Crise ambiental avança durante a pandemia — e preocupa investidores
Desmatamento bate recorde no Amazônia, enquanto Estados Unidos aprova leis cada vez mais lenientes com a poluição
EXAME Hoje
Publicado em 24 de junho de 2020 às 07h01.
Última atualização em 24 de junho de 2020 às 09h25.
A relação entre a crise do coronavírus e a crise ambiental volta ao radar nesta quarta-feira. Reportagem do jornal britânico Financial Times mostra que o governo americano está aproveitando a pandemia para afrouxar regras ambientais definidas na gestão anterior, de Barack Obama.
Segundo o jornal, o presidente Donald Turmp ordenou que seus oficiais encontrem formas de acelerar a construção de rodovias e de gasodutos que poderiam ser barrados pela legislação. A Agência de Proteção Ambiental do país também teria aproveitado a quarentena para publicar regras menos severas para poluição do ar e da água e para o uso de combustíveis fósseis. A secretaria nacional de agricultura, por exemplo, convidou empresas a explorar óleo e gás em florestas nacionais. Carros também podem poluir mais depois de uma medida tomada em março.
Além da pandemia, há uma urgência no governo americano de revisar regras antes de um período especial de 60 dias úteis pré-eleição, quando mudanças podem ser mais facilmente derrubadas. Com a votação para Congresso e Executivo prevista para novembro, há uma urgência por mudanças.
O debate em curso nos Estados Unidos encontra eco em outros países, sobretudo no Brasil. Os números de desmatamento na floresta podem bater recorde em 2020 -- só em maio foram desmatados 829 km2. Ontem, um grupo de fundos de investimento que gerenciam ativos de 4 trilhões de dólares pediu ao Brasil que suspenda o desmatamento da floresta. Segundo eles, a perda da biodiversidade e o aumento nas emissões de carbono é um "risco sistêmico" que afeta seus portfólios de investimento.
A postura de Brasil e Estados Unidos difere da adotada na Europa no combate à pandemia. No fim de maio, a União Europeia aprovou um plano de incentivo econômico para usar as energias limpas como válvula de escape da crise. Reportagem da última edição da Exame mostra que a crise climática terá consequências maiores e mais duradouras que a pandemia do coronavírus. A emergência de saúde deveria ser um gatilho para a conscientização, no que concordam ambientalistas — e investidores.