Dólar fecha a R$ 3,98 e Bolsa retoma os 108 mil após fala do Fed; entenda
Moeda norte-americana e Ibovespa mudaram de direção quando Powell sinalizou que não há intenção de mudar política de juros no momento
Tais Laporta
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 17h25.
Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 17h57.
São Paulo - O terceiro corte nas taxas de juros dos Estados Unidos induziu a bolsa brasileira e o dólar a mudarem de direção nesta quarta-feira (30), após ruídos abafados pela fala do presidente do Federal Reserve (o BC norte-americano), Jerome Powell.
O principal índice de ações do país, o Ibovespa , subiu 0,79%, recuperando os 108.407 mil pontos. Após reverter as perdas ao longo do dia, a bolsa bateu um novo recorde de fechamento. Os índices dos Estados Unidos também avançaram, com oS&P 500superando seu recorde pela segunda vez em três sessões.
Já o dólar fechou o dia negociado em 3,9873 reais, em baixa de 0,39%, com os ganhos anulados ao final do dia. Foi o menor valor de encerramento desde o dia 13 de agosto, quando a moeda fechou em 3,9669 reais.
Entenda o que mexeu com os mercados
Como já se esperava, o Fed promoveu um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas, levando os juros para a faixa entre 1,5% e 1,75%. Além do estímulo à economia, a redução tem como efeito combater os estragos de uma prolongada guerra comercial entre Estados Unidos e China.
Nos minutos seguintes ao anúncio do Fed, a moeda dos Estados Unidos ganhou força frente ao euro e a emergentes como o real. Mas logo mostrou um comportamento instável diante de ruídos sobre a mensagem do órgão - assim como na reunião de setembro.
Tudo mudou durante a coletiva com o presidente do órgão, Jerome Powell. O aviso foi mais claro: o Fed não pretende mudar sua política de juros tão cedo. Foi o gatilho para a moeda dos EUA passar de 4,02 reais para 3,98 reais em poucos minutos.
Segundo o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, o dólar reverteu a alta após Powell dizer que seria necessário uma inflação muito acentuada para pressionar o Fed a voltar a elevar os juros. “A citação foi a razão pela qual o dólar apagou os ganhos e os Treasuries [títulos do Tesouro norte-americano] mudaram de direção”, comenta.
O especialista em câmbio e professor da FGV Emerson Marçal acredita que, com a reforma da Previdência concluída e o risco-país (CDS) em baixa, a tendência do dólar é de queda na ausência de más notícias do cenário externo.
A moeda vinha operando acima de 4,15 reais há cerca de 15 dias. “A cotação da moeda estava um pouco exagerada, já que o patamar de equilíbrio no momento é de pouco abaixo de 4 reais”, diz.
Também esteve no radar um relatório do Departamento de Comércio dos EUA mostrou que o crescimento econômico norte-americano desacelerou menos do que o esperado no terceiro trimestre, uma vez que a queda do investimento foi compensada por gastos do consumidor e recuperação das exportações, aliviando ainda mais os temores de uma recessão.
Enquanto isso, no Brasil...
Além da decisão do Copom sobre os juros no Brasil após o fechamento da sessão, o mercado segue acompanhando as reformas propostas pelo governo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a reforma tributária é a atual prioridade do Congresso e que a reforma administrativa deve ficar apenas para o próximo ano.
Na esfera política, investidores mantiveram a atenção em torno da notícia que um dos suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco entrou no condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa no Rio de Janeiro dizendo que iria à casa do então deputado, mas, na verdade, foi para a residência do ex-policial Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora.
"Embora tenham passado um pouco do padrão dos 'ruídos' anteriores, não se sabe se haverá algum respingo para o mercado", informou a Terra Investimentos em nota a clientes.
Destaques dos balanços
Magazine Luiza - Queridinha da bolsa, a ação da rede varejista (MGLU3) dominou as altas do dia após surpreender os mais otimistas com seus resultados do terceiro trimestre. A empresa divulgou resultados positivos nas vendas, com o comércio eletrônico dobrando de tamanho e um lucro líquido acima das expectativas. O papel avançou 6,97% na sessão, negociado a 44,02 reais. Com isso, acumula uma valorização superior a 90% no Ibovespa em 2019. Em outubro, a rede mostra uma escalada de quase 14%.
Cielo - Na lanterna do Ibovespa, a empresa de meios de pagamentos perdeu 3,65% na sessão. A empresa lucrou 358,1 milhões de reais no terceiro trimestre, uma queda de 51,7%. Ademais, apresentou queda na receita e margens apertadas “Cielo pode, sim, se reinventar. Mas o risco de comprar as ações apostando que, lá na frente, ganhará dinheiro com um negócio que ainda não possui é elevado demais”, destacou o analista da Nord Research, Bruce Barbosa, em relatório a clientes.
Santander - A ação unit do banco recuou 1,66%, mesmo após o banco ter divulgado resultados que superaram estimativas de analistas, impulsionados principalmente pelo segmento de varejo.
Multiplan - A administradora de shopping centers ficou dentre os destaques positivos, subindo 3,73%, após divulgar um lucro de 121,5 milhões de reais, acima da previsão média de analistas. O BTG Pactual manteve a recomendação de compra no papel, mesmo reconhecendo que o preço da ação não está barato.
Raia Drogasil - A rede de farmácias mostrou queda de 0,09%, mesmo após apresentar números acima do esperado, forte avanço das vendas com uma estratégia agressiva de preços e ganho de market share. O lucro líquido atingiu R$ 1,3 milhões, mas a margem bruta foi de 27,7%, uma queda de 0,6 ponto percentual. Para a Guide Investimentos, o valuation (valor atribuído à empresa) da Raia Drogasil já havia precificado grande parte da melhora operacional.