índices das bolsas do México e do Chile (ver abaixo)
O levantamento não significa também que todo investimento em bolsa perdeu para os juros. Várias empresas conseguiram superar o Ibovespa e deram mais retorno aos investidores do que o juro do CDI.
No caso do dólar, a perda reflete o próprio desgaste da economia americana de 2008 para cá e os juros baixos nos Estados Unidos, que fortaleceram as moedas de países emergentes como o Brasil, onde os juros também são maiores e atraem mais investimentos.
Plano Real, 20 anos | ||
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Retorno ajustado pela inflação de cada pais | ||
Indice | País | de 30/jun/94 até 26/jun/14 |
IGBVL | Peru | 617 |
Nasdaq ? Composite | USA | 285,89 |
Ibovespa | Brasil | 221,11 |
Indice Prec Y Cotiz | México | 218,66 |
Dow Jones Index | USA | 189,11 |
S&P 500 | USA | 174,07 |
Ipsa | Chile | 109,14 |
Merval | Argentina | 92,7 |