Novos processos, com aproveitamento da palha e do bagaço da cana, podem aumentar a produtividade industrial do etanol em 45% (Shutterstock/Shutterstock)
A busca por processos mais eficientes na produção de biocombustíveis une cientistas do mundo inteiro. Brasileiros querem aumentar a produtividade dos canaviais e aproveitar mais partes da planta para gerar etanol, enquanto os europeus precisam usar a palha do trigo para o mesmo fim. A latitude e a matéria-prima são diferentes, mas o processo para extração do chamado etanol de segunda geração é basicamente o mesmo. E para falar do futuro da produção do biocombustível e discutir pesquisas e ações conjuntas, 35 pesquisadores brasileiros e europeus se reuniram no Rio de Janeiro (RJ) e em Campinas (SP) no início de julho. O ProEthanol2G Meeting, que começou em 2011 e vai até 2014 para a troca de conhecimento, envolve seis universidades brasileiras, um instituto de pesquisa e duas empresas, além de dez instituições europeias. O programa, que teve palestras das principais autoridades do assunto e demonstrações da tecnologia, é mais uma mostra de que o etanol de segunda geração é uma inovação estratégica.
Se realizada a expectativa, o uso da palha e do bagaço de cana permitirá que a produtividade industrial do etanol alcance 10 000 litros por hectare no Brasil, um aumento de até 45% em relação ao que é hoje. “A principal vantagem do bagaço está na logística, pois, como se trata de um coproduto da cana que já está disponível na usina, não há necessidade de implantação de infraestrutura de coleta e de transporte”, explica Juliana Vaz Bevilaqua, coordenadora de gestão tecnológica da Petrobras Biocombustível. Além do combustível em si, a biomassa também gera eletricidade.
A primeira unidade de produção de etanol de segunda geração está sendo construída no município de São Miguel dos Campos (AL) e, quando ficar pronta, no primeiro trimestre de 2014, será uma das primeiras do tipo no mundo, com capacidade de produção de 82 milhões de litros por safra. A tecnologia de conversão de biomassa utiliza um novo maquinário e enzimas para quebrar a celulose, o que cria outra cadeia de insumos que está se desenvolvendo no país. Só em Alagoas, serão gerados pelo menos 300 empregos diretos e permanentes.
A responsável por esse primeiro empreendimento no Brasil é a Bioflex Agroindustrial, do grupo GranBio, que estará focada no desenvolvimento genético e tecnológico para transformação de biomassa em químicos e energia. O projeto tem financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de 300 milhões de reais, e é um dos principais projetos da carteira de inovação do banco. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, destacou a iniciativa durante o Inova+, no último dia 1º, no Rio de Janeiro, como exemplo de inovação desejável pelo governo e a sociedade.
A usina de São Miguel dos Campos foi uma das primeiras beneficiadas pelo Programa de Apoio à Inovação dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (Paiss), programa criado em 2011 que já tem 2 bilhões de reais aprovados em financiamento. Já foram selecionados 35 projetos voltados para o desenvolvimento e produção de etanol celulósico (da palha) e de produtos químicos derivados da biomassa da cana.