CÂMBIO-Dólar segue viés global e volta a nível pré-Lehman
(Texto atualizado com mais informações, comentários de mercado e perspectivas para próximas semanas) Por Silvio Cascione SÃO PAULO, 30 de setembro (Reuters) - O dólar deslizou abaixo de 1,70 real nesta quinta-feira, terminando setembro em um patamar inédito desde o agravamento da crise global, há dois anos, com a quebra do banco Lehman Brothers. A […]
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2010 às 14h13.
(Texto atualizado com mais informações, comentários de
mercado e perspectivas para próximas semanas)
Por Silvio Cascione
SÃO PAULO, 30 de setembro (Reuters) - O dólar deslizou
abaixo de 1,70 real nesta quinta-feira, terminando setembro em
um patamar inédito desde o agravamento da crise global, há dois
anos, com a quebra do banco Lehman Brothers.
A moeda norte-americana caiu 0,76 por cento nesta
sessão, para 1,692 real --menor cotação de fechamento desde o
início de setembro de 2008.
No mês, o dólar acumulou baixa de 3,7 por cento. No ano, a
queda é de 2,9 por cento.
A valorização do real acompanha o movimento recente de
outras moedas no exterior, diante da expectativa de que o
Federal Reserve tenha que anunciar novas medidas de estímulo à
economia.
Nesta sessão, o mercado foi influenciado também pela
definição da última Ptax (taxa média de câmbio) do mês, usada
como referência para a liquidação de contratos futuros e
derivativos.
Na BM&FBovespa, investidores estrangeiros exibiam quase 16
bilhões de dólares em posições vendidas em dólar futuro e cupom
cambial (DDI). Essas posições se favorecem com a queda do
dólar.
A rotina de intervenção do governo permaneceu a mesma, com
dois leilões de compra de dólares pelo Banco Central, apesar da
expectativa no mercado por medidas adicionais caso a moeda
norte-americana caísse abaixo de 1,70 real.
OLHO NO EXTERIOR E NAS ELEIÇÕES
As compras do BC absorveram ao longo do mês o expressivo
fluxo de dólares ao país, direcionado principalmente à oferta
de ações da Petrobras e a uma série de emissões
corporativas.
A estratégia, no entanto, não conseguiu fazer frente à
tendência global de queda do dólar. Nas próximas semanas, o
quadro externo deve continuar no foco dos investidores.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) reúne-se em 8 e 9 de
outubro e deve discutir a intervenção de vários países dentro
do que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de "guerra
cambial". Em novembro, líderes do G20 encontram-se na Coreia do
Sul e podem abordar o tema.
No meio tempo, em 2 e 3 de novembro, o Fed tem uma reunião
de política monetária e pode aplicar novos estímulos à
economia.
Segundo o presidente do BC, Henrique Meirelles, novas
medidas dos EUA para aumentar a oferta monetária
intensificariam o fluxo para emergentes. "Não podemos
simplesmente permitir que as nossas economias sejam
desequilibradas enquanto permitimos que outras economias sejam
equilibradas", disse ao Reuters Insider[ID:nN30130264].
Além do cenário global, o mercado presta atenção às
eleições presidenciais para tentar medir o "timing" de uma
intervenção mais agressiva por parte do governo.
"Passando a eleição, se der (definição) no primeiro turno,
vamos ver se o governo vai aumentar IOF, ou (impor) prazos
mínimos de permanência de recursos no país. Não sei se tomaria
uma medida muito mais complexa", disse João Medeiros, diretor
de câmbio da corretora Pioneer.
A possibilidade de que o governo aumente a taxação sobre o
capital estrangeiro em ações e renda fixa foi apontada nos
últimos dias como um fator que acelerou a entrada de capitais
no país, em um movimento de antecipação.
Flavia Cattan-Naslausky, do RBS Securities, é cética sobre
o uso de mecanismos heterodoxos. "É difícil pensar que Dilma
(Rousseff, se eleita) elevaria o IOF como primeira política de
seu novo governo e perderia a confiança inicial do que
provavelmente será uma agenda pragmática", avaliou.
Os analistas Clyde Wardle e Marjorie Hernandez, em
relatório do HSBC, comentaram ainda que um eventual segundo
turno pode ampliar as incertezas.
(Edição de Daniela Machado)